sexta-feira, 28 de março de 2025

Recordar é Viver: "Ali Dahrouge, do Líbano pra Garça"

 

Tico Cassola e Ali

Por Wanderley `Tico´ Cassolla

A coluna recorda a carreira esportiva de Ali Dahrouge, um imigrante natural do Líbano, há muitos anos radicado em nossa cidade. Hoje ele se orgulha de ter a nacionalidade brasileira. Nascido no Líbano, na cidade de El Bire, região "Vale do Beca", distante uns 30 km da capital, o Ali chegou ainda criança ao Brasil, juntamente com os pais, indo morar no Estado do Paraná. Conviveu um bom tempo na região de Maringá, Cruzeiro do Oeste e Nova Esperança. Uma região tradicional no futebol, onde eram realizados campeonatos de bom nível. Em Nova Esperança o Ali defendeu o Comercial, no certame municipal, atuando as vezes de quarto zagueiro, outras de lateral direito.

O dia 16 de maio de 1965, foi inesquecível para ele. O Santos FC jogou em Maringá, com Pelé em campo, e goleou o Grêmio Maringá, então bi-campeão paranaense, pelo placar de 11 a 1, fazendo 8 gols somente no segundo tempo. O jogo, em comemoração ao aniversário de Maringá, aconteceu no Estádio Regional “William Davids”, perante 30 mil torcedores, dentre os quais o Ali, que saiu deslumbrado do campo, vendo uma verdadeira aula de futebol e cada golaço! Os artilheiros do Santos: Toninho Guerreiro 3, Pelé, Coutinho e Peixinho 2, Lima e Abel, 1 gol. Pronto, foi o suficiente para virar torcedor do Santos, e eleger Pelé, o seu ídolo no futebol. Mas também passou a admirar o craque Roberto Rivelino, do Corinthians, um canhotinha de ouro.

Em 1970 o Ali chegou em Garça. Um jovem com seus 20 e poucos anos, que logo viu que aqui seria sua cidade eterna, que o recebeu de braços abertos. Foi criando um grande círculo de amizades, fazendo amigos e mais amigos.

Como bom esportista, logo se enturmou com a galera do futebol. Acabou sendo convidado para defender o glorioso Clube Atlético Ipiranga. E um jogo para o Ali foi inesquecível, no ano de 1972, quando enfrentou o time do Frigus, na inauguração do extinto Campo da Escola Agrícola, em Vila Manolo. O Ipiranga venceu por 1 a 0, gol do Claudião. Eram os dois melhores times da época, travavam grandes duelos. Foi um dia festivo de casa cheia, muita gente no novo campo, com vestiários e um bom gramado. Evidentemente a torcida do Frigus era bem mais numerosa, formada por empregados do frigorífico, a maioria residia na região da Vila Manolo ou Vila Nova. Entre os torcedores, a presença ilustre de Jaime Nogueira Miranda, nomeado interventor federal em Garça.

O Ali estava no banco, até que o técnico Faruk Salmen o colocou em campo, na "cabeça de área", para garantir o resultado, o que acabou dando certo. "Estava num dia inspirado, corri muito na marcação atrás dos caras, felizmente deu certo. Tivemos uma vitória maiúscula e levamos um troféu para casa".

Veja o Ipiranga que entrou em campo na inauguração do campo: em pé, da esquerda para direita: Mamede (dirigente), Bertinho, Cripa, Béia Galvão, Buzega e Celsão; agachados: Ali, Zé Santana, Spuri, Sire, Claudião (autor do gol) e Davi.

Devido a compromissos profissionais, o Ali não jogou muito tempo no amador. Optou, então, para disputar o futebol suíço. E graças aos amigos foi jogar no time da Rádio Clube de Garça, o “Expressinho RCG”. O Ali está entre os primeiros “peladeiros” tradicionais da modalidade. Disputou vários campeonatos ainda no extinto Campo de Pelada, que tinha no interior do bosque municipal. Ali no “terrão” foram disputados os primeiros certames, envolvendo todos os times da cidade. O Ali teve a oportunidade de jogar ao lado de bons jogadores, dentre os quais, se recorda do João Trinca, Corinho do Banco do Brasil, Iraldo Lorenzetti, Luizinho Conessa, Clodoaldo Serzedelo e tantos outros.



Recordamos uma das formações do Expressinho RCG, que posou para a posteridade no extinto campo do Bosque Municipal. Em pé, da esquerda para direita: Nilson Bastos Bento (dirigente), Benedito Pereira, Wolsey Burigato, Zé Abraão, Clodoaldo Serzedelo, Ali Dahrouge e João Trinca; agachados: Torete, Iraldo Lorenzetti, Mário Tomita, Luizinho Conessa e Corinho.

Já em final de carreira, ainda jogou nas tradicionais “peladas” do Banespinha, para se divertir, manter a forma física e falar de futebol. No lado profissional é formado em advocacia na Fundação de Ensino “Eurípedes Soares Rocha” (atual UNIVEM), em Marília, em 1975. No ano seguinte passou a exercer a nobre profissão até os dias atuais.

O Ali Dahrouge foi mais um daqueles esportistas que chegou em Garça, viu e gostou, jogou muita bola e até virou pescador. Para não sair jamais daqui.