sexta-feira, 9 de maio de 2025

Recordar é Viver: "O são-paulino Batista, num dia de "Var"




Por Wanderley `Tico´ Cassolla

A polêmica da arbitragem no futebol brasileiro continua em alta.  Aliás como sempre esteve. Desde que acompanho futebol, há mais de sessenta anos, o problema já acontecia.

Até que no ano de 2016 chegou o VAR – sigla em inglês que significa Vídeo Assistant Referee. Pronto, problema resolvido. Assim pensou o torcedor. Ledo engano. As polêmicas continuam. Agora é questão de milímetros para validar ou não um gol. Só ficou mais chato na hora de comemorar. Tem lance que demora muito pro VAR definir. Porém, sempre falo: o dia que o impedimento e o pênalti acabar o futebol vai perder a graça. E bola pra frente. A propósito você sabia que o VAR já existia em Garça, bem antes de 2016? Vamos aos fatos.

No ano de 1985, o Clube Atlético Ipiranga, onde nós éramos o centroavante, foi convidado para jogar na Fazenda Santa Avelina, um amistoso festivo de fim de ano. Pois bem, rumamos para lá e chegamos em clima de festa. O campo ficava na beira da estrada 9 de Julho, estava lotado de torcedores, só que era meio penso para um lado. A bola rolava sozinha, não parava de jeito nenhum. No entorno do campo haviam eucaliptos e uma figueira frondosa, com aquela sombra gostosa.  

Pontualmente, o jogo começou às 15h30. Só tinha um árbitro, conhecido por João Lamparina, que apitava alto “pra burro”, e sem bandeirinhas. O jogadores que estavam próximos dele, tinham que colocar as mãos nos ouvidos. Era um apito de ferro. Com o jogo em andamento, o Ipiranga que tinha um forte time, comandava as ações, dominando fácil o adversário. Marcamos um gol, o juizão anulou. Bola vai, bola vem, marcamos outro gol, anulado. Num lance isolado, o time da fazenda foi para o ataque e fez um gol em completo impedimento, que o `juizão´ validou. Até que num lance, eu saí do nosso campo de defesa, ganhei na corrida dos beques, na saída do goleiro, toquei no canto e bola na rede. Novamente anulado, por impedimento. Aí que descobrimos. O juizão olhava discretamente para um senhor sentado confortavelmente numa cadeira/balanço na sobra da figueira, e recebia um sinal. Era o Batista, administrador da fazenda, que dava um positivo ou negativo, para ele validar ou não o gol.

E não adiantava reclamar com o `juizão´. Quem decidia tudo era ele, depois do aval do Batista. Entre gols marcados e anulados, o placar final apontou empate em 2 a 2. Bom para ambos os lados. Depois do jogo, fui cumprimentar o João Lamparina.  Aí ele falava em alto e bom som: “Estou fazendo teste para trabalhar na fazenda. O Batista me escalou para apitar o jogo. Se eu não obedecê-lo, acho que não serei contratado”. Eis, que na conversa chega o Batista, cumprimenta o `juizão´ e diz. “Pela sua ótima atuação está contratado. Amanhã, segunda feira, já começa a trabalhar”.

 O VAR: O primeiro jogo com auxílio do VAR foi realizado no dia 12 de agosto de 2016, no jogo Orlando City II x New York Red Bulls II, válido pela 3ª Liga de Esportes dos Estados Unidos.

No Brasil, o VAR (árbitro de vídeo) começou em 2017, na final do campeonato pernambucano, entre Sport x Salgueiro. Em competições nacionais, o VAR foi utilizado em 2018, nas quartas de finais da Copa do Brasil. Em Copas do Mundo, a partir de 2018, no Mundial da Rússia.


O SÃO PAULINO BATISTA:
João Batista de Araújo (foto), foi sempre um grande e abnegado esportista, mais notadamente no meio rural. Um dos grandes incentivadores nos campeonatos entre fazendas de antigamente. Na foto com o time da Fazenda Santa Avelina, campeã rural de 1993, posando no “Platzeck”. Em pé, da esquerda para direita: Pedrinho, Domingos, Val, Gilmar, Biscuí, Manezinho, Duduca e Batista; agachados: Nininho, Edinho, Serginho, Esquerdinha, Donizete, Rael, Zé Roberto e Codé.

Um baiano “porreta”, nascido em Caetité/BA, Batista chegou em Garça, juntamente com seus familiares, com apenas três anos. De início foram morar em Jafa, depois se mudaram para o Estado do Paraná. Não demorou muito retornaram à Garça, para não sairem mais.

O Batista trabalhou por quase 40 anos na Fazenda Santa Avelina, entre 1971 e 2011. Lá fez praticamente de tudo na lavoura de café, desde lavrador, tratorista, fiscal, chegando a administrador por cerca de 30 anos.

Até se arriscou a jogar bola, era zagueiro central. Se o time precisava jogava até de goleiro. Até afirmou que “nunca tomei um peru”. Com a jaqueta 3, era a bola ou o atacante, que tinha que se cuidar. Segundo o Batista “Vivi os melhores momentos da minha vida na Fazenda Santa Avelina, trabalhando ou tentando jogar bola”.

Hoje o Batista está morando Garça, gozando da merecida aposentadoria. É torcedor do São Paulo, e tem como ídolo no futebol, o ex-zagueiro Mauro Ramos de Oliveira, que jogou no São Paulo e Santos, entre 1948 à 1967. Mas acrescentou “Sem falar do Pelé, que é um fora de série, de outro planeta, jogando bola”. E finalizou: “acho que o VAR no futebol foi eu que inventei”.