Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Pelos
meus cálculos a maior goleada sofrida pelo Garça, foi na derrota para a
Associação Atlética Guairense, pelo placar de 10 a 0, jogando em Guaíra/SP, no
ano de 1.976.
Mas depois, consultando o livro “Trajetória do
Futebol Profissional do Garça – 1.950 a 2.004 -, de autoria do sociólogo e
corintiano Luiz Mauricio Teck de Barros, verifiquei que o Garça tomou duas
goleadas e pelo mesmo placar: 8 a 0. A
primeira foi para o Municipal de Paraguaçu Paulista, no ano de 1.967. A outra
foi para a Guairense, no dia 25 de julho de 1.976, onde estive presente. Errei
no placar por 2 gols. Sobre o jogo em Guaíra, o Garça folgou no campeonato da
então 2ª divisão e foi convidado o jogo
festivo contra a Guairense, que tinha subido para a 3ª divisão. O prélio na distante Guaíra, foi uma
verdadeira aventura. Para poupar alguns jogadores, o “Azulão” foi com um time
reserva, completado com atletas que estavam fazendo testes. Eu entrei nesta
“barca furada”.
Domingo
cedo, às 6 horas, a delegação partiu de ônibus da prefeitura. Chegando lá, um
estádio lotado e muita animação entre os guairenses. O Garça tomou uma sonora
goleada: 8 a 0, e poderia ter sido bem mais. Um detalhe: o campo ficava no
entorno da cidade, quase que no meio de um bosque. Atrás do banco de reservas,
as árvores do bosque. Numa delas havia uma sirene, que a cada gol era tocada,
num barulho ensurdecedor. A certa altura, a Guairense desandou a marcar gols, e
o homem da sirene, achou por bem deixar ligada direta. Foi duro de aguentar o
barulho. O Garça jogando mal e perdendo por 6 a 0.
No
intervalo do jogo, o presidente Argemiro Beguine, nos vestiários, começou a
tirar o terno e vestir o uniforme de jogo, pedindo insistentemente para o
técnico Martin Carvalho, entrar no lugar do lateral esquerdo Geraldo. A
chuteira ele pegou uma reserva do Pedrosão nº 44. Segundo o Beguine, ele era
tão ruim de bola, que não jogava nem no campeonato de terra da Vila Manolo. Foi
dificil demovê-lo da ideia. Até que os jogadores mais experientes, Cláudio
Belon, João Luiz e Osmar o convenceram a não entrar, não iria pegar bem. Mas
creio que o presidente Beguine deveria jogar melhor que o titular. Depois o
técnico Martin Carvalho, mudou algumas posições, e o time tomou mais dois gols.
Confesso que nunca relei tanto o pé na bola, só na soltura da bola, foram oito vezes.
O
retorno para Garça também foi complicado. Assim que o busão (ou “rasga roupa”,
como a boleirada o apelidava), passou por Barretos, simplesmente apagou tudo e
ficou parado no meio da rodovia. Em tempos de comunicação difícil (nada de
celular), não restou alternativa, senão a delegação dormir dentro do ônibus. Alguns jogadores que tinham que
trabalhar, conseguiram carona de carro, e retornaram para Garça. Quanto ao
ônibus, depois de consertado, chegou em Garça por volta das 8 horas da noite da
segunda feira.
A VINGANÇA DE HARU: No ano seguinte o Garça enfrentaria novamente a Guairense, agora em jogo válido pelo campeonato, pois o time de Guaíra conseguiu novo acesso. Uma grande vitória por 1 a 0. Assim que chegamos lá, a torcida gritava insistentemente “ano passado foi 8, hoje será 10 a 0”.
O ônibus ficava parado na rua. Para entrar no vestiário, tínhamos que caminhar um bom pedaço a pé, era gozação pra tudo quanto é lado. Só que valendo dois pontos o Garça jogou outra bola e ganhou. O destaque foi o ponta direita Massaharu Shimabuku, o “Haru”, que, numa tarde inspirada, marcou o gol da vitória. Diga-se de passagem, um golaço.
A Guairense não podia perder, senão iria para a zona do rebaixamento. Alguns jogadores, amigos do Haru, pediam para ele “maneirar”, pois estavam precisando do resultado. O jogo caminhava para o final empatado em 0 a 0, quando Haru, recebeu passe do lateral Túlio Calegaro e saiu driblando. Passou pelo seu marcador, fintou o beque e deu uma meia lua no goleiro, só não entrou com bola e tudo porque não quis. Pronto vitória e “vingança” concretizada.
Veja o Haru com a bonita camisa branca do Garça, no aquecimento em Guaíra. Recordando um pouco da carreira do veloz ponta direita Haru: começou a carreira na base do Marilia Atlético Clube, no ano de 1.973. Jogou até o ano de 1.998, encerrando a carreira com 44 anos, no Hiroshima Orange FC, do Japão, depois de 8 temporadas. Além do Garça, passou pelo Esporte Clube São José, União Bandeirantes do Paraná (8 anos), Candidomotense, Cafelandense e no São Bento de Marilia. Naquela época Haru quebrou a escrita que japonês era ruim de bola.
Assim que retornou do Japão fixou residência em Santos, uma vez que seus três filhos, Raone, Róbson e Maycon, acertaram com o Santos FC (foto). Sempre ligado ao esporte, Haru (foto atual) montou a “Oficina de Craques Haru”, lapidando jovens valores para o futebol. Nestes poucos mais de 20 anos, já formou 192 atletas que se tornaram profissionais.