sexta-feira, 30 de junho de 2023

Recordar é Viver: "Nelson Ichisato, o Pai das Carejeiras"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

O Cerejeiras Festival voltou com tudo, depois da paralisação por causa da pandemia da Covid. Antigamente denominada Festa das Cerejeiras, já virou tradição para nós garcenses e ,principalmente, para a colônia japonesa. Tudo por causa do Sr. Nelson Koske Ichisato, o sempre "Pai das Cerejeiras", que decidiu colocar em Garça, um “pedaço do país oriental, do seu berço, da sua terra natal”.  Nossos eternos agradecimentos ao Sr. Nelson, este imigrante japonês, natural de Oshima, Yamagu-tiken, que chegou em Garça para não sair mais.  Como diria o craque da bola Romário: “O Seo Nelson foi o cara." E vale o complemento: ele também é a cara das cerejeiras.

Para coroar de êxito a florada deste ano está muito bonita. A Comissão Organizadora acertou “na veia”, aproveitando o feriado do padroeiro da cidade São Pedro e marcou cinco dias de festa. O tempo está ajudando, desde a última quarta feira, com muita gente está prestigiando o evento, em especial a colônia nipônica, que vem recordando um pouco mais da sua terra do sol nascente.

PAI DA CEREJEIRAS: Nos idos de 1979, o “seo” Nelson resolveu plantar 110 mudas no entorno do Lago “J.K.Williams”. Para muitos uma loucura, uma planta cuja sobrevivência depende do clima frio, florir num clima tropical. Mas a sabedoria oriental falou mais alto. Primeiramente ele visitou Campos do Jordão, onde foram plantados alguns pés, numa cidade de clima frio. Olhou, analisou e decidiu: “Vou encarar o desafio, será um jogo difícil. Mas vou vencer”. 

Os obstáculos e adversários foram muitos. Sozinho foi plantando as mudas. Pacientemente, todas as manhãs, pegava um balde da água do lago e ia regando muda por muda. Ele sempre me falava que conversava com elas.

As árvores foram crescendo, estava indo de vento em popa. Até que num dia, um forte temporal que  parecia um dilúvio caindo, quase pois tudo a perder. Várias plantas arrancadas e muitas covas destruídas, cheias de lama. Digamos, um primeiro tempo, com uma derrota parcial.

Desanimar jamais. Afinal de contas, o “seo” Nelson como um bom corintiano, que jamais abandona o time, também não iria deixar as suas amadas cerejeiras a esta altura do campeonato.

Reforços chegaram, com a compra de mais mudas. Recomeçar um segundo tempo até com mais experiência no manejo, alinhamento e adubagem. Não deu outra. Virou o jogo na etapa complementar de forma espetacular. Como uma tática toda especial: o amor que ele nutria pelas cerejeiras. As sakuras responderam à altura às ordem do mestre, a vitória chegou. E de goleada. No ano de 1986 foi realizada a 1ª Festa das Cerejeiras, e não parou mais. A cerejeira (sakura) lembra a história dos antigos samurais, decididos a morrer pelos seus mestres. Os samurais estavam preparados espiritualmente para viver poucos anos, assim como as flores das cerejeiras que duram pouco tempo. Algumas nascem de manhã e morrem no final da tarde.

No dia 7 de junho de 2019, faleceu o “seo” Nelson aos 99 anos. Deixou um legado que jamais será esquecido, para os garcenses e principalmente para a colônia japonesa. Muitos “Arigatôs” para o “seo” Nelson, uma flor/cerejeira que agora continua brilhando no céu.

TIME DE FUTEBOL: Como a coluna é predominantemente voltada ao futebol, temos que falar de uma façanha de um grupo de garcenses na terra das cerejeiras.

Nos anos 80/90 muitos brasileiros e também garcenses rumaram para o Japão em busca de melhores oportunidades, trabalhar, faturar uns “yens ou dólares”, e fazer um bom pé de meia. Ganharam o apelido de “dekasseguis”, ou seja, uma pessoa que deixa temporariamente sua terral natal para trabalhar em outra região e ganhar a vida.

Os garcenses, para variar e se divertir nas poucas horas de folga, montaram um time de futebol, e fizeram bonito nos gramados (e campos de terra) do Japão. Recordamos o time do Fujiwara Unyuu KK, contando com os locais, e recheado de garcenses, mais notadamente no ataque. Em pé da esquerda para direita: Márcio, Kazuo, Sato, Uemura, Fábio, Marquinho e Leonan; agachados: Ridê, Jorge Hayashi, Serginho Nakamura, Takahashi e Carlos Uchida.

Descobri que os garcenses são o Ridê (já falecido), Jorge Hayashi, Serginho Nakamura e Carlos Uchida. Neste dia o jogo foi contra uma equipe de peruanos que também estavam trabalhando no Japão. O placar do jogo foi: Brasileiros 4 x 3 Peruanos.


Um dos destaques da vitória brasileira foi o Jorginho Hayashi (foto), que marcou dois golaços. Sem falar que estavam faltando quinze minutos para o jogo acabar, e estava empatado em 2 a 2. O primeiro foi de fora da área, chutou e a bola entrou na gaveta. O segundo saiu tabelando com o Ridê desde a intermediária. No último toque, quase que na marca do pênalti, ainda teve calma para driblar o goleiro e entrar com bola e tudo. O Jorginho, que trabalhou no Japão entre julho de 1991 a novembro de 1993, viveu um dia de “Romário”, que jamais esquecerá.