sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Recordar é Viver: "A seleção brasileira viajando de trem"






Por Wanderley `Tico´ Cassolla


Outros tempos. Outro futebol. A foto que recebemos da Seleção Brasileira de 1.958, esperando o trem da estação de Poços de Caldas/MG foge dos padrões atuais. Seria possível hoje em dia uma cena desta? Parte da delegação na maior tranquilidade, da esquerda para direita: Nilton Santos, Dino Sani, Gilmar, Bellini, Garrincha, Moacir, Dida, Joel, Mazolla, Zagalo e Pelé. Naqueles tempos era assim mesmo. Sem muita badalação, era jogar bola e trazer o primeiro título mundial para o Brasil.

Fica até difícil imaginar “as estrelas” de hoje numa situação como esta. De fato o tempo passou, o mundo mudou. Na era da internet, carrões, jatinhos particulares e badalações, o “extra” campo vai deixando o futebol num segundo plano. Mas creio que a grande maioria de torcedores ainda prefere o verdadeiro futebol brasileiro de antigamente. Onde a arte e o malabarismo individual do craque brasileiro superava o preparo físico e os esquemas táticos praticados na atualidade. 

Como bem disse o corintiano Roberto Justo Fernandes: “a boleirada de hoje não quer sabe de jogar bola, não tem amor ao time, e não chega nem nos pés dos jogadores de antigamente. Craques da bola? O Brasil já não fabrica mais. Por isto que será difícil a Seleção Brasileira  ganhar outro título mundial”.

PRÉ-TEMPORADA MINEIRA: Você sabia que a seleção fez a pré-temporada na cidade de mineira de Poços de Caldas? Tudo começou ali e foi muito bem planejado pelos dirigentes brasileiros. Dos 33 convocados na lista inicial, o médio Zizinho, já com 37 anos, foi a ausência reclamada por parte da imprensa. 

O elenco se apresentou no dia 7 de abril e iniciou os treinamentos nas cidades mineiras de Poços de Caldas e Araxá. Para fechar a lista de 22 jogadores, a equipe fez quatro jogos preparatórios – dois contra o Paraguai (5 a 1 e 0 a 0) e dois contra a Bulgária (4 a 0 e 3 a 1). Houve ainda um jogo-treino contra o Flamengo (derrota por 1 a 0) e outro contra o Corinthians, a três dias da viagem para a Europa. O Brasil goleou por 5 a 0, com gols de Pepe (2), