sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Recordar é Viver: "Quando o GFC foi rebaixado"

 




Por Wanderley `Tico´ Cassolla

O ano de 1979 ficou marcado na história do futebol profissional de nossa cidade. Foi quando o Garça conseguiu a proeza de ser rebaixado de divisão e dentro dos gramados. Acho que foi a única vez que isto aconteceu.

Naquele ano o “Azulão” disputava a então 1ª. Divisão, que equivale hoje a “Terceirona”. A Federação Paulista de Futebol dividia as series do futebol da seguinte forma: Especial (campeão foi o Corinthians), Intermediária (Taubaté), 1ª Divisão (Palmeiras FC de São João da Boa Vista), 2ª Divisão (Fernandópolis) e 3ª Divisão (Clube Atlético Bragantino).

O Garça já não era aquele grande time do começo de 1970. Vinha disputando os campeonatos aos “trancos e barrancos”, brigava mais para não cair, do que para subir. O presidente era o Sr. Antônio Fernandes de Souza, que contava com o apoio do prefeito Francisco de Assis de Bosquê. A torcida também já não era a mesma de antigamente, animada e que lotava o Platzeck.

Com isto o Garça disputou o campeonato com muitas dificuldades. No início foi até difícil contratar jogadores de bom nível. O jeito foi apelar para alguns que disputavam o amador. O regulamento pra variar, foi um tanto quanto complicado, para ser definidos os rebaixados. O certame teve 20 times, que foram divididos em duas series: “A” e “B”. Quanto ao campeão sem problemas, o Palmeiras FC de São João da Boa Vista ganhou o troféu.

Após os jogos em turno e returno, e de acordo com o Regulamento, o último colocado da série “A” (Monte Negro de Osasco), disputaria com o último da série “B” (Garça), em dois jogos, quem já cairia de divisão. O vencedor deste confronto ainda iria enfrentar o vice-campeão da “segundona” (Jaboticabal), a permanência na mesma divisão.

Pois bem, contra o Monte Negro foram dois jogos dramáticos. No primeiro, empate em 0 a 0. No segundo, disputado no dia 21 de outubro de 1979, novamente empate em 2 a 2 durante os noventa minutos. Na prorrogação de 15 x 15, o Garça fez incríveis 3 gols, vencendo, portanto, pelo placar de 5 a 2.

Agora era só esperar o vice campeão da 2ª Divisão, para um novo desafio. O Garça ficou parado, sem atividades, até que a Federação marcou os jogos para os dias 5 e 9 de dezembro, no Estádio “Mario Alves Mendonça”, em São José do Rio Preto/SP.

No primeiro, com arbitragem de Dulcídio Wanderley Boschilia, o Jaboticabal venceu pelo placar de 2 a 0. No segundo e decisivo confronto, com arbitragem de Ulisses Tavares da Silva, o Jaboticabal venceu por 4 a 1, conseguiu o acesso, e o Garça acabou sendo rebaixado. Porém, o “Azulão”, abandonaria o campeonato, e só retornaria ao futebol profissional em 1984, na A-III (3ª divisão).

No último e fatídico jogou o Garça foi escalado pelo técnico Valeriano com Luizinho Andrade; Luiz Carlos, Jarbas, Lúcio e Dirlei; Romero (Cláudio Belon) e Vanderlei; Gaúcho, Eli, Didi (Boca) e Gerinha (que marcou o gol de honra). No time do Jaboticabal dois destaques: o quarto zagueiro Cidão Bernardes (nascido aqui em Garça) e Canhoto, que defenderia o Garça em 1984. Ambos já faleceram.

LUIZINHO x GAÚCHO: Achamos dois jogadores que envergaram a camisa do Garça no e estiveram em ação nos jogos em Rio Preto, e falaram como tudo aconteceu. O goleiro Luís Antonio Andrade, o Luizinho”, jaqueta 1, atualmente morando em Bauru, recorda como foi defender o Garça: “O time não era ruim. Mas jogador profissional tem que receber o salário, senão complica. A medida que o Campeonato avançava, o Garça foi entrando em decadência. A diretoria se afastava, o torcedor pouco ia no campo, o time ia se perdendo em campo, e nada de salário. Quanto aos jogos em Rio Preto não seria fácil ganhar do Jaboticabal. No primeiro jogo perdemos 2 a 0. No segundo tínhamos que vencer de qualquer jeito. Saímos para o jogo, abrimos a defesa, e fomos tomando gols. Nunca agarrei tanta bola. De positivo, lembro do elogio que recebi do `juizão´ Boschilia, durante o jogo, falou que “eu estava pegando muito”. Nas arquibancadas tinha olheiros de muitos times. Acabei sendo contratado pelo XV de Jaú”.   

E o ponta direita Álvaro Luiz Nogueira Miguens, o Gaúcho, jaqueta 7, hoje morando em Palmas/TO, lembra tristemente daquele ano: “O Garça tinha bons jogadores, e foi bem até o meio do campeonato. A partir daí, muitos problemas extracampo foram surgindo: falta de pagamento e também dos “bichos”, e até mesmo falta de material. Revoltados, alguns jogadores queriam abandonar o time. A diretoria assumiu compromisso de pagar o passivo (ou parte), porém, não cumpriu. Com isto o time foi afundando aos poucos e terminou na última colocação do grupo. Em São do Rio Preto, nos jogos contra o Jaboticabal, não tinha chuteiras. Ainda bem que o time do Frigus emprestou de seus jogadores. Então como ganhar do animado Jaboticabal? Sem falar que no dia seguinte chegamos em Garça, e a conversa era de que alguns jogadores “estavam vendidos”. Jamais esperava passar por uma situação igual, eu que nem tinha contrato com salários, jogava por amor a camisa do Garça”.

Portanto, há exatos 45 anos, uma página triste na história do futebol profissional garcense.