sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Recordar é viver: "Maradona, adios `El Pibe de Oro´"

 








Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Depois de Pelé, para mim, Maradona é o melhor jogador de futebol. Como diz um velho ditado: “Falo e assino em baixo”. Diego Armando Maradona Franco, dos jogadores que vi atuar, só perde para o Rei Pelé. A nossa coluna procura sempre destacar jogadores e times de nossa cidade. Ou seja, valorizar o “produto” garcense.

Mas hoje vamos abrir uma exceção, e falar um pouco de um gênio da bola: Maradona, que dentro dos gramados “só não fez chover”. A bem da verdade para quem acompanhou a carreira dele, acho que “fez chover sim”, com seus lances e jogadas geniais, de pura magia, que encantaram o mundo da bola. 

Desde que acompanho o futebol, principalmente da década de 80, o argentino Diego, como lá é chamado, herdou a coroa do Rei Pelé, o nosso “Atleta do Século” e reinou em campo.  Muitos outros excepcionais jogadores do mundo inteiro também se destacaram, foram ídolos, craques da bola. A lista é grande se formos relacionar. Só que  o Maradona estava 1 ponto na frente de todos e 5 atrás do Pelé.  Para os fanáticos torcedores argentinos, “El Pibe de Oro”, está cima de todos, inclusive do Pelé. Respeitamos e muito a opinião deles.

Mas ver o Maradona em campo era de encher os olhos. Ele tratava a bola com carinho. Duvido que alguém viu ele dar um chutão ou um bicudo na bola. Era só toque de letras, o famoso “3 dedos”. Um verdadeiro malabarista. Enquanto os colegas e adversários “jogavam ao pé da letra”, Maradona parecia estar se divertindo, brincando de jogar bola. Tinha ótima colocação e posicionamento, com uma privilegiada visão periférica em campo. Maradona foi o típico jogador representante do futebol arte, dos grandes espetáculos que encantava os torcedores. Pertenceu a uma geração que a cada dia que passa, com a evolução tática e técnica do futebol, vai se perdendo no tempo. A força superando a técnica.

Como bem disse o nosso amigo santista Milton Neves: "O Maradona é o tipo do jogador que só nasce de 100 em 100 anos. E olha lá, hein”.

Já o também santista José Antônio Lourenço foi bem mais comedido: “Com toda a certeza a bola de futebol deve estar se sentindo viúva. Porque existia uma relação de muito amor entre eles”.

Já o corintiano e empolgado Enéas Filho, e profundo conhecedor do futebol, não se cansa de falar: “Acima de Maradona, só o Pelé, em terceiro vem o Garrincha. Só que o Maradona tem a vantagem de ser um dos únicos jogadores a ganhar uma copa do mundo, praticamente sozinho. Em 1986, na Copa do México foi decisivo (foto), principalmente  marcando gols. No dia 22 de junho de 1.986, diante da poderosa Inglaterra, marcou um gol antológico, depois de driblar praticamente meio time e até o goleiro inglês.  Este lance é reconhecido pela FIFA como o “gol do século”. Neste jogo também marcou o emblemático gol com “La mano de Dios”.

Maradona agora virou uma lenda. A Argentina viverá duas fases no futebol. Antes e depois de Maradona. A idolatria para com ele é algo incomum, diferentemente aqui no Brasil, que pouco ou quase nada, se cultua um ídolo do esporte. Por paixão, reconhecemos mais um craque de nosso time do coração, do que um campeão mundial. Na Argentina, Maradona é unanimidade nacional. O corintiano Júlio Cassola, esteve passeando em Buenos Aires, e foi visitar a famosa Casa Rosada, a sede da presidência da Argentina, e pode ver as fotos de Maradona estampadas no saguão (foto). Ao lado de outras personalidades portenhas, o mural de Maradona era um dos mais visitados. Emoções que extrapolam os gramados de um ídolo nacional argentino. O santista Plínio Genta Filho, lá de Botucatu, esteve conhecendo o mítico campo La Bombonera, do Boca Juniors e sentiu o carisma que os torcedores xeneizes sentém pelo eterno camisa 10. Emoções que extrapolam os gramados de um ídolo nacional argentino.

Nas despedidas, e que foram muitas, reproduzimos apenas duas mensagens, uma do “Atleta do Século”, a outra do “Rei de Roma”.

Do Pelé: “Eu perdi um amigo e o mundo perdeu uma lenda. Ainda há muito a ser dito, mas por agora,  que Deus dê força para os familiares. Um dia,  eu espero que possamos jogar bola juntos no céu”.

Do Falcão: “Maradona, dentro de campo foi um semideus. Fora, um ser humano comum”.

WALDIR PERES x MARADONA: Waldir Peres foi o único garcense a enfrentar “El Pibe de Oro”, numa Copa do Mundo. No dia 02/071.982, na Espanha, Brasil e Argentina, estiveram frente a frente no Estádio La Carretera de Sarriá, em Barcelona. O Waldir venceu o duelo, pois a Seleção Brasileira ganhou fácil de 3 a 1, gols de Zico, Serginho e Júnior, enquanto Ramon Dias, descontou. A seleção Argentina estava eliminada da Copa. Nas resenhas que tive com o Waldir Peres, ele sempre comentava deste jogo. “A seleção brasileira era um grande time, com jogadores experientes e um técnico (Telê Santana) fora de série. O dia e noite anterior (uma quinta feira) não deixaram de ser tenso. Enfrentar uma sempre aguerrida Argentina. E se o Maradona estiver no dia dele. Como parar a fera? Num jogo normal já era difícil, quem dera se estivesse inspirado. O baixinho era fogo, catimbeiro, não parava em campo e falava o jogo todo. Eu no gol, nunca gritei tanto com a defesa, para o Oscar, Luizinho, Junior e Leandro e o volante Toninho Cerezo no primeiro combate: “não dá espaço, e chega junto, nele e na bola. Se ele dominar a pelota com o pé esquerdo tô f........”.

Só que o Brasil era um time de qualidades. Ganhamos com relativa tranquilidade. O Maradona acabou sendo expulso por jogada violenta. E eu recebi um cartão amarelo por prática de “cera”. Na foto, veja Maradona, marcado pelo Júnior, tentando, sem sucesso, fazer um  gol de bicicleta em cima do Waldir Peres.