Por Wanderley `Tico´ Cassolla
A polêmica da arbitragem no
futebol brasileiro continua em alta.
Aliás como sempre esteve. Desde que acompanho futebol, há mais de sessenta
anos, o problema já acontecia.
Até que no ano de 2016
chegou o VAR – sigla em inglês que significa Vídeo Assistant Referee. Pronto,
problema resolvido. Assim pensou o torcedor. Ledo engano. As polêmicas
continuam. Agora é questão de milímetros para validar ou não um gol. Só ficou
mais chato na hora de comemorar. Tem lance que demora muito pro VAR definir.
Porém, sempre falo: o dia que o impedimento e o pênalti acabar o futebol vai
perder a graça. E bola pra frente. A propósito você sabia que o VAR já existia em
Garça, bem antes de 2016? Vamos aos fatos.
No ano de 1985, o Clube
Atlético Ipiranga, onde nós éramos o centroavante, foi convidado para jogar na
Fazenda Santa Avelina, um amistoso festivo de fim de ano. Pois bem, rumamos
para lá e chegamos em clima de festa. O campo ficava na beira da estrada 9 de
Julho, estava lotado de torcedores, só que era meio penso para um lado. A bola rolava
sozinha, não parava de jeito nenhum. No entorno do campo haviam eucaliptos e uma
figueira frondosa, com aquela sombra gostosa.
Pontualmente, o jogo começou
às 15h30. Só tinha um árbitro, conhecido por João Lamparina, que apitava alto
“pra burro”, e sem bandeirinhas. O jogadores que estavam próximos dele, tinham
que colocar as mãos nos ouvidos. Era um apito de ferro. Com o jogo em
andamento, o Ipiranga que tinha um forte time, comandava as ações, dominando
fácil o adversário. Marcamos um gol, o juizão anulou. Bola vai, bola vem,
marcamos outro gol, anulado. Num lance isolado, o time da fazenda foi para o
ataque e fez um gol em completo impedimento, que o `juizão´ validou. Até que num lance, eu saí do
nosso campo de defesa, ganhei na corrida dos beques, na saída do goleiro,
toquei no canto e bola na rede. Novamente anulado, por impedimento. Aí que
descobrimos. O juizão olhava discretamente para um senhor sentado
confortavelmente numa cadeira/balanço na sobra da figueira, e recebia um sinal.
Era o Batista, administrador da fazenda, que dava um positivo ou negativo, para
ele validar ou não o gol.
E não adiantava reclamar com
o `juizão´. Quem decidia tudo era ele, depois do aval do Batista. Entre gols
marcados e anulados, o placar final apontou empate em 2 a 2. Bom para ambos os
lados. Depois do jogo, fui cumprimentar o João Lamparina. Aí ele falava em alto e bom som: “Estou
fazendo teste para trabalhar na fazenda. O Batista me escalou para apitar o
jogo. Se eu não obedecê-lo, acho que não serei contratado”. Eis, que na
conversa chega o Batista, cumprimenta o `juizão´ e diz. “Pela sua ótima atuação está
contratado. Amanhã, segunda feira, já começa a trabalhar”.
No Brasil, o VAR (árbitro de vídeo) começou em 2017, na final do campeonato pernambucano, entre Sport x Salgueiro. Em competições nacionais, o VAR foi utilizado em 2018, nas quartas de finais da Copa do Brasil. Em Copas do Mundo, a partir de 2018, no Mundial da Rússia.
O SÃO PAULINO BATISTA: João Batista de Araújo (foto), foi sempre um grande e abnegado esportista, mais notadamente no meio rural. Um dos grandes incentivadores nos campeonatos entre fazendas de antigamente. Na foto com o time da Fazenda Santa Avelina, campeã rural de 1993, posando no “Platzeck”. Em pé, da esquerda para direita: Pedrinho, Domingos, Val, Gilmar, Biscuí, Manezinho, Duduca e Batista; agachados: Nininho, Edinho, Serginho, Esquerdinha, Donizete, Rael, Zé Roberto e Codé.
Um baiano “porreta”, nascido
em Caetité/BA, Batista chegou em Garça, juntamente com seus familiares, com apenas
três anos. De início foram morar em Jafa, depois se mudaram para o Estado do
Paraná. Não demorou muito retornaram à Garça, para não sairem mais.
O Batista trabalhou por
quase 40 anos na Fazenda Santa Avelina, entre 1971 e 2011. Lá fez praticamente
de tudo na lavoura de café, desde lavrador, tratorista, fiscal, chegando a administrador
por cerca de 30 anos.
Até se arriscou a jogar
bola, era zagueiro central. Se o time precisava jogava até de goleiro. Até afirmou
que “nunca tomei um peru”. Com a jaqueta 3, era a bola ou o atacante, que tinha
que se cuidar. Segundo o Batista “Vivi os melhores momentos da minha vida na
Fazenda Santa Avelina, trabalhando ou tentando jogar bola”.
Hoje o Batista está morando Garça,
gozando da merecida aposentadoria. É torcedor do São Paulo, e tem como ídolo no
futebol, o ex-zagueiro Mauro Ramos de Oliveira, que jogou no São Paulo e Santos,
entre 1948 à 1967. Mas acrescentou “Sem falar do Pelé, que é um fora de série,
de outro planeta, jogando bola”. E finalizou: “acho que o VAR no futebol foi eu
que inventei”.