sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Recordar é Viver: "Davi x Pedroso, eternos ídolos do Garça"







Por Wanderley `Tico´ Cassolla


De férias no trabalho, visitamos esta semana dois ex-craques do Garça: Dionísio David Pereira e José Pedroso. Ou simplesmente, o ponta esquerda David e o zagueirão Pedroso, que marcaram época no ótimo time do Garça dos anos 70.

Na última terça feira, reunimos uma galera da boa: o corintiano Júlio Cassola, Tonho Nêgo, ex-defensor do Garça, e Benedito de Oliveira, o “Ditinho”, o melhor treinador de goleiros do Brasil, e partimos para as vizinhas Marília e Vera Cruz. Olha que passamos uma tarde diferente, ouvindo histórias e causos dos ex-jogadores que fizeram história com a jaqueta do Azulão, numa das melhores fases do futebol profissional de Garça.

A primeira parada foi em Marília e o emocionante encontro com o Davi, hoje com 73 anos de idade. Apesar de adoentado, continua com aquela alegria de um jogador, que acaba de ganhar um campeonato e marcando o gol da vitória. A cabeça continua um pouco “embaralhada”, decorrente das boladas e traumas sofridos durante a carreira.

Antigamente as bolas eram bem mais pesadas que as atuais e quando chovia, o peso redobrava. Segundo a medicina, trata-se de uma patologia chamada encefalopatia traumática crônica. Ela acontece devido às pancadas recebidas repetidamente no crânio, comuns aos jogadores de futebol. 

Porém, alheio a isto, o David continua aquele brincalhão de sempre, que dentro do campo fez muitos laterais de “manés”, fora dos gramados, não tinha tristezas, era só alegria. Dentre os causos, Davi lembrou o dia que deu narrou o próprio gol. O jogo era de campeonato, aqui no “Platzeck”, domingo de casa cheia. O lance começa quando ele recebe a bola na intermediaria, domina, e parte para cima dos jogadores adversários driblando e narrando ao mesmo tempo. “Recebe David, domina, finta o lateral, vai pra linha de fundo, passa pelo beque central, deixa o quarto zagueiro sentado, entra na área, dribla o goleiro, fuzila e é gol. Goooooooool de David, do Garça, um golaço”. 

Depois saiu correndo, recebendo os abraços dos jogadores e aplausos dos torcedores. O `juizão´ não só confirmou o gol, como se aproximou dele e falou: “o camisa 11, apito jogo há muito tempo, nunca vi um jogador narrar o próprio gol. Quando encerrar a carreira já pode trabalhar na rádio, narrou o gol igualzinho ao Fiori Giglioti, da Rádio Bandeirantes”. 

O ponteiro Davi nasceu em Dois Córregos, começou a carreira no XV de Jaú, depois jogou na Ferroviária de Araraquara, Inter de Bebedouro, Rio Branco e Vasco de Americana, Portuguesa, Novo Horizontino, Cafelandense e Garça, onde encerrou a carreira. Outra habilidade do David era apitar igual o `juizão´, com o jogo correndo. Mas isto fica para uma próxima vez. 
  
No retorno, passamos em Vera Cruz e encontramos o Pedroso, sem sombras de dúvidas, o melhor “béque central” do nosso futebol profissional em todos os tempos. Próximo dos 78 anos de idade, o Pedrosão está gozando de boa saúde, algumas “dorzinhas” pelo corpo, típicas da idade e de quem foi um vigoroso atleta. 

Outro bom papo, com muitas histórias da vida de atleta. Desde o início, onde saiu direto da roça para ir jogar no Rio de Janeiro, na Portuguesa carioca. Apesar de ser aprovado no teste, não acostumou na cidade grande e voltou para a terra natal, na casa dos pais e trabalhando no meio rural.  Não demorou, apareceu dirigentes de Marília e o levaram para o São Bento, onde se profissionalizou. 

Jogou ainda na Prudentina (Presidente Prudente), União Bandeirantes (Paraná), Ferroviária de Assis, Guarani (Adamantina), e o Garça, em dez temporadas, onde marcou época. Recordando a carreira, Pedroso falou dos dois atacantes mais duro de marcar:  Geraldão `Manteiga´ e Rogerinho. 

"O Geraldão enfrentei quando ele jogou pela Epitaciana (Presidente Epitácio) e São Bento (Marilia), era forte, sabia proteger a bola e cabeceava bem. Já Rogerinho (joguei contra e a favor no Garça), era rápido e sabia fazer gols. Quanto mais você chegava junto e batia, mas ele partia pra cima. Usava de muita malandragem para enganar o adversário e também o juiz."
    

Veja os flagrantes do inesquecível encontro. E para matar saudade do torcedor, o Garça dos anos 70, com o David e Pedroso. Em pé da esquerda para direita: Plínio Dias, Ari Lima, Tuta, Waldir Peres, Pedroso e Dadi; agachados: Toninho Bodini, Rogerinho, Zé Carlos Coelho, Osmar Silvestre e Davi.