Oeste x Palmeiras, Paulistão/2013 |
Um fanático praticamente de ciclismo |
São Paulo x Guarani, Paulistão/12 |
Zancopé com o troféu pelo título inédito dos Jogos Regionais/2009, em Osvaldo Cruz, única edição vencida pelo voleibol masculino garcense |
Em ação na decisão do Amador, Flamenxo x JP, em 2001 |
O
garcense Cássio L. Zancopé, após muito esforço e dedicação, conseguiu se manter
na elite da arbitragem do futebol estadual. Professor de educação física, 37,
Zancopé participou recentemente de uma dura pré-temporada e já começou a atuar
normalmente nos jogos da Série A-1, inclusive estando escalado como adicional
para hoje à noite (26) em São Carlos, no confronto entre Oeste e São Caetano, que
será arbitrado, coincidentemente, por outro garcense, Marcelo Aparecido Ribeiro
de Souza, que reside na capital. Ele concedeu ao `Comarca de Garça´ uma
entrevista, logo após trabalhar no confronto onde o Palmeiras bateu o Oeste de
Itápolis. Confira o que ele disse:
JCG – Numa atividade extremamente desgastante e muito criticada, você tem se
destacado com um árbitro calmo, sereno, sem gestos espalhafatosos, enfim sempre
com atuação muito discreta. Você acha que o seu estilo tem relação com o fato
de você ter alcançado a concorrida elite da arbitragem paulista?
Zancopé - Provavelmente. Atualmente o perfil de um
árbitro de alto nível deve seguir essa tendência. Não há mais espaço para
autoritarismo e arrogância na arbitragem do futebol, fato combatido a várias
temporadas pela Comissão de Arbitragem da FPF. Por isso, São Paulo tem uma
arbitragem diferenciada e muito elogiada no país.
JCG – A pré-temporada da arbitragem mereceu atenção especial da FPF e foi até
matéria do Globo Esporte. A `pegada´ foi aquela mostrada mesmo ou os
instrutores `aliviavam´ longe das camêras?
Zancopé - A FPF já realiza a pré-temporada há vários
anos, mas nessa temporada houve uma intensa modificação na sistemática de
treinamento. Trabalhamos em três turnos diários de treinos: físico, técnico, teórico
e prático-orientado, este último, onde ocorriam as aplicações do que se
treinava especificamente nas outras estações. Houve um cuidado muito grande da
Comissão de Arbitragem para que os árbitros "experimentassem" todas as possíveis ocorrências de uma partida
de futebol. A exigência foi muito grande, sempre com o objetivo de não sermos
surpreendidos nas partidas oficiais da Séria A1.
JCG – Você é uma pessoa extremamente gentil e educada. Num meio, como o da
arbitragem, os `medalhões´ agem de que forma quando estão somente vocês da
arbitragem?
Zancopé - É um grupo bem homogêneo. São profissionais
de várias áreas de atuação, mas com uma peculiaridade em comum: a paixão pela
arbitragem. Então é gratificante você ter árbitros experientes como Wilson Luiz
Seneme, Paulo Cesar de Oliveira, Emerson Augusto de Carvalho (assistente) entre
outros, ao seu lado durante uma semana. A troca de informações, os conselhos,
as histórias são sempre ímpares. São pessoas cativantes, que fora do campo de
futebol tem vidas semelhantes "as nossas", mas o respeito e a
humildade de todos eles é marca registrada.
JCG – No jogo entre Oeste e Palmeiras, em Rio Preto, você esteve trabalhando
como árbitro adicional. Para `aguentar´ as reclamações que vem de fora, o que é
mais importante, a paciência ou `se fazer de surdo´??? Você sentiu um clima
pesado pelo lado do Palmeiras, devido à situação que atravessa?
Zancopé - Nós somos preparados para lidar com essa
pressão. O que muitos não sabem é que essa pressão que vem "de fora",
não nos atrapalha de forma nenhuma, pois faz parte da cultura do futebol
brasileiro. O problema é a pressão que vem de atletas e comissões técnicas. Às
vezes as equipes estão em situação delicada dentro do campeonato e tentam
passar essa responsabilidade de resultados positivos para os árbitros, essa sim
é que temos que ter paciência, mas sem abrir mão da nossa autoridade em campo.
