sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Recordar é Viver: "O adeus ao palmeirense Pilim"

 


Por Wanderley `Tico Cassolla"

No último sábado, fomos novamente surpreendidos com a notícia do falecimento de um amigo de longa data: Paulo Roberto Alves Michelan, mais conhecido pelo apelido de “Pilim”. Nascido em Garça, era uma pessoa benquista em nossa comunidade, pelo jeitão simples, brincalhão, que agradava a todos.

O Pilim era amigo nosso desde os tempos de juventude. Vivenciamos uma boa fase nos idos dos anos 70/80, juntamente com uma animada galera. Uma amizade à moda antiga. Praticamente tudo girava em torno do futebol. Mas dentre nossas diversões, também tinha o `footing´ em frente ao Cine São Miguel, tomar sucos ou vitaminas na Quitandinha, do Sr. Nelson Ichisato, “O Pai das Cerejeiras", ir às quermesses do Salão Paroquial (ele era o rei do correio elegante). Opa! E também nas quermesses promovidas pelo Frei Aurélio Di Falco, lá na Vila Nova (hoje Araceli), ir ao Circo Robatini e nos parques de diversões (quem não se lembra do Coney Island Park), que eram armados na cidade. 

Tinha também os bailes do Grêmio Teatral Leopoldo Fróes, onde eu, mais comedido, dificilmente ia, mas segundo o Mário Soares, o “Pilim fazia a festa, era só alegria do começo ao fim”. No flagrante, do ano de 1.978, passando o Réveillon. Da esquerda para direita: Mário Soares, Nao Ichisato, Pilim e Ênio. Todos elegantemente vestidos, com as tradicionais calças “boca de sino”, a moda entre os homens na época. 

Os grandes momentos foram mesmo no futebol, a maior diversão da turma. O  Pilim nunca foi um praticamente nato. Apesar de gostar, tinha lá suas limitações técnicas. Até que tentou dar uns chutes na bola, logo viu que não levava jeito e parou cedo. Não restou alternativa senão continuar torcendo pelo seu adorado Palmeiras, e virar um alegre “corneta” nas resenhas. Com seu jeito brincalhão, ficava “provocando” num bom papo, os torcedores dos times adversários. 

Numa ocasião decidimos jogar bola no antigo campo de “pelada”, que havia no  interior do Bosque Municipal. Hoje o campo não existe mais, pois no local está a sede da SAMA/Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente. Deu para montar dois times. Aproveitávamos o horário de verão, quando os relógios eram adiantados em uma hora. A “pelada” começava pontualmente as 18h30, e dava para jogar  um bom tempo, até escurecer. Tinha uma regra: o jogo só acabava quando não dava mais para enxergar o urso preto, que ficava num local ao lado do campo.  


Às vezes, o campo do bosque estava ocupado, então partíamos para o campo dos Escoteiros ou da Eletrônica, que ficavam perto, atrás do Hospital São Lucas. O mais curioso é que quando fomos escolher os jogadores para montar os times, notamos que estava bem dividido, metade de brasileiros e japoneses. A partir daí, ficou definido que os jogos seriam sempre entre seleção do Brasil x Japão. E valia uma aposta. O time perdedor tinha que pagar dois frangos, lá no Bar do Sr. Manoel, perto da antiga Sotebra. As vezes a aposta de pizzas, lá no Comilão Lanches (foto), do Fernando Rodriguez, bem na esquina em frente às Casas Pernambucanas.

Olha que dava cada jogão, disputado ao extremo. Primeiro porque no futebol, mesmo em sendo uma brincadeira, ninguém quer perder. Segundo, porque saborear um franguinho ou pizza de graça, tirando o sarro nos perdedores, não tem coisa melhor. 


Veja a escalação de um dos jogos. Em pé da esquerda para direita: Ridê, Roquinho, Pilim, Roberto, Helinho, Beto Kobayashi, Nelsinho e Kuni Funakawa; agachados: Jorginho, Micuim, Shiró Konda, Mário Casale, Nao Ichisato, Tico, Ossamu e Celso Casale.

Desta turma, infelizmente já não estão entre nós, o Ridê, Roquinho, Beto Kobayashi, Nelsinho, Kuni e o Pilim, que faleceu semana passada.

Recordo que num destes jogos, estava empatado em 3 a 3, o tempo esgotado, ou seja, nos acréscimos escuro. Aconteceu um escanteio para o time dos brasileiros. O Pilim saiu da zaga e foi na frente. Eis que o Mário Casale, levanta a bola na área, entra o baixinho Pilim, “sobe” e de cabeça, manda a bola no ângulo, para desespero do goleiro Jorginho. Um golaço, acho que o único em sua curta carreira. Na resenha pós jogo, o Pilim todo alegre, por ter marcado o gol da vitória, não cansava de falar: “Se o Dario “Beija Flor” (artilheiro do Brasil naquela época) para 3 segundos no ar, hoje eu subi e parei 5 segundos no ar. Alguém cronometrou?" Um lance que rendeu muitos comentários e ainda durou muito tempo.


Lembro que o Pilim trabalhou um bom tempo na Mercearia Jardim, na Praça Pedro de Toledo, em seguida na Casa Estrela, do saudoso Nelson Piola. Depois  ingressou na Companhia Paulista de Força e Luz, onde fez uma bonita carreira, até atingir a merecida aposentadoria, no ano de 2.000. Veja o Pilim (a direita) numa animada festa em família.

O Pilim faleceu aos 68 anos, era casado com a Fátima e o casal teve os filhos Paulo, Ana Cláudia e Bruno. Deixou um legado que jamais será esquecido, e eternas lembranças dos bons tempos de nossa juventude.