sexta-feira, 24 de junho de 2022

Recordar é Viver: "Carlitão, artilheiro de cinco gols"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Um jogador marcar mais de três gols numa partida é tarefa difícil. Convenhamos, não é para qualquer um mesmo. Atualmente no futebol é coisa rara. Tanto é verdade que o programa “Fantástico” (TV. Globo) homenageia quem conseguir esta proeza, com direito a pedir uma música. Hoje vamos falar de um atacante de nossa várzea que não marcou três, mas sim cinco gols num único jogo: Carlos Bernardes da Silva, o Carlitão.

Na época, meados dos anos 80, ele era centroavante do Cavalcante e fez cinco gols em cima do poderoso Ipiranga, uns dos melhores times da época. Eu estava presente neste jogo, com a jaqueta 9 do Ipiranga.

Tal como um pescador, que só fala dos peixes que pegou, o jogador de bola, nas resenhas, só gosta de comentar das vitorias, os títulos e gols que fez durante a carreira. Pois bem, hoje eu vou relatar o dia que o inspirado Carlitão, aniquilou o meu Ipiranga.

O jogo foi o clássico da rodada, realizado no Estádio Municipal “Frederico Platzeck”, com casa cheia. Além de ser um campeonato duramente disputado, a torcida do Cavalcante, que representava o tradicional bairro, acompanhava direto o time em todos os jogos.  

Lembro que o Ipiranga precisava da vitória para ficar entre os primeiros colocados. O Cavalcante ocupava uma posição intermediaria, lutando para chegar entre os oito classificados, no difícil campeonato que tinha 17 times.

Com cerca de dez minutos o Ipiranga fez 1 a 0, gol do Chico Ramalho, que pegou de voleio no ângulo, da entrada da grande área. A torcida vermelha e branca ipiranguista, empolgada, já contava com mais dois pontos. Ledo engano. Foi aí que o Carlitão, em jornada inspirada, deslanchou a marcar gols. Em 15 minutos anotou 3 inacreditáveis gols para a alegria dos torcedores alvinegros.

O Ipiranga ainda diminuiu através do ponta direita Sarará. Aí o Carlitão fez um gol histórico no “Platzeck”, praticamente driblou um time inteiro. Na soltura da bola, recebeu a bola do ponta Airtão. Como um raio foi avançando, sozinho, fintando quem encontrava pela frente. Passou pelo Toninho Marques, o volante Berto Nico, a dupla de zaga Corinho e Robson, fintou até o goleiro Bertoza, entrou com bola e tudo. Recebeu até os cumprimentos do lendário árbitro Moisés Rodrigues Santana. Confesso que nunca vi um gol igual.

No segundo tempo, o Ipiranga ainda tentou reagir. Mas novamente o Carlitão entrou em ação. Em cobrança de escanteio do Claudinho, dentro do grande área, subiu e testou forte no canto. Cavalcante 5 x 2 Ipiranga. Jamais esquecerei deste jogo e dos gols do Carlitão.


Veja uma das formações do Cavalcante (ou seria Vasquinho?): Em pé da esquerda para direita: Mauro Socó, Amaral, Carlinhos, Quincas, Arizão Pessoa, Nenê e Batatinha (dirigente); agachados: Carlitão (com a bola do jogo), Odair Mulato, Airtão, Ademir Mulato e Claudinho.

A CARREIRA: Carlos Bernardes da Silva, o “Carlitão” é mais um que tem história no futebol amador garcense. Foi jogador, dirigente e árbitro. Pertence a uma tradicional família de esportistas, todas ligadas ao futebol. Os irmãos Zé Bernardes, Cidão, Nonô e Jorjão, desfilaram pelos gramados da cidade. O Cidão alcançou voos mais altos, virou atleta profissional. Passou rapidamente pelo “Azulão” e fez sucesso no Treze de Campina Grande, Sport Recife e Matonense/SP. O Jorjão é pai do grande goleiro Lu, destaque no futebol amador e suíço nos dias atuais.

Como centroavante o Carlitão dava um trabalho danado aos zagueiros. Atacante impetuoso, porte atlético forte, era difícil marcá-lo. Com ele não tinha bola perdida. Fez muitos gols nos times onde passou, dentre os principais: Cavalcante e Vasco da Gama. No rural defendeu a Fazenda Dinamérica e Fazenda Palmares. Dos jogadores que conheceu, dois faz questão de mencionar: os atacantes Paulinho e Betinho Marinho, rápidos e dribladores.

Time do coração: Santos Futebol Clube. Ídolo no futebol: Serginho Chulapa. “As características dele são iguais a minha”, declarou.

Com uma certa dose de tristeza, fala que o futebol de hoje não é o mesmo de antigamente. “Os tempos mudaram, e dificilmente o campeonato amador voltará a ter grandes times e aquela alegria e entusiasmo de antigamente”.  

Sobre a próxima Copa de Mundo, o Carlitão aposta em duas seleções para ganhar no Catar: Espanha e Brasil. Porém, aponta o campeão: “Como eu sou brasileiro, que seja o Brasil”.

Este jogo que consagrou o ex-jaqueta 9 do Cavalcante, foi relembrado dias atrás, um domingo de manhã, na feira livre de Garça. No agradável bate papo também estava presente o professor Ednalvo Cardoso de Andrade (na foto). Logicamente, saboreando um pastel frito na hora e um delicioso caldo de cana.