Por Wanderley `Tico´ Cassolla
O ano de 1979 ficou marcado
na história do futebol profissional de nossa cidade. Foi quando o Garça
conseguiu a proeza de ser rebaixado de divisão e dentro dos gramados. Acho que
foi a única vez que isto aconteceu.
Naquele ano o “Azulão”
disputava a então 1ª. Divisão, que equivale hoje a “Terceirona”. A Federação
Paulista de Futebol dividia as series do futebol da seguinte forma: Especial
(campeão foi o Corinthians), Intermediária (Taubaté), 1ª Divisão (Palmeiras FC
de São João da Boa Vista), 2ª Divisão (Fernandópolis) e 3ª Divisão (Clube
Atlético Bragantino).
O Garça já não era aquele
grande time do começo de 1970. Vinha disputando os campeonatos aos “trancos e
barrancos”, brigava mais para não cair, do que para subir. O presidente era o
Sr. Antônio Fernandes de Souza, que contava com o apoio do prefeito Francisco
de Assis de Bosquê. A torcida também já não era a mesma de antigamente, animada
e que lotava o Platzeck.
Com isto o Garça disputou o
campeonato com muitas dificuldades. No início foi até difícil contratar
jogadores de bom nível. O jeito foi apelar para alguns que disputavam o amador.
O regulamento pra variar, foi um tanto quanto complicado, para ser definidos os
rebaixados. O certame teve 20 times, que foram divididos em duas series: “A” e
“B”. Quanto ao campeão sem problemas, o Palmeiras FC de São João da Boa Vista ganhou
o troféu.
Após os jogos em turno e
returno, e de acordo com o Regulamento, o último colocado da série “A” (Monte
Negro de Osasco), disputaria com o último da série “B” (Garça), em dois jogos,
quem já cairia de divisão. O vencedor deste confronto ainda iria enfrentar o
vice-campeão da “segundona” (Jaboticabal), a permanência na mesma divisão.
Pois bem, contra o Monte
Negro foram dois jogos dramáticos. No primeiro, empate em 0 a 0. No segundo,
disputado no dia 21 de outubro de 1979, novamente empate em 2 a 2 durante os
noventa minutos. Na prorrogação de 15 x 15, o Garça fez incríveis 3 gols,
vencendo, portanto, pelo placar de 5 a 2.
Agora era só esperar o vice
campeão da 2ª Divisão, para um novo desafio. O Garça ficou parado, sem
atividades, até que a Federação marcou os jogos para os dias 5 e 9 de dezembro,
no Estádio “Mario Alves Mendonça”, em São José do Rio Preto/SP.
No primeiro, com arbitragem
de Dulcídio Wanderley Boschilia, o Jaboticabal venceu pelo placar de 2 a 0. No
segundo e decisivo confronto, com arbitragem de Ulisses Tavares da Silva, o
Jaboticabal venceu por 4 a 1, conseguiu o acesso, e o Garça acabou sendo
rebaixado. Porém, o “Azulão”, abandonaria o campeonato, e só retornaria ao
futebol profissional em 1984, na A-III (3ª divisão).
No último e fatídico jogou o
Garça foi escalado pelo técnico Valeriano com Luizinho Andrade; Luiz Carlos,
Jarbas, Lúcio e Dirlei; Romero (Cláudio Belon) e Vanderlei; Gaúcho, Eli, Didi
(Boca) e Gerinha (que marcou o gol de honra). No time do Jaboticabal dois destaques:
o quarto zagueiro Cidão Bernardes (nascido aqui em Garça) e Canhoto, que
defenderia o Garça em 1984. Ambos já faleceram.
LUIZINHO x GAÚCHO: Achamos dois
jogadores que envergaram a camisa do Garça no e estiveram em ação nos jogos em
Rio Preto, e falaram como tudo aconteceu. O goleiro Luís Antonio Andrade, o
Luizinho”, jaqueta 1, atualmente morando em Bauru, recorda como foi defender o
Garça: “O time não era ruim. Mas jogador profissional tem que receber o
salário, senão complica. A medida que o Campeonato avançava, o Garça foi
entrando em decadência. A diretoria se afastava, o torcedor pouco ia no campo,
o time ia se perdendo em campo, e nada de salário. Quanto aos jogos em Rio Preto
não seria fácil ganhar do Jaboticabal. No primeiro jogo perdemos 2 a 0. No
segundo tínhamos que vencer de qualquer jeito. Saímos para o jogo, abrimos a
defesa, e fomos tomando gols. Nunca agarrei tanta bola. De positivo, lembro do
elogio que recebi do `juizão´ Boschilia, durante o jogo, falou que “eu estava
pegando muito”. Nas arquibancadas tinha olheiros de muitos times. Acabei sendo
contratado pelo XV de Jaú”.
E o ponta direita Álvaro
Luiz Nogueira Miguens, o Gaúcho, jaqueta 7, hoje morando em Palmas/TO, lembra
tristemente daquele ano: “O Garça tinha bons jogadores, e foi bem até o meio do
campeonato. A partir daí, muitos problemas extracampo foram surgindo: falta de
pagamento e também dos “bichos”, e até mesmo falta de material. Revoltados,
alguns jogadores queriam abandonar o time. A diretoria assumiu compromisso de pagar
o passivo (ou parte), porém, não cumpriu. Com isto o time foi afundando aos
poucos e terminou na última colocação do grupo. Em São do Rio Preto, nos jogos
contra o Jaboticabal, não tinha chuteiras. Ainda bem que o time do Frigus
emprestou de seus jogadores. Então como ganhar do animado Jaboticabal? Sem
falar que no dia seguinte chegamos em Garça, e a conversa era de que alguns
jogadores “estavam vendidos”. Jamais esperava passar por uma situação igual, eu
que nem tinha contrato com salários, jogava por amor a camisa do Garça”.
Portanto, há exatos 45 anos, uma página triste na história do futebol profissional garcense.