Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Nos últimos dias de feriado, eu estava organizando meu acervo, digitalizando mais umas duzentas fotografias inéditas do futebol garcense, quando uma nos chamou a atenção. Nela dois jogadores, num campo meio que estranho, não era aqui em Garça. Como num piscar de olhos, logo recordei daquela fotografia.
Tudo começou há certa de oito anos, quando fui assistir, num domingo de manhã, mais uma rodada do campeonato da Venda Seca, promovida pelo esportista Veronilson Correia, o palmeirense “Verinha”.
Assim que chegamos lá, a casa estava cheia de torcedores. Torcida organizada, batuque e muita animação. Eram dois jogos da fase semifinal. Os vencedores decidiriam o título.
Até que notei uma dupla de zaga que estava jogando um `bolão´. Descobri que eram pai e filho. Rapaz! Dava gosto vê-los em ação. Jogavam limpo e não passava nada.
No intervalo, falei com o Mauro, da Fazenda Igurê, que desejava tirar “um retrato” deles. O Mauro nos apresentou, e não foi tão fácil, colocar pai e filho, lado a lado: Ditão e Alan, do Tropical Flora. Feito o flagrante (foto), começou o segundo tempo. Um jogo corrido, onde o Tropical Flora venceu. Depois também soube que o Tropical Flora seria o campeão daquela temporada.
Descobri também que o Benedito da Silva e o filho, Alan Rodrigues da Silva, já disputavam os campeonato rurais na Venda Seca há vários anos. Tanto é verdade que foram campeões seis vezes pelo Tropical Flora (foto) e uma vez pela Fazenda Dinamérica, além de um vice-campeonato.
Como falei no início, a foto dos dois craques se perdeu nos meus registros, pois isto não publicamos. Afinal de contas não é qualquer dia que se tem um pai e filho jogando futebol juntos. Ainda mais num campeonato de nível forte, tal como os promovidos pelo Verinha.
Dias atrás encontrei o Ditão e lhe mostrei a foto. Um tanto quanto emocionado, olhando a foto, me respondeu: “É Tico, eu e o Alan, meu amado filho e companheiro de futebol, que Deus levou, no último dia 2 de fevereiro de 2024. Faleceu muito novo, com apenas 33 anos de idade. Vinha voltando do trabalho em Bauru, e sofreu acidente na rodovia, proximidades de Gália”.
É Ditão, a vida nos reserva surpresas, algumas difíceis de aceitar. Falei: "Ditão, mesmo que tardiamente, tenho que fazer uma pequena homenagem ao Alan." Um menino bom, que adorava jogar bola. Um zagueiro firme, esforçado, disciplinado, que se desdobrava em campo. Fazia a sua parte, depois é claro, sempre na cobertura do pai.
Torcia para o Santos, e tinha como ídolos Neymar e Robinho. Quanto tinha um tempo livre, assistia aos jogos pela televisão. No lado profissional, o Alan pertencia à gloriosa Polícia Militar do Estado de São Paulo. Uma corporação que defendia com muito orgulho e todo respeito. Estava próximo de completar 10 anos de carreira. Era vinculado ao 13º BAEP/Batalhão de Ações Especiais de Polícia, sediado na vizinha Bauru. Até que poderia estar residindo na “Cidade sem Limites”, porém, optou por não deixar sua querida Garça. Tudo para ficar junto da família, e aos domingos jogar futebol, formando aquela dupla de zaga junto do pai, que fez uma bonita história.
Nos campos aqui da terra, a dupla foi desfeita. Um dia, lá na frente, nos campos celestiais, a dupla voltará a ser reencontrar. Como nos disse o Ditão: “O Alan foi a minha jóia preciosa, que Deus recolheu”.