sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Recordar é Viver: "Adib Mures Saker, o grande comandante do TG-02/014"

 




Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Mais que ano difícil. Não tem quem não quer logo o fim de 2.020. A cada dia que passa uma notícia triste. Muitos conterrâneos nos deixando, a grande maioria pelo terrível vírus Covid/19, uns anônimos, outros, personalidades ilustres. Mas todos queridos em nossa comunidade. Na última quarta feira (16) a cidade foi surpreendida pelo falecimento do são-paulino Adib Mures Saker, instrutor do Tiro de Guerra 02-014 por muitos anos. Já há algum tempo o sargento Adib vinha lutando contra uma enfermidade. Como um guerreiro, um exímio combatente, enfrentou com todas as suas forças, mas infelizmente nos deixou, próximo de completar 80 anos.

O sargento Adib foi o tipo da pessoa que aqui chegou e não saiu mais. A cidade gostou tanto dele, e ele da cidade, que desde que saiu da sua querida Lutécia, adotou Garça para sempre. Comandou o Tiro de Guerra entre os anos de 1.966 até 1.982. Sempre com dinamismo e competência. Mas com bastante rigor e autoridade absoluta. O atirador que “pisava na bola” com ele, era um bom castigo e guarda na certa. Dependendo da “pisada” era uma guarda no sábado ou domingo, que ninguém queria. Como bem disse numa postagem, o internauta Celso Antonio Cassemiro da Silva: “Sargento Adib, um homem enérgico, correto e leal para comandar o Tiro de Guerra em Garça. Formou e mostrou a todos os atiradores que serviram a Pátria, como é o espirito de obrigação dos jovens”.

De outro lado, o Sargento Adib tinha o seu lado esportivo. São-paulino convicto, entendia do assunto, e adorava “discutir” sobre futebol. Com uma memória invejável sabia dos jogadores e escalações dos times. Sem falar que teve participação decisiva na carreira de um dos melhores goleiros da história do São Paulo: Waldir Peres. Graças a ele, o Waldir Peres defendeu a meta tricolor em  617 jogos. No tópico abaixo você saberá o porquê.

Já o lado jogador do Sargento Adib não foi tão bim assim. Reconhecidamente foi um zagueiro (lateral direito) mediano, digamos nota 5, nos tempos que jogou o futebol suíço e nas grandes “peladas” do Garça Tênis Clube. No tradicional clube verde e branco da antiga Avenida Brasil (hoje Dr. Rafael Paes de Barros), jogou no Kosminho e depois no Independente, time que ajudou a fundar, juntamente com os esportistas Toninho Peres e Jair de Marchi. Entre os anos de 1.978 à 1.993,  o Independente fez bonito no futebol suíço, desfilando com o uniforme nas cores verde e branco, numa homenagem ao GTC. O Independente era uma equipe organizada e  participou de  vários campeonatos na época do “terrão”. Teve até campo próprio para mandar os jogos, que ficava na Vila Manolo (atual José Ribeiro), proximidades do Destacamento da Policia Militar.

Recordamos uma das formações do Independente, que posou para a posteridade, em seu reduto, o campo de “pelada” do GTC. Em pé da esquerda para direita: Luizinho Andrade, Toninho Peres, Sargento Adib, Luiz Martinez “Nim”, Telêmaco e Peleteiro. Agachados: Adalberto Botelho, Dr. Jair Lopes Machado, Lealzinho e Jair De Marchi.

O Sargento Adib também se destacou como dirigente esportivo. No início quando o futebol suíço estava em formação em Garça, foi montada a “Associação dos Clubes de Pelada de Garça”, tendo como presidente o são-paulino Ari da Silva Braga e Adib Mures Saker, como secretário. A modalidade, hoje a principal da cidade, começou a crescer e se organizar, a partir daí.

ADIB x WALDIR PERES: O goleiro Waldir Peres, pouco tempo antes de falecer (julho/2017), durante passeio em Garça, fez questão de visitar antigos amigos, dentre os quais o Sargento Adib e sua família (foto). 

Nós, juntamente com o Enéas Filho, estivemos presentes. Durante o encontro, o Waldir revelou uma passagem curiosa: “Se não fosse o sargento Adib talvez não teria sido um consagrado goleiro brasileiro”. Hoje estou aqui até como agradecimento. E explicou o motivo: “No início de carreira eu jogava na várzea (Paulistinha e Serenata), e treinava no  Garça, queria ser jogador profissional, até que comecei a fazer o Tiro de Guerra. Em muitos jogos ficava no banco de reservas, outros nem era convocado. Até que num jogo decisivo (não sei se foi em Paraguaçu Paulista ou José Bonifácio?), o Garça ficou sem goleiro, um expulso, o outro contundido. 

Só que justamente naquele dia era a formatura dos atiradores. Se não prestasse o “juramento” perderia tudo, teria que fazer novamente o TG. Lembro que o presidente do Garça, o Sr. João Bento, foi no sábado, durante a instrução, e conversou com  sargento Adib, explicando a situação. Prontamente, o Sargento Adib, me chamou e falou, na frente de toda a tropa: “você é um ótimo atirador, obediente e disciplinado, está liberado, pode ir. Mas tem a missão de não deixar o Garça perder. Hoje você é o melhor goleiro da cidade, futuramente será um dos melhores do Brasil. Comece a “agarrar” o seu futuro amanhã”. 

A previsão do Sargento Adib foi plenamente confirmada. O Garça ganhou de 2 a 0, o Waldir agarrou até um pênalti. Depois daí, virou  titular absoluto, e pouco tempo depois foi contratado pela Ponte Preta. O resto todo mundo já conhece.