Por Wanderley `Tico´ Cassolla"
Nos bons tempos do rádio garcense – AM – muitos radialistas surgiram, foram revelados nos microfones. Indiscutivelmente o grande professor foi o palmeirense Nilson Bastos Bento. Com isto, muitos fizeram história e tiveram uma bonita trajetória no deslumbrante mundo da comunicação. Hoje a coluna faz a homenagem ao corintiano Jorge Ismail Gusmão Ábido, recordando uma passagem que marcou a carreira dele. Um fato pitoresco que jamais será esquecido. Até porque este articulista, teve participação decisiva no “salvamento” do valente repórter Jorge Ismail.
Tudo aconteceu no dia 26 de setembro de 1993, quando da transmissão do jogo Atlético Sorocaba 4 x 2 Garça, realizado no Campo da Estrada, em Sorocaba, válido pelo campeonato da então 3ª Divisão Paulista.
Naquele ano o Jorge Ismail comprou o horário esportivo da Rádio Centro Oeste-AM. Montou a sua equipe de trabalho: Tadeu Julião, narrador do “tem curimba na rede”, João Carlos Camacho e Ari Lima, comentaristas, o Jorge Ismail era repórter de campo. Na ausência dos comentaristas, este articulista era convidado. Cansei de viajar pelo `interiorzão´ paulista aos domingos, muitas vezes passando um sufoco danado nas cidades, principalmente quando o Garça vencia no campo do adversário. Foram verdadeiras aventuras, muitas improvisações, confusões, chegar em cima da hora num campo, o jogo é em outro local, etc.
Pois bem, o campeonato de 93 contou com 42 times de todo o interior. Na primeira fase o Garça classificou com tranquilidade. Na segunda fase um grupo de quatro: Garça, Guairense, São Bernardo e Atlético Sorocaba. Somente o campeão prosseguia. O Garça empatou em São Bernardo 0 a 0. Depois no “Platzeck”, ganhou do Guaírense 1 a 0. Na rodada seguinte, recebeu a visita do Atlético Sorocaba, empatou 1 a 1. Pois bem, neste jogo, o repórter Jorge Ismail entrevistou o goleador Serginho Chulapa (foto), que já estava em final de carreira, com seus quase 40 anos, que disse na entrevista: “o Garça vai em Sorocaba na semana que vem, vocês vão ver o que é `bão´ lá, até porque precisaremos vencer”.
No domingo cedo a equipe esportiva partiu para Sorocaba. Na viagem vimos a beira da estrada uma bonita cachoeira, paramos o carro, e posamos para foto: Ari Lima, Tadeu Julião, Jorge Ismail e este articulista. Só não lembramos onde foi o “retrato”.
Quanto ao jogo foi no antigo campo do Estrada, arquibancada de madeira, alambrado rente ao gramado, um verdadeiro caldeirão. Este jogo nós assistimos de camarote, o Ari Lima foi de comentarista. Uma cabine de transmissão pequenina, num canto do campo, difícil de narrar. Em alguns lances o Tadeu Julião precisava esticar o pescoço para fora dela, senão perdia o lance. A Rádio Centro Oeste era a única na transmissão. O Garça até que jogou bem, merecia o empate. Só que o trio de arbitragem, totalmente “caseiro”, operou o Azulão, que perdeu por 4 a 2.
O Serginho Chulapa marcou um gol de cabeça, após cobrança de escanteio, depois de dar uma tremenda de uma cotovelada no zagueiro Washington, do Garça. Atrás do gol, o repórter Jorge Ismail criticou bastante (e com razão) o juizão do jogo neste lance. Uma falta clara. Como havia poucos torcedores no campo, os comentários do Jorge Ismail ecoavam por todo o campo.
No final do jogo, o trio de arbitragem vai caminhando para os vestiários. O Jorge Ismail se aproxima e pergunta “E aí juizão, tá contente com o resultado?”. Logicamente não teve resposta, empurrou o microfone e deixou o gramado.
Finalizando os trabalhos, ninguém mais no campo, o Jorge Ismail enrolando aquele emaranhado de fios nos braços, bem no centro do campo. Eis que, repentinamente, surge no gramado, o trio de arbitragem. O juizão, era um policial militar, deveria ter seus 1,90 metros, um bigodão de impor respeito, partindo em direção ao Jorge Ismail, perguntando: “E aí repórter, fala alguma coisa comigo agora”. Pressionado, o Jorge Ismail começou a andar para trás no melhor estilo “Michael Jackson”, deslizando os pés pelo gramado. O juizão foi crescendo e xingando. Eu lá na arquibancada pensei “Agora o Jorge Ismail vai apanhar feio, o policiamento já foi embora”.
Instintivamente, desci a arquibancada, subi no alambrado e gritei “é isto mesmo juizão, você roubou o Garça e agora quer o quê? Se você partir para cima do repórter, eu estou registrando tudo aqui, e vou ser testemunha dele, só tem eu aqui no campo. E ia clicando minha máquina de fotografia Kodak”. E não é que deu certo? O juizão pensou bem, parou, fez meia volta, juntou aos bandeirinhas e foram embora. Eu na arquibancada, tremendo de medo, mas de olho num portão aberto para correr pelas ruas da cidade, caso viesse pro meu lado. Inda bem que tudo deu certo. Até hoje recordo (e sempre dou risadas) de quando o “valente” repórter Jorge Ismail foi salvo por uma simples e pequena máquina fotográfica.
A CARREIRA: O Jorge Ismail foi um dos grandes radialistas de nossa cidade. Com aquele vozeirão forte e inconfundível marcou sua trajetória no rádio garcense entre os anos de 1988 à 1998. Começou ainda bem jovem, apresentando o programa "Domingo na Roça” na Rádio Centro Oeste-AM/FM. Depois falou nos microfones da Rádio Líder FM e Rádio Universitária. Paralelamente, ainda trabalhava na loja Princesinha, após a jornada no rádio. Quem não se lembra do Jorge Ismail apresentando os programas Balanga Beiço, Bola no Gol e o Plantão de Polícia?
O sucesso ele alcançou, graças aos “professores”, que muito lhe ensinaram, e faz questão de agradecer até hoje: Nilson Bastos Bento, Marco Morais do “basquete” e Roberto Dias. O rádio abriu muitas portas para ele.
Desde o ano de 1999 o Jorge Ismail está na cidade de São Luiz, no Maranhão, onde é estabelecido, juntamente com a esposa Elizete (foto), com uma empresa de segurança eletrônica. Mesmo distante, jamais esquece de suas raízes, desde os tempos que morava na Vila Salgueiro. Sem falar que é um verdadeiro embaixador da “Sentinela do Planalto”. Por onde vai, faz questão de divulgar o nome de sua querida e adorada cidade de Garça.