sexta-feira, 28 de julho de 2017

Recordar é Viver; "Waldir Peres e a alegria de visitar os amigos que marcaram a sua vida"
















Por Wanderley `Tico´ Cassolla


A minha amizade com o goleiro Waldir Peres vem praticamente desde a infância. Nossos pais eram ferroviários da antiga e ótima Companhia Paulista de Estradas de Ferro, nós morávamos na colônia da estação, a família do Waldir não longe dali, quase no final da então Avenida Brasil (hoje Dr. Rafael Paes de Barros), ao lado de um pontilhão do trem, que havia ao lado Supermercado Serve Todos. 

Apesar do Waldir ser mais velho (6 anos), não perdíamos a oportunidade de jogar bola num gramado próximo estação do trem. Se eu já gostava do futebol, ele adorava. E jogava muito bem. Tanto é verdade que virou jogador profissional, ficou famoso, jogou na Seleção Brasileira, enfim uma personalidade da bola.

Nos seus tempos de atleta poucas vezes veio a Garça, o tempo não permitia, por isto nossos contatos eram poucos. Em meados do ano de 2.014, já afastado do futebol, o Waldir começou a visitar Garça com bastante frequência. Nossa amizade voltou a todo vapor, agora contando o reforço do corintiano Enéas Filho. Ele estava com vários projetos, que envolveriam a garotada garcense, através da Prefeitura, ou com uma ONG. Alguns contatos foram mantidos com o Secretário de Esportes, Luiz Teck, e até mesmo com o prefeito João Carlos.  Nos seus planos, voltar novamente a morar em Garça e até mesmo constituir uma nova família.

Num destes encontros, o Waldir me falou: “Tico quero rever alguns dos amigos que marcaram minha vida, da infância e do futebol”.  Programamos a agenda e fomos às visitas. O roteiro começou na casa do sargento Adib, onde ele fez questão de agradecer todos os ensinamentos recebidos. E também pelo fato do Adib o ter liberado no dia formatura do Tiro de Guerra, para ir jogar pelo Garça, onde fez um grande jogo e despertou o interesse da Ponte Preta. 

Depois na casa do Agamenon, reencontrou o craque do Garça, que lhe deu muita força quando foi no Garça. Segundo o Waldir, o Agamenon e o Goiano eram os destaques do time. O Agamenon o ajudava a treinar, tinha um chute forte (um “canhão”), o Waldir saia do campo com as mãos “ardendo”.

Depois mais um encontro: com o Rogerinho e Abegar, outros craques do Garça, onde num animado churrasco, recordaram muitos fatos e causos que vivenciaram no futebol, em especial do Garça do início dos anos 70. Olha que teve cada história, algumas verdadeiras, outras pitorescas.

Outro encontro marcante foi na casa do Sr. Ari Beguine e dona Amélia, que moravam vizinhos de “cerca”, no final da então Avenida Brasil. O Sr. Ari continua residindo no mesmo local. Passamos uma tarde de sábado agradável. A Dona Amélia fez um café e uma mesa recheada de doces. Um especial, o doce da casca de laranja caipira. O Waldir, entre um pedaço e outro, lembrou da sua avó e da mãe Emília, que também faziam o doce. Já era quase noitinha quando saímos de lá.

O último foi na casa da Dona Zenaide Alvarenga, moradora tradicional na colônia do trem da Paulista. A dona Zenaide recordou dos tempos que o “mulequinho” Waldir só queria jogar bola. Quando seus pais precisavam sair, o Waldir ficava na casa dela. Se fazia “arte” a Dona Zenaide chegava junto e lá vinha “sermão”.  Uma tarde de muitas risadas. Saímos dali e dentro do carro o Waldir falou: “Tico, hoje foi um dia feliz. Depois de um mês visitei grandes amigos que fizeram parte da minha vida, da minha história. Se hoje sou o que sou, se conheço o mundo, devo muito a eles. Logo estarei morando em Garça, vamos reunir todos, já pensou, vai ser bem legal?"

Infelizmente Deus não quis assim. Tudo foi devidamente registrado como mostram as fotos. Hoje fico a pensar. Porque o Waldir pediu para rever estes seus amigos? Porque se despediu deles com aquele abraço fraternal e o coração cheio de felicidades? O Waldir partiu no último domingo, com a certeza da missão cumprida, se transferiu dessa vida para “fechar o gol” nos campos celestiais. Mas ficará por todo o sempre incrustado no carinho, no coração, na ternura e na sinceridade, do nosso cantinho da saudade.