sexta-feira, 26 de março de 2021

Recordar é Viver: "A Bola no Gol, a Chuteira no Alambrado"

 






Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Nos quase 25 anos correndo atrás da bola, vivenciamos grandes momentos. A maior parte foi no futebol amador e três temporadas no futebol profissional jogando no Garça. Aí sim foi “pauleira”. A diferença entre o futebol amador e profissional é tremenda. Mesmo assim, guardamos boas recordações, que dariam um bom livro.

Como integrante de um grupo de ex-jogadores de Adamantina, dias atrás nas postagens, veio a lembrança do zagueirão Claércio Lodetti, do Clube Atlético Penapolense, quando soube do seu falecimento. Com ele tivemos um lance, ao lado do grande Osmar Silvestre, que jamais vou esquecer: um gol e uma chuteira nos alambrados. Tudo ocorreu em meados de 1.977/78, num jogo entre Garça x Penapolense. Não me recordo se foi amistoso ou válido pelo campeonato.

Naquela época todo time tinha um `zagueirão´, no melhor estilo “xerifão”, um líder com a jaqueta 3, que não só chegava junto, como também jogava com a braçadeira de capitão para impor respeito. 

Se no Garça era o Pedroso, no Marília, o Britão, no C.A. Penapolense, era o Claércio. Eles eram respeitados pelo arbitragem. Por exemplo, o Pedroso, era conhecido e famoso no interior, a ponto dos juízes o chamarem pelo nome completo, José Pedroso. Por mais que chegava junto, era difícil ser penalizado com um cartão. No “Platzeck”, expulsão, nem pensar.

Quando joguei contra a Penapolense, o Claércio, já era meio “veterano”, porte físico avantajado,  comandava tudo na zaga. Praticamente gritava o jogo inteiro.

No jogo em Garça, o “Azulão” ganhou de 1 a 0, na pressão. No final, escanteio, chuveirinho na área, o Pedroso veio, subiu de cabeça, indo goleiro e bola para rede. O `juizão´ validou o gol sem pestanejar, correndo para o meio de campo.

No jogo de volta em Penápolis, o Garça vinha segurando o empate. Eu estava no banco de reservas, ao lado do Osmar Silvestre (foto), que gripado não aguentaria os 90 minutos. O Osmar passando Vick Vaporub  no nariz, e um lenço de pano,  para descongestionar. Até que ele comentou: “o lateral direito da Penapolense, só da carrinho estabanado. Se entrar no jogo, deixo ele no chão e cruzo para você marcar”. 

Por volta dos  30 minutos da etapa final, o técnico Juvenal Barbeiro, fez duas substituições, colocando eu e o Osmar. No primeiro lance, o Osmar pegou a bola próximo da linha de fundo. O lateral veio e carrinhou. Osmar tocou a bola por cima e pulou. O lateral foi parar na  pista de atletismo. Até que o Cláercio veio pronto para matar a jogada. O Osmar deu um toque no meio das pernas dele, que ficou estático, a bola sobrou para mim na marca do pênalti, toquei fácil no canto. O Cláercio gritou “Tá impedido”. O juizão falou: "`Seo´ Claércio, negativo, é gol, bola veio da linha de fundo e validou. Aproveita e vai buscar o seu lateral que tá caído na pista, fingindo de machucado”.

Pois bem, jogo correndo, o Penapolense na pressão buscando o empate. O Garça vai para o ataque, e fui lançado em profundidade, peguei a bola quase em cima da risca lateral. Adivinha quem vem no meu encalço? O Claércio veio e “deu o bote”, toquei a bola na frente e pulei. Só ouvi o barulho, a “pancada” acertou meu pé, e a chuteira voou e enroscou no alambrado no “Tenente Carriço”.

Acho que no futebol de hoje, seria lance para cartão vermelho, ao menos o amarelo. Rapidamente o Claércio levanta e, antes do `juizão´ chegar, correu, pegou a chuteira no alambrado, puxou o cadarço e o arrebentou. O `juizão´ chegou perto do lance, eu caído com o tornozelo doendo, o Claércio falou: “O garoto aí não sabe nem amarrar a chuteira direito, por isto ela saiu do pé dele”. O `juizão´ pegou a chuteira e o cadarço  das mãos do Cláercio e deu uma dura, para eu fazer a amarração direito. Fiquei estarrecido. Pra variar não demorou muito o `juizão´ marcou dois pênaltis, a Penapolense virou o placar 2 a 1. Eu terminei o jogo com a chuteira num pé desamarrada. O Garça não vivia um bom momento financeiro, e não tinha outra chuteira, ou ao menos um cadarço para trocar. 

Após o apito final, o Claércio, educadamente, cumprimentava todos os jogadores. Ao me abraçar disse: “Preciso garantir o bicho da rapaziada e o leite das crianças, por isto dou umas chegadinhas de vez em quando. Uma boa viagem de retorno para Garça, a terra do café `bão´”.

Veja uma das formações do Clube Atlético Penapolense, da temporada de 1.973. em pé da esquerda para direita: Baiano, Marcos Moreira, Selmi, Marcão, Cláercio e Macarrão; agachados: Zezo, Pingo, Jesus, Nei e Eliseu.

O Claércio começou jogando na várzea em São Paulo. No profissional defendeu o União Bandeirantes do Paraná, a Esportiva de Araçatuba, e o seu querido C.A.  Penapolense, time onde fez história e virou ídolo. Tinha um nome respeitado no futebol do interior paulista. 

Claércio faleceu no dia 27 de janeiro de 1.991, com apenas  45 anos de idade. De outro lado, o Osmar Silvestre, se estivesse vivo, estaria com 73 anos, completados na ultima quinta feira. Entretanto, faleceu muito jovem, no dia 30/10/2.001, aos 52 anos de idade.