sábado, 28 de janeiro de 2012

Válter Palmital: um esportista que marcou época em Garça

Por Wanderley 'Tico' Cassolla


Corria o Ano de 1976.  No futebol amador as disputas estavam pra lá de acirradas. Três times “brigavam” pelo título: a Casa Ipiranga, comandada por Pedro e Gerson (campeã do ano de 74). O Frigus, do dirigente Valdemar “Mazinho” Machado (campeão em 75), lutava pelo “bi”. E o Ipiranga, do presidente Paulo Renato Alves de Souza, nada de títulos. A tradicional equipe vermelha e branca, fundada em 21/03/60, até então não sabia o que era ser campeã. Dentre os vários apelidos que recebeu, um chamava atenção: “Corinthians de Garça” numa alusão time da capital, que estava há muito tempo sem ganhar nada.
Depois de dois turnos disputadíssimos ficaram para a decisão Frigus x Ipiranga. E a grande dúvida surgiu: quem seria o árbitro? Na época os dois principais eram o João Luiz Zancopé (pai do Cássio Zancopé) e Valter Palmital Garcia. Este tinha um inconveniente: era um alto funcionário da empresa Frigus. A CCE, comandada pelo João Truzzi, pensava em trazer um juiz de fora.
Entretanto na reunião da entidade foi definido o nome para apitar o jogo: Valter Palmital, contando com o aval do Ipiranga. No dia seguinte, dentro do programa “Bola no Gol”, da então Rádio Clube de Garça, o eclético João Alexandre Colombani, pontualmente as 11h30, anunciou como principal manchete: “definido o árbitro da final do amador: Válter Bosquê Garcia”. A partir daí foi aquele alvoroço, principalmente  nas rodas esportivas que aconteciam à noite em frente ao Cine São Miguel, onde a boleirada se reunia para discutir futebol. 
Na época este articulista jogava no Ipiranga. Lembro-me que o jogo estava marcado  para  começar às quatro da tarde de um domingo. Nos vestiários o assunto era o “juizão”. O Palmital chegou com sua caminhonete Ford branca, faltando 10 minutos. Chamou seus bandeirinhas e foi direto pro gramado.
Reuniu todos os jogadores para o centro do gramado, chamando os dois capitães para o famoso “toss” (moeda para a escolha do cara ou coroa), e falou resoluto: “Hoje eu tenho aqui 22 amigos reunidos: de um lado os de camisa  azul (Frigus), de outro os vermelhos (Ipiranga). Não posso errar de jeito nenhum. E vocês como meus amigos colaborem comigo e vamos pro jogo”.
Com o “Platzeck” lotado, o jogo foi emocionante. No tempo normal 0 a 0. Na prorrogação, com um gol de cabeça de Mauro Val, o Ipiranga se sagrou campeão pela primeira vez, quebrando um jejum de 16 anos.
O Valter Palmital deu um show de arbitragem, recebeu os cumprimentos dos jogadores, dirigentes da CCE, e até mesmo da alta cúpula do Frigus que fizeram questão de adentrar ao gramado para cumprimentá-lo. Uma decisão que entrou para a história de nosso amadorismo.
No início desta semana recebemos a notícia de seu falecimento, lá na cidade de Araraquara. Porém, temos que enaltecer que o Valter Palmital foi uma grande esportista e como atleta foi um “bão” goleiro. Jogou no gol do Garça e chegou a treinar no São Paulo. Apitou jogos regionais e futebol de salão. Hoje recordamos o América, do ano de 1956, um dos primeiros times que defendeu. Em pé da esquerda para direita: Valter Palmital, Antonio Macelloni, Silvio "Goiano" Peres, Sabirú, Mirim e Malange. Agachados: Luizinho Garrincha, Acácio, Hélio Correia, Jaiminho Peres e Pelega. Na outra foto, dos anos 70, quando o árbitro Valter Palmital inovou e trocou a tradicional camisa preta-e-branca por uma amarela: Geraldo Alves dos Santos (representante), Moisés Rodrigues Santana, Francisco Ferreira e Valter Palmital (à direita). Como bem frisou o Zancopé Simões “Zento”, competente jornalista da Rádio Bandeirantes-SP: “O Walter Palmital é parte da história do nosso futebol nos anos 60/70”.




Fonte: coluna 'Recordar é Viver' - jornal Comarca de Garça