sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Recordar é Viver: "Berrugão e a camisa de presente"



Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Dias atrás estava navegando no Faceboock, na página dos “Ex-Agrícolinos de Garça”, e demos um boa volta ao passado. É claro, recordamos dos bons tempos que vivenciamos com os alunos que lá estudaram, nos anos de 1970 e 1980.  Uma página muito bem feita, a maioria com fotos dos ex-alunos, que hoje voltaram para à sua terral natal, ou estão espalhados por todo o Brasil. A grande maioria, aproveitou os estudos na Escola Agrícola, depois conseguiram sucesso na atividade que escolheram. Alguns infelizmente já nos deixaram ainda jovens. Um nos chamou a atenção: Antonio Pereira Guimarães, o saudoso “Berrugão”, zagueirão firme, tinha muita garra, não admitia tomar um gol. Foi um dos grandes amigos que fiz no futebol. Fora dos gramados, conversávamos bastante, dos times, escalações, e jogadas acontecidas nas rodadas do final de semana, principalmente das equipes da capital paulista.

Lembro que nesta época, a Escola Agrícola montava grandes times no futebol de campo ou salão (futsal). Disputava as duas competições e fazia bonito. Veja (foto) uma das formações do futsal da Escola Agrícola do ano de 1981. Um timaço bom de bola, que encarava os destaques da época, jogava de igual para igual. Grandes duelos quando enfrentava o Ipiranga, do beque Corinho, e o Escritório Cruzeiro, do craque Aguinaldo Mendes.

Uma moçada que jogava o fino. No momento, lembro do Régis, Filomena, Gimba, Tostãozinho, goleiros Igurê e Mário Boi, Djalma, Clodoaldo Dorso, Dadá e vários outros. Sem falar do Miro e Tiana, que jogaram profissionalmente e eram diferenciados.

Mas o Berrugão era indescritível. Com certeza foi um dos marcadores mais implacáveis que já enfrentei. Nos jogos válidos pelo Campeonato Amador entre Ipiranga x Escola Agrícola, o bicho pegava, eu de centroavante, ele de beque central, jaqueta 3. Cada jogão de bola, verdadeiros derbys. Na maioria das vezes disputados no “Platzeck”, no clássico da rodada, às 10 horas ou 16 horas.

Lembro que nem bem começava o jogo, já vinha Berrugão de encontro, aproximava e falava: “Hoje nada de gol, viu Tico. Não vou dar moleza. Apostei uma dúzia de cerveja e vou ganhar”. Durante o jogo, o Berrugão não parava, gritava e gesticulava em campo. E chegava junto pra valer. Ave Maria. Era o tipo do jogo que eu dava umas pipocadas, nada de “chutar toco”.

Só que naquela ansiedade, o Berrugão cometia uns erros infantis, onde eu aproveitava e marcava. Teve até um jogo que fiz três gols ainda no primeiro tempo. Com quarenta minutos de jogo, pediu para ser substituído.

Depois à noite, como sempre fazíamos, aconteceu aquela resenha no Bar/Lanchonete Galo de Ouro, de propriedade dos saudosos Ari e Zé do Galo. Foi aquela gozação. O Berrugão foi à loucura, perdeu o jogo e a aposta das cervejas. Mas teve que aguentar até as brincadeiras dos colegas da própria escola. Mas o Ari do Galo, sempre generoso, comovido com aquela situação, deu de brinde uma dúzia de cerveja, da marca Malt 90, para toda a galera festejar.

Foram momentos que marcaram nossa trajetória futebolística, que jamais serão esquecidos. O Berrugão, nasceu em Rondonópolis/MS, estudou na Escola Agrícola entre os anos de 1981 à 1983, conquistou o diploma e seguiu o seu destino. Segundo o seu inseparável amigo Tadeu Julião, ele trabalhava no INCRA. Porém, nunca mais o vi.

Avançando no tempo, decorridos uns trinta anos, o Berrugão veio participar de mais um encontro dos ex-alunos da escola agrícola aqui em Garça.

Aproveitando a estadia, ele veio até minha casa, juntamente com o Tiana e o Parazinho. Que surpresa agradável. A “fera’ Berrugão novamente na minha frente. Nos trouxe de presente, uma camisa de futebol. A saúde dele já não era a mesma de antigamente. Com certa emoção para entregar, falou: “Tico esta camisa é do time da minha cidade. Fiz questão de trazer de presente para você. Lembrar dos tempos que jogamos bola juntos, eu te marcava e “descia a madeira, senão não te parava. Eita `hómi´ largo para marcar gols”.

Só nos restou agradecer pela lembrança e consideração. Não sem antes vestir a camisa e posar com eles. Em pé, da esquerda para direita (foto): Tiana, Tico, Berrugão e Parazinho. Nos despedimos com um forte abraço, assim como no Tiana e Parazinho. Mal sabia eu, que aquele seria o nosso último encontro e abraço.

Navegando na página dos “Ex-Agricolinos de Garça”, verifiquei surpreso, que o Berrugão faleceu no dia 15 de novembro de 2014, em Cuiabá/MT. Assim como o Reinaldo Pimentel, o “Parazinho”, também faleceu no dia 9 de novembro de 2021.

Ao Berrugão, meu marcador implacável, nossa eterna saudade. Hoje possuo uma boa coleção de camisas de futebol, mas esta que ele nos presenteou, é a que tenho mais consideração e respeito. Um dia Berrugão, voltaremos a nos enfrentar nos campos celestiais. Só espero que você pegue um pouco mais leve, viu !!!


Você sabia que os alunos que estudaram na Escola Agricola de Garça, se reúnem periodicamente?. Uma maneira de se reencontrarem e “matar saudades” dos bons tempos que foram estudantes e passaram por Garça. O 1º encontro foi realizado em Garça no ano de 2.010, reunindo 80 pessoas entre alunos e familiares (foto). Depois não parou mais. Já aconteceram encontros em Rondonópolis/MT, Cruzeiro do Oeste/PR e Cuiabá/MT. Em 2.025, o encontro acontecerá na cidade de Brasília/DF.