Por Wandeley `Tico´ Cassolla
Hoje a coluna fala um pouco
da sofrida história do Inocêncio Martins, o Rabudinho, um dos grandes jogadores
do varzeano garcense do passado. Nos anos 60/70, era um dos destaques nos
gramados, hoje está acolhido pelo Lar
dos Velhos “Frederico Ozanan” da cidade. Convivi um bom tempo com o Rabudinho
no futebol e também fomos colegas de trabalho.
Lembro que ele jogava como
meio campista. Tempos depois trabalhamos juntos numa instituição bancaria da
cidade, ele no caixa, eu de office-boy. Mas as boas lembranças foram vividas no
futebol. Dava gosto ver o Rabudinho jogar. Tinha um domínio espetacular da
bola. Um camisa 10, sem ser canhoto, com ótima visão das jogadas. O seu estilo
de jogo parecia com o Ademir da Guia, reconhecidamente como o melhor jogador da
história do Palmeiras. No linguajar do futebol, “Rabudo” é o jogador que tem
sorte para fazer jogadas de efeitos e marcar gols impossíveis.
Se fosse melhor visto e
observado, tinha tudo para ser um atleta profissional, pois futebol era seu dom
maior. Só que naqueles tempos era bem mais difícil do que hoje fazer carreira.
Em Garça o Rabudinho jogou nos principais times: Paulistinha, Mercado, Rebelo,
Serenata e o Ramos. Também se aventurou no suíço, defendendo o próprio time do
Bradesco e o famoso Expressinho RCG. Uma curiosidade: nunca errou um pênalti,
segundo o Bidiu, que jogou ao seu lado nos times citadinos.
Veja o Rabudinho no
time do Banco Induscomio. Em pé da esquerda para direita: Adecildo Alves,
Agamenon, Cabrini, Marião, Béia e Mazzola; agachados: Zé Bituca, Rabudinho,
Rogério Guanaes, Fontes e Sidney Sampaio.
Recordo que ele morava com
sua mãe em Vila Rebelo. Paralelamente ao futebol trabalhava numa agência
bancária no centro da cidade. Funcionário exemplar, com 10 ou mais anos de
casa, estava em ascensão na carreira. Ocupava o cargo de caixa, e tinha um bom
salário. Na época arrumou uma namorada, acho que era da região de Campinas. Ele
ia de trem visitá-la praticamente todos os finais de semanas, ou um sim, outro
não. O casamento sairia em breve, já estava comprando os móveis nas lojas da
cidade. Nos mostrava feliz os carnês de pagamento, daqueles com 12, 18 ou mais
prestações fixas.
Até que chegou o fatídico dia, uma segunda feira, quando foi
desligado (mandado embora) do banco. Costumeiramente, estávamos na improvisada
cozinha na tradicional resenha, tomando café, junto dos colegas Zezão Lourenço,
Kunio Matsuo, Mariscal, Herédia, Vicente, “Gordo” Moreti, Madeira, Titão
Manflin, Kako, Armando Leal, Tiãozinho, Maria Santina, Laércio, Roberto Garcia, Kleber, Mamede, Osias, e alguns outros (no flagrante parte da turma),
que a memória não lembra mais.
O gerente Laerte Otaviani, chamou o Inocêncio
até a mesa dele e deu a triste notícia “estava demitido, podia ir embora, e
aguardar para fazer o acerto no sindicato”. Era uma política do banco,
dispensar os funcionários mais antigos. Se nós, colegas de serviços, ficamos
abalados, como teria ficado ele? Chegou até o seu caixa, pegou alguns
documentos, entregou as chaves, ergueu as mãos e de cabeça baixa, deu um triste
tchau. Foi embora. Talvez o caminho mais longo de sua vida, até chegar na
calçada da Rua Barão do Rio Branco. Aquilo foi traumático por demais.
Para se
ter uma ideia do que isto lhe causou, o Inocêncio ficou por cerca de um ou dois
meses, vindo diariamente na agência, mas não entrava, ficava em frente numa
Loja de Discos (Musitape?) do sr. Luiz Sganzerla, olhando para o banco.
Praticamente passava o dia todo ali. Uma cena que sempre vem a minha memória:
nós trabalhando, e o Inocêncio lá fora em pé, fazendo não sei o quê.
Talvez
aguardando ser recontratado?. O que deveria passar em sua cabeça? Com a idade
avançando, já nem bola jogava mais, seu grande divertimento. Na mesma época,
outro duro golpe: perdeu a namorada (talvez a única, pois era um tanto quanto
tímido) e o casamento, com a casa praticamente montada. Tempos depois, foi a
vez de perder a sua querida mãe. Passou a morar sozinho na casa em Vila Rebelo.
Alguns amigos tentaram lhe
ajudar, oferecendo emprego, lembro do Mario Tomita e do Roberto Garcia, que
tinham escritório de contabilidade. O Inocêncio tentou trabalhar, mas com os
duros golpes sofridos, a saúde ficou abalada. Não reunia mais condições de
exercer uma atividade útil. Um irmão dele ainda o levou para Tupã. Não se
adaptou, retornou para Garça”. Sozinho, foi acolhido pelo Lar dos Idosos, onde
hoje vive feliz e é querido por todos.