sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Cássio L. Zancopé: um garcense na elite da arbitragem

Oeste x Palmeiras, Paulistão/2013



Um fanático praticamente de ciclismo

São Paulo x Guarani, Paulistão/12


Zancopé com o troféu pelo título inédito dos Jogos Regionais/2009, em Osvaldo Cruz, única edição vencida pelo voleibol masculino garcense

Em ação na decisão do Amador, Flamenxo x JP, em 2001
O garcense Cássio L. Zancopé, após muito esforço e dedicação, conseguiu se manter na elite da arbitragem do futebol estadual. Professor de educação física, 37, Zancopé participou recentemente de uma dura pré-temporada e já começou a atuar normalmente nos jogos da Série A-1, inclusive estando escalado como adicional para hoje à noite (26) em São Carlos, no confronto entre Oeste e São Caetano, que será arbitrado, coincidentemente, por outro garcense, Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza, que reside na capital. Ele concedeu ao `Comarca de Garça´ uma entrevista, logo após trabalhar no confronto onde o Palmeiras bateu o Oeste de Itápolis. Confira o que ele disse:

JCG – Numa atividade extremamente desgastante e muito criticada, você tem se destacado com um árbitro calmo, sereno, sem gestos espalhafatosos, enfim sempre com atuação muito discreta. Você acha que o seu estilo tem relação com o fato de você ter alcançado a concorrida elite da arbitragem paulista?

Zancopé - Provavelmente. Atualmente o perfil de um árbitro de alto nível deve seguir essa tendência. Não há mais espaço para autoritarismo e arrogância na arbitragem do futebol, fato combatido a várias temporadas pela Comissão de Arbitragem da FPF. Por isso, São Paulo tem uma arbitragem diferenciada e muito elogiada no país.

JCG – A pré-temporada da arbitragem mereceu atenção especial da FPF e foi até matéria do Globo Esporte. A `pegada´ foi aquela mostrada mesmo ou os instrutores `aliviavam´ longe das camêras?

Zancopé - A FPF já realiza a pré-temporada há vários anos, mas nessa temporada houve uma intensa modificação na sistemática de treinamento. Trabalhamos em três turnos diários de treinos: físico, técnico, teórico e prático-orientado, este último, onde ocorriam as aplicações do que se treinava especificamente nas outras estações. Houve um cuidado muito grande da Comissão de Arbitragem para que os árbitros "experimentassem"  todas as possíveis ocorrências de uma partida de futebol. A exigência foi muito grande, sempre com o objetivo de não sermos surpreendidos nas partidas oficiais da Séria A1. 

JCG – Você é uma pessoa extremamente gentil e educada. Num meio, como o da arbitragem, os `medalhões´ agem de que forma quando estão somente vocês da arbitragem?

Zancopé - É um grupo bem homogêneo. São profissionais de várias áreas de atuação, mas com uma peculiaridade em comum: a paixão pela arbitragem. Então é gratificante você ter árbitros experientes como Wilson Luiz Seneme, Paulo Cesar de Oliveira, Emerson Augusto de Carvalho (assistente) entre outros, ao seu lado durante uma semana. A troca de informações, os conselhos, as histórias são sempre ímpares. São pessoas cativantes, que fora do campo de futebol tem vidas semelhantes "as nossas", mas o respeito e a humildade de todos eles é marca registrada.

JCG – No jogo entre Oeste e Palmeiras, em Rio Preto, você esteve trabalhando como árbitro adicional. Para `aguentar´ as reclamações que vem de fora, o que é mais importante, a paciência ou `se fazer de surdo´??? Você sentiu um clima pesado pelo lado do Palmeiras, devido à situação que atravessa?

Zancopé - Nós somos preparados para lidar com essa pressão. O que muitos não sabem é que essa pressão que vem "de fora", não nos atrapalha de forma nenhuma, pois faz parte da cultura do futebol brasileiro. O problema é a pressão que vem de atletas e comissões técnicas. Às vezes as equipes estão em situação delicada dentro do campeonato e tentam passar essa responsabilidade de resultados positivos para os árbitros, essa sim é que temos que ter paciência, mas sem abrir mão da nossa autoridade em campo. Como essa partida em especial se tratava do S E Palmeiras, o clima estava "diferente" mesmo. O Presidente recém-eleito estava presente em Rio Preto, os atletas estavam mais tensos, o técnico mais "fechado", mas tudo faz parte da grande história desse clube, que infelizmente foi rebaixado para a Série B do Brasileiro na temporada passada. Mas a partida ocorreu dentro da normalidade e o resultado foi legítimo.