Como essa partida em especial se tratava do S E Palmeiras, o clima estava
"diferente" mesmo. O Presidente recém-eleito estava presente em Rio
Preto, os atletas estavam mais tensos, o técnico mais "fechado", mas
tudo faz parte da grande história desse clube, que infelizmente foi rebaixado
para a Série B do Brasileiro na temporada passada. Mas a partida ocorreu dentro
da normalidade e o resultado foi legítimo.
JCG – Você conhece grandes jogadores e técnicos bem famosos. No quesito
`educação´, quem te chamou a atenção? E quais os mais `chatos´?
Zancopé - É um assunto complicado de se tratar. Somos
orientados a não pronunciar opiniões públicas de atletas e técnicos em virtude
do ambiente em que atuamos, mas acredito que é igual a nossa vida particular,
tem as pessoas mais fáceis de se lidar e aquelas que por um motivo o outro
sempre nos deixam com o pé atrás. Mas as pessoas iriam se surpreender com
atletas e técnicos renomados, tanto pelo lado positivo quanto negativo.
JCG – Jogo sem TV diminui a responsabilidade da arbitragem?
Zancopé - Não. Pra quem não sabe, todos os jogos da
Série A1 são transmitidos ao vivo, todos. A Comissão de Arbitragem analisa
todos, nem que seja posteriormente. Então a responsabilidade da equipe de
arbitragem é sempre igual, ou seja, 100%. Nós somos treinados para utilizarmos
a TV a nosso favor, aproveitando todos os ângulos que ela oferece aos telespectadores.
JCG – O que é mais difícil: chegar ou se manter na elite paulista? E para você
alcançar o quadro nacional, que caminho deve ser seguido?
Zancopé - Se manter é bem mais difícil do que chegar.
Estou a várias temporadas na pré-temporada da FPF e os rostos estão sempre
mudando de um ano para outro, tem que se manter em um nível de competição
elevado por muito tempo e ainda contando com a sorte.
JCG – Você pode ser considerado um entusiasta do esporte, pois pratica
ciclismo, voleibol e voleibol de areia. De onde vem tanta energia?
Zancopé - Muitas pessoas me perguntam sobre isso
também, mas não sei explicar. Sempre tive um interesse muito grande pelo
esporte em geral. Experimentei várias modalidades até me identificar com
algumas. Hoje não me imagino atuando em outra área. Praticamente tudo que
consegui na minha vida eu devo ao esporte. Sempre fiz tudo isso com muita
"intensidade", quer seja como atleta, técnico, árbitro e gestor
esportivo. Se pudesse escrever uma nova história faria tudo exatamente igual.
Você (Marco Antonio Morais) me acompanha desde que comecei, tem o mesmo amor
por Garça, respeitamos o que fazemos e sabemos melhor do que ninguém que as
emoções que o esporte nos proporciona são indescritíveis.
JCG – O que é mais difícil apitar, um jogo do amadorismo garcense ou o futebol
profissional?
Zancopé - Sem dúvida uma partida do campeonato amador,
por vários fatores. No futebol profissional os atletas "vivem"
daquilo, são pagos para defenderem suas equipes, tem obrigações, diferentemente
do esporte amador, onde os atletas tem amizade com você ou pelo menos te
conhecem, só atuam de final de semana, na maioria das vezes desconhecem as
regras básicas do futebol, etc. É uma comparação que ao meu ver não pode ser
"medida", mesmo em se tratando de um jogo de futebol e as regras
sendo as mesmas.
JCG – Para fechar o nosso `bate-bola´, uma pergunta nada convencional. O que a
dona Toninha (mãe do árbitro Cássio L. Zancopé), comentou quando você se
decidiu por essa espinhosa carreira?
Zancopé - Acho que ela já esperava, pois meu pai (o
saudoso João Luiz Zancopé) também trilhou esse árduo caminho. Eu me Lembro de
acompanhá-lo nas partidas no Frederico Platzeck nos grandes tempos do
amadorismo garcense. Talvez venha daí minha paixão pela arbitragem. Mas ela me
incentiva e me acompanha bastante, principalmente quando os jogos são
transmitidos pela TV. Mãe de árbitro sofre dobrado, mas ela está acostumada.
Fonte: Jornal Comarca de Garça