sexta-feira, 12 de março de 2021

Recordar é Viver: "Neca Marangão e o orgulho de ter sido motorista de um presidente do Brasil"

 








Por Wanderley `Tico´ Cassolla

No final do ano passado, recebo a ligação do garcense Renaldo Marangão, o fanático palmeirense Neca, que estava de passagem por Garça: “O Tico preciso te entregar uma foto, quem passou o seu fone foi a minha sobrinha Patrícia”, e já me perguntou: “Você sabe se algum garcense já carregou de “pé-de-bode” um presidente de Brasil? Respondi: "Não". Ao que o Neca, emendou: "Você está falando com ele. Como faço pra entregar a foto?" 

Combinamos o encontro no centro da cidade. Orgulhosamente, mostrou a foto. Foi por ocasião de uma das duas visitas que Jânio Quadros fez em Garça. Batemos um longo papo, sob os olhares da esposa Vanda Marangão. Apesar de residir em Bauru, notei quanto o Neca Marangão, gostava de Garça, onde viveu grande parte da vida, em especial a juventude. 

Disse que era fã da nossa coluna, e de recordar os grandes times do Garça que viu jogar. Lembrando dos tempos de Altamiro Gomes, Carlito, Agamenon, Ceci, Haroldo, e mais recentemente quando viu o Waldir Peres “nascer no gol do Garça”, do Bô, Cláudio Belon, Itamar, Rogerinho, Osmar Silvestre e tantos outros. Bom, peguei a foto, que estava prejudicada, e falei “vamos tentar restaurar” e fazer uma matéria em cima. Nos despedimos, ele partiu e viu a cidade pela última vez. 

Passado um tempo, levei no Foto Reportagem Líder, do  palmeirense Júlio Gonçalves,  e o trabalho de restauração ficou perfeito. Pois bem, em janeiro comecei a enviar uns "zaps" para o Neca Marangão para pegar alguns dados com ele, e nada de responder. Até que encontrei o Ângelo Marangão, ele me falou que o Neca estava internado no hospital com o Covid/19. Pouco tempo depois, a triste noticia do seu falecimento. Nos últimos dias, a outra triste notícia: a sua querida e adorada esposa Vanda, falecia pelo mesmo motivo. 

Foi um golpe duplo, duro de aceitar. É meu amigo Neca Marangão, conversamos por tão pouco tempo, e parecia que nos conhecíamos bem mais. Infelizmente não foi possível fazer a matéria pra você ler aqui. Peço-lhe minhas desculpas e também aos seus familiares, aos filhos Ricardo, Renaldo e Ronnie.

Mas Neca, pode crer, virei seu fã, por suas palavras elogiosas a nós, e principalmente, pelo amor e carinho demonstrando pela nossa querida Garça. Hoje, finalmente, a coluna saiu. Espero que goste, onde estiver.

J.Q. NO PÉ DE BODE:  Mostrando a foto, o Neca Marangão contou como tudo aconteceu. Eu estava na cidade, quando me avisaram para pegar o “pé de bode” e ir ao aeroporto buscar uma pessoa. Imediatamente dirigi até a casa do meu tio, que não se encontrava, peguei o “pé de bode” e parti pro Aeroporto. Assim que chegou o avião, dei conta que era o governador Jânio Quadros. 

Extremamente educado e solícito, ele entrou no carro e o conduzi até a prefeitura. Veja na foto: Neca Marangão (óculos escuros), a seu lado deve ser Luis Carlos N. Armando. No banco de atrás: Pedro Valentim Fernandes, Jânio Quadros, um integrante da comitiva. Ao fundo está o Toninho Mônico. Em seguida foi levar o “pé de bode” na casa do tio, e quase apanhei dele, por ter pego o carro sem sua autorização.  

Naquela ocasião, Jânio Quadros foi assistir um jogo do Garça, e deu o pontapé inicial (foto), num belo chute de esquerda. O flagrante foi no antigo campo de Vila Williams, onde se vê ao fundo o Hospital São Lucas em construção.

J.Q. EM GARÇA: Jânio da Silva Quadros, nasceu em Campo Grande/MS. no dia 25 de janeiro de 1.917 e faleceu no dia 16 de fevereiro de 1.992. Foi o 22º presidente do Brasil, eleito com 5,6 milhões de votos (recorde), comandando o País no período de 31 de janeiro de 1961 até 25 de agosto de 1961, quando renunciou à presidência. 

Ocupou importantes cargos políticos, de vereador, prefeito e governador de São Paulo, deputado estadual por SP e federal pelo Paraná. Sua meta principal era o combate a corrupção e tinha com símbolo a vassoura “para varrer tudo”. Na infância Jânio Quadros viveu em Garça. Quem nos revelou foi o corintiano Antônio Augusto “Tonhô” A. Castro. O fundador de Garça, Labieno da Costa Machado, tinha amizade com o pai dele, o Sr. Gabriel Quadros, que era médico, e foi convidado para trabalhar aqui. A família morou numa casa no Bairro Labienópolis, localizada atrás da Escola Maria do Carmo, o “Grupinho”, onde depois funcionou o Corpo de Bombeiros. 

Nos idos de 1.955, Jânio Quadros, como governador de SP, visitou Garça, e recebeu a casa em doação, onde morou. Segundo o são-paulino Dr. Caio de Almeida, que com sua memória invejável, ainda lembra parte do brilhante discurso de improviso do J.Q. em agradecimento, ao receber as chaves do então prefeito Pedrinho: “Morava eu nesta bela cidade de ruas poeirentas, sem guias e nem sarjetas. A cidade era menina e eu menino então. Aqui ao meu lado está o Pedrinho, prefeito desta cidade e que está me dando o terreno da casa onde morei, mas ao mesmo tempo já me comunicou sobre os impostos que vou ter que pagar. Agradeço o presente e já estou comunicando meu secretário para providência um projeto de um posto de saúde que mandarei edificar”. 

Segundo o Dr. Caio, Jânio Quadros tinha ótimas relações com a cidade, especialmente com o Dr. Jathyr Mafud, Victor Neubern e João Miguel Chaves, dentre vários outros.