JCG – Você conhece grandes jogadores e técnicos bem famosos. No quesito `educação´, quem te chamou a atenção? E quais os mais `chatos´?

Zancopé - É um assunto complicado de se tratar. Somos orientados a não pronunciar opiniões públicas de atletas e técnicos em virtude do ambiente em que atuamos, mas acredito que é igual a nossa vida particular, tem as pessoas mais fáceis de se lidar e aquelas que por um motivo o outro sempre nos deixam com o pé atrás. Mas as pessoas iriam se surpreender com atletas e técnicos renomados, tanto pelo lado positivo quanto negativo.

JCG – Jogo sem TV diminui a responsabilidade da arbitragem?

Zancopé - Não. Pra quem não sabe, todos os jogos da Série A1 são transmitidos ao vivo, todos. A Comissão de Arbitragem analisa todos, nem que seja posteriormente. Então a responsabilidade da equipe de arbitragem é sempre igual, ou seja, 100%. Nós somos treinados para utilizarmos a TV a nosso favor, aproveitando todos os ângulos que ela oferece aos telespectadores.

JCG – O que é mais difícil: chegar ou se manter na elite paulista? E para você alcançar o quadro nacional, que caminho deve ser seguido?

Zancopé - Se manter é bem mais difícil do que chegar. Estou a várias temporadas na pré-temporada da FPF e os rostos estão sempre mudando de um ano para outro, tem que se manter em um nível de competição elevado por muito tempo e ainda contando com a sorte.

JCG – Você pode ser considerado um entusiasta do esporte, pois pratica ciclismo, voleibol e voleibol de areia. De onde vem tanta energia?

Zancopé - Muitas pessoas me perguntam sobre isso também, mas não sei explicar. Sempre tive um interesse muito grande pelo esporte em geral. Experimentei várias modalidades até me identificar com algumas. Hoje não me imagino atuando em outra área. Praticamente tudo que consegui na minha vida eu devo ao esporte. Sempre fiz tudo isso com muita "intensidade", quer seja como atleta, técnico, árbitro e gestor esportivo. Se pudesse escrever uma nova história faria tudo exatamente igual. Você (Marco Antonio Morais) me acompanha desde que comecei, tem o mesmo amor por Garça, respeitamos o que fazemos e sabemos melhor do que ninguém que as emoções que o esporte nos proporciona são indescritíveis.

JCG – O que é mais difícil apitar, um jogo do amadorismo garcense ou o futebol profissional?

Zancopé - Sem dúvida uma partida do campeonato amador, por vários fatores. No futebol profissional os atletas "vivem" daquilo, são pagos para defenderem suas equipes, tem obrigações, diferentemente do esporte amador, onde os atletas tem amizade com você ou pelo menos te conhecem, só atuam de final de semana, na maioria das vezes desconhecem as regras básicas do futebol, etc. É uma comparação que ao meu ver não pode ser "medida", mesmo em se tratando de um jogo de futebol e as regras sendo as mesmas.

JCG – Para fechar o nosso `bate-bola´, uma pergunta nada convencional. O que a dona Toninha (mãe do árbitro Cássio L. Zancopé), comentou quando você se decidiu por essa espinhosa carreira?

Zancopé - Acho que ela já esperava, pois meu pai (o saudoso João Luiz Zancopé) também trilhou esse árduo caminho. Eu me Lembro de acompanhá-lo nas partidas no Frederico Platzeck nos grandes  tempos do amadorismo garcense. Talvez venha daí minha paixão pela arbitragem. Mas ela me incentiva e me acompanha bastante, principalmente quando os jogos são transmitidos pela TV. Mãe de árbitro sofre dobrado, mas ela está acostumada. 

Fonte: Jornal Comarca de Garça