sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Recordar é Viver: "Luquinha, um goleiro no céu"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Os primeiros contatos que tive com o Lucas Facina de Moraes, o “Luquinha”, foram em meados do ano de 2.009, quando minha filha Rafaela era aluna na Escola Municipal “Vitor Hugo”, onde ele estudava também. Quando levava a Rafaela, notava a presença do Luquinha chegando na cadeira de rodas, com sua alegria radiante, agitando todos os amiguinhos e amiguinhas. Um dia ele chegou, conduzido pela mãe, vestido com uma camisa do Corinthians. Falei um “Vai, Curintia!”. De imediato respondeu: “Vai, Curintia!”. Pronto, começava ali uma nova amizade, que jamais terminaria.

Depois, vim a saber que ele era filho da Joyce Facina e Daniel Lopes. Que era neto da Adriana e do Luiz Carlos Facina, que por coincidência, eu fui padrinho de casamento deles na Igreja Matriz. Acho que foi a primeira vez que vesti um terno, emprestado pelo Amorim Alfaiate. Que também era bisneto de meu amigo Antonio Rosário Netto, o conhecido “Sansão da Deusa”, o melhor tocador de gaita da cidade que já vi.

Com o Luquinha a amizade foi crescendo cada vez mais. Sempre nos encontrávamos para falar do futebol. Com a chegada do `zap´, aí era mensagem direto. Até que surgiram as disputas de pênaltis no Garça Tênis Clube. No ano de 2.017 o Luquinha se inscreveu para participar.

O organizador me chamou e falou: “Você vai disputar os pênaltis com o Luquinha. Aí foi um jogo difícil que tive que enfrentar. No mesmo instante pensei, “Não posso ganhar”. Confesso que dei um “tremida”, mas bola pra frente.

Nos torneios anteriores eu vinha de boas participações, sempre avançando. Para quem não sabe, o Regulamento determinava que você tem que cobrar e defender 3 pênaltis. Quem vencer, prossegue.

Enfrentei grandes goleiros que participaram, até o campeoníssimo Lú “Feijão”.

Numa oportunidade, ganhei com certa facilidade do goleirão Waldir Peres, um dos maiores pegadores de pênalti do futebol brasileiro.

Mas agora o alvo era o Luquinha. Para variar ele me “zuou” a semana inteira, mandando `zapis´. Dentre várias coisas, afirmava com seu jeito brincalhão, que iria ganhar a primeira medalha da sua vida. Chegou a fazer uma montagem com a medalha no peito. Seria como o gigante goleiro Cássio do Corinthians, seu ídolo, e iria fechar o gol. Putz!

Até que finalmente chegou o grande dia. As disputas aconteciam a todo vapor no campo de terra do GTC. Em determinado momento, o juizão Moisés Rodrigues de Santana, apita e grita: Agora é vez do Luquinha x Tico. Tiramos par/ímpar. O Luquinha ganhou. Escolheu primeiro “chutar”, só que com a mão”. Foram três cobranças e somente 1 gol, para delírio da torcida. Papel invertido, fui cobrar as penalidades. No meu pensamento, não marcar nenhum. Eu tinha que acertar a bola em sua mão. Chutar a bola para fora seria um lance bizarro.

Me posicionei, e ouvi o apito do juizão Moisés. Fui em direção à bola e debaixo da trave via um garotinho sentado na cadeira de rodas, com os braços erguidos, gritando “Vou defender, vou defender”. Numa fração de segundos eu olhava o gol escancarado, a rede, fácil de marcar.  Mas eu tinha que acertar a bola na mão dele. Dei um leve toque na bola, que subiu, bateu na mão dele e não entrou. Ufa!

Vem o segundo chute. Era só repetir o anterior. Só que bati errado, ao invés de subir, a bola rolou rasteiro. Devagarzinho ia entrando. Eu querendo tirar com os olhos. Até que, caprichosamente, a bola bate num morrinho de terra, depois na trave. Ufa! Mas tinha ainda o terceiro chute. Seria o gol de empate ou vitória do Luquinha. Ao apito do juizão Moisés, a torcida toda em silêncio. Confesso que foi um longo percurso de onde eu estava até chegar na bola. Parecia que estava no Maracanã, batendo o último pênalti numa final de Copa do Mundo. Fui mirando o peito dele. Cheguei, bati e fechei os olhos. 

Felizmente saiu um chute cirúrgico, a bola subiu a meia altura, o Luquinha segurou firme no peito. Já começou a gritar: “Ganhei, ganhei do Tico e quero a medalha!”. Todos os presentes, aplaudiram a defesa, gritando: “ão, ão, ão, Luquinha é campeão!”. Foi emocionante. Pela primeira vez em minha carreira de jogador fiz de tudo para não ganhar. Mas convenhamos, acho que fiz o certo, por uma causa nobre. Depois nos enfrentamos novamente. Mas o relato fica para uma próxima oportunidade.

Na solenidade de entrega aos vencedores do torneio, não tinha mais ninguém feliz do que o Luquinha, orgulhosamente com a sua medalha no peito. Depois o duro foi aguentar a “zoação”, que demorou um bom tempo.

Dias atrás, estava numa conversa, já planejando outro torneio de pênaltis. Com certeza o Luquinha estaria presente. Mais um tira-teima, onde “enfrentaria” o Luquinha, um jovem garoto, todo especial, amante do esporte e corintiano fanático. Infelizmente não deu tempo. Deus assim não quis.




Veja nos flagrantes, três momentos felizes dele: ao nosso lado no GTC. Com o craque Falcão, o “Pelé” do futsal, que o presenteou com a munhequeira do jogo aqui em Garça. E com o Xuxa, atleta do Krona Futsal de Joinville/SC.

É Luquinha! No último dia 20, com apenas 20 anos, você “subiu” para ser um grande goleiro lá no céu. Mas ficará por todo o sempre incrustado no carinho, no coração, na ternura e na sinceridade, do nosso cantinho da saudade”.