sexta-feira, 15 de maio de 2020

Recordar é Viver: "O adeus ao atacante Haroldo"







Por Wanderley `Tico´ Cassolla


Na noite da última quinta feira estava terminando a coluna para este  final de semana, e o assunto seria a vitória maiúscula do Garça sobre o poderoso Santos, pelo placar de 2 a 0, confronto realizado em nossa cidade no ano de 1.956. 0 destaque seria para o trio de ferro, formado por Agamenon, Irineu Palmeira e Haroldo, que infernizaram o time santista, num dos melhores jogos no Campo de Vila Williams. 

Já estávamos na conferência final, quando recebemos a triste notícia do falecimento do Haroldo, nosso grande amigo de jornadas esportivas. Não nos restou alternativa senão deixar a matéria do jogo no “banco de reservas”, e dar o nosso último adeus a um dos principais jogadores da história do futebol profissional garcense.

O Haroldo era um excelente bate papo sobre futebol, gostava de conversar com ele, apesar do seu lado um quanto tímido, graças à origem mineira. Mas tinha uma sabedoria incomum de bola, quando falava na realidade do futebol brasileiro, de ontem e de hoje. Com certeza um reflexo do que foi em campo. Isto é o que sempre me falavam antigos torcedores, que tiveram a oportunidade de vê-lo jogar com a camisa 7 do Garça Esporte Clube.  

Há!!! se jogasse hoje, estaria rico financeiramente. Mas na sua época era um outro futebol, do amor à camisa e o prazer de correr atrás da bola. Ou melhor, fazer os adversários correr atrás dele. Isto quando não tomavam dribles, daqueles de sentar a b....no gramado. Um dom divino que vem desde a infância. “A bola não pode ser maltratada. Tem que ser tratada com carinho. Quem dá `chutão´ e joga de cabeça baixa, não nasceu pra ser jogador de futebol”, comentava.

Tudo começou na sua terra natal Caxambu, no Estado de Minas Gerais, no primeiro time do Fluminense. Durante um jogo amistoso foi “descoberto” por um dirigente que o levou para o América do Rio. Lá ficou somente uma temporada, até porque o clube carioca não atravessava um bom momento. 

Acabou recebendo proposta do time de São João da Boa Vista, onde ficou cerca de três anos. Segundo Haroldo era um time forte e competitivo. Um de seus melhores companheiros de clube foi o zagueiro Hideraldo Luiz Bellini, o capitão da Copa de 1.958, na Suécia, que levantou a primeira taça mundial pela Seleção Brasileira. O gesto ficou eternizado até os dias atuais. Este mesmo gesto Haroldo fez questão de repetir 54 anos depois, quando foi homenageado pelo futebol suíço/master no dia 07 de abril de 2.012, num momento de alegria e também para relembrar do amigo Bellini (foto). Me revelou, certa vez, emocionado, “que um filme passou na memória”.

Uma passagem pelo América de São José do Rio Preto, até que chegou em Garça, e não saiu mais. Defendeu o seu querido “Azulão” por mais de 10 anos. O Haroldo não foi lá de marcar gols, era ponteiro driblador, partia para cima dos laterais, e gostava de colocar os atacantes na cara do gol. O principal era o centroavante Paraguaio, que cansou de marcar gols frutos de seus cruzamentos. Viveu grandes e inesquecíveis momentos com a jaqueta do “Azulão”. Virou ídolo dos torcedores e sua história jamais será esquecida.

Com a carreira no futebol chegando ao fim, perto de completar 40 anos, o Haroldo ingressou  no serviço público estadual, e durante muitos anos trabalhou no Fórum local, até que conseguiu a merecida aposentadoria. Recordamos sua passagem no Garça, de inicio dos anos 60. Em pé da esquerda para direita: Agamenon, Professor Isaac Elias Farath, João Alexandre Colombani, Walter "Palmital" Garcia, Cury e Silvio "Goiano" Peres; agachados: Alcides Rizi, Damazini, Haroldo, Ceci e Plínio Dias. A foto é no antigo Campo de Vila Williams, tendo ao fundo o Hospital São Lucas. Haroldo faleceu aos 94 anos. Era casado com a Dona Lolinha, e o casal teve três filhos: Haroldinho, Marisa e Marilda.

Como bem disse o seu inseparável amigo e são-paulino Dr. Caio Celso Nogueira de Miranda: “O Haroldo era uma pessoa excepcional e com um coração incrível, amigo dos amigos. Foi um fantástico jogador com a camisa do Garça. Agora virou lenda”.