Por Wanderley `Tico´ Cassolla
A minha amizade com o
goleiro Waldir Peres vem praticamente desde a infância. Nossos pais eram
ferroviários da antiga e ótima Companhia Paulista de Estradas de Ferro, nós morávamos
na colônia da estação, a família do Waldir não longe dali, quase no final da
então Avenida Brasil (hoje Dr. Rafael Paes de Barros), ao lado de um pontilhão
do trem, que havia ao lado Supermercado Serve Todos.
Apesar do Waldir ser mais
velho (6 anos), não perdíamos a oportunidade de jogar bola num gramado próximo
estação do trem. Se eu já gostava do futebol, ele adorava. E jogava muito bem.
Tanto é verdade que virou jogador profissional, ficou famoso, jogou na Seleção
Brasileira, enfim uma personalidade da bola.
Nos seus tempos de atleta
poucas vezes veio a Garça, o tempo não permitia, por isto nossos contatos eram
poucos. Em meados do ano de 2.014, já afastado do futebol, o Waldir começou a visitar
Garça com bastante frequência. Nossa amizade voltou a todo vapor, agora
contando o reforço do corintiano Enéas Filho. Ele estava com vários projetos, que
envolveriam a garotada garcense, através da Prefeitura, ou com uma ONG. Alguns contatos
foram mantidos com o Secretário de Esportes, Luiz Teck, e até mesmo com o
prefeito João Carlos. Nos seus planos,
voltar novamente a morar em Garça e até mesmo constituir uma nova família.
Num destes encontros, o
Waldir me falou: “Tico quero rever alguns dos amigos que marcaram minha vida,
da infância e do futebol”. Programamos a
agenda e fomos às visitas. O roteiro começou na casa do sargento Adib, onde ele
fez questão de agradecer todos os ensinamentos recebidos. E também pelo fato do
Adib o ter liberado no dia formatura do Tiro de Guerra, para ir jogar pelo
Garça, onde fez um grande jogo e despertou o interesse da Ponte Preta.
Depois na casa do Agamenon,
reencontrou o craque do Garça, que lhe deu muita força quando foi no Garça.
Segundo o Waldir, o Agamenon e o Goiano eram os destaques do time. O Agamenon o
ajudava a treinar, tinha um chute forte (um “canhão”), o Waldir saia do campo com
as mãos “ardendo”.
Depois mais um encontro: com
o Rogerinho e Abegar, outros craques do Garça, onde num animado churrasco,
recordaram muitos fatos e causos que vivenciaram no futebol, em especial do
Garça do início dos anos 70. Olha que teve cada história, algumas verdadeiras,
outras pitorescas.
Outro encontro marcante foi
na casa do Sr. Ari Beguine e dona Amélia, que moravam vizinhos de “cerca”, no
final da então Avenida Brasil. O Sr. Ari continua residindo no mesmo local.
Passamos uma tarde de sábado agradável. A Dona Amélia fez um café e uma mesa
recheada de doces. Um especial, o doce da casca de laranja caipira. O Waldir,
entre um pedaço e outro, lembrou da sua avó e da mãe Emília, que também faziam
o doce. Já era quase noitinha quando saímos de lá.
Infelizmente Deus não quis
assim. Tudo foi devidamente registrado como mostram as fotos. Hoje fico a
pensar. Porque o Waldir pediu para rever estes seus amigos? Porque se despediu deles
com aquele abraço fraternal e o coração cheio de felicidades? O Waldir partiu
no último domingo, com a certeza da missão cumprida, se transferiu dessa vida para “fechar o gol” nos
campos celestiais. Mas ficará por todo o sempre incrustado no carinho, no
coração, na ternura e na sinceridade, do nosso cantinho da saudade.