sexta-feira, 26 de junho de 2020

Recordar é Viver: "O adeus ao dirigente José Luiz de Matos Gomes"









Por Wanderley `Tico´ Cassolla


Em meio a esta pandemia do Coronavius/Covid-19,  recebo mais uma triste notícia. O falecimento de um amigo de longa data, o sr. José Luiz Matos Gomes, corrido na última quarta-feira. O sr. José Luiz “Português" foi, durante muito tempo, dirigente do futebol amador. Natural de Espinçadeira, em Portugal, chegou ao Brasil ainda jovem, adorou a nossa terra, constituiu sua família e ficou para sempre. Era um apaixonado pelo futebol, torcedor fervoroso do Sporting de Lisboa. Aqui no Brasil admirava a Portuguesa de Desportos (a Lusa do Canindé) e o Vasco da Gama (o gigante da Colina). Tinha como ídolos, o moçambicano Eusébio, o “Pantera Negra”. Também adorava o futebol de Cristiano Ronaldo. Através do futebol matava saudades da terra natal.

Aqui em Garça, foi um dos mais atuantes dirigentes do futebol amador, com  passagens pelos bons times da Casa Ipiranga, dos amigos Pedro e Gérson, e no  Ipiranga, onde eu jogava, e passei a admirá-lo por sua conduta firme e correta. Dos muitos dirigentes que tive jogando bola, o “seo” José Luiz está entre os melhores. Era admirado e tinha o respeito dos jogadores.  E com um lance marcante: creio  que foi únicos dirigentes a anular um gol por aqui.

No final do ano passado estivemos fazendo uma visita em sua casa. Passamos momentos agradáveis, falando muito de futebol, evidentemente. Na ocasião lhe presentei com um chaveiro do Eusébio, o grande ídolo português, artilheiro da Copa de 1966 (foto). Ficamos de voltar. Inclusive o nosso primo Júlio Cassola, esteve passeando em Portugal, junto com a família, e trouxe uma bonita lembrança do Sporting para ele (foto). Com o início da pandemia não foi possível. Mas não faltará oportunidade para entregarmos aos seus familiares. 
   
GOL ANULADO: Se na Copa do Mundo de 1.982, realizada na Espanha, o sheik Al-Sabah, no jogo Kuwait x França, anulou um gol da França, em Garça já tivemos um lance igual. Tudo protagonizado pelo “seo” Zé Luiz, então dirigente do Ipiranga. O fato aconteceu no Campeonato Amador, no jogo Ipiranga x Paulista, prélio disputado no “Platzeck”, só não me recordo o ano.
Foi um domingo de manhã, às 10 horas e o já desclassificado Paulista estava numa jornada inspirada, dominou o Ipiranga, que não se encontrava em campo. O franco favorito Ipiranga jogava pelo empate, e o placar estava 2 a 2.

Até que num rápido contra-ataque o Paulista, o atacante Nardinho, recebe lançamento, a defesa do Ipiranga sai em linha, o bandeira não levanta o instrumento de trabalho, o Nardinho dribla o goleiro e marca o 3º gol do Paulista e o juizão corre pro centro do campo. Aí foi aquele “quiprocó” danado. Foi gol ou estava impedido? Jogadores discutindo com a arbitragem, outros comemorando, e o juizão no meio da roda. Os ânimos cada vez mais exaltados. A torcida querendo pular o alambrado. O tempo passando. Até que o “seo” José Luiz sai do banco de reservas e vai caminhando calmamente pelo gramado. Com os braços para trás consegue chegar perto do juiz, que estava no círculo central acuado. Se aproximou colocou a mão no peito do juiz e perguntou: “Posso te falar uma coisa? ” Sim, respondeu em resposta. Aí disse bem alto, para todo mundo ouvir: “Olha aqui no meu olho. O camisa 7, o Nardinho que fez o gol, estava em impedimento. Recebeu a bola sozinho na frente da defesa”. 

O juiz não pensou duas vezes: “Se o José Luiz falou é porque o Nardinho estava impedido mesmo. Eu conheço da honestidade dele. O gol está anulado”. Pode recomeçar o jogo lá na grande área. As reclamações pararam e o jogo teve continuidade. Mais alguns minutos, o apito final, e deu empate. Com este resultado o Ipiranga conseguiu a classificação para a fase seguinte do campeonato. Um lance inusitado que sempre comento nas rodas esportivas. Jamais esquecerei, pois eu era o centroavante ipiranguista.

 O “seo” José Luiz tinha 85 anos de idade. Era casado com a Dona Celeste, deixa os filhos Luiz Antonio, Francisco, Ana Celeste, Suzana e Lúcia, além dos netos Luis Felipe, Manuela e Angelina. E pode ter certeza minha amiga palmeirense Lúcia: o “seo” José Luiz “subiu” e foi falar de bola lá no céu. Mas ficará por todo o sempre incrustado no carinho, no coração, na ternura e na sinceridade do nosso cantinho da saudade.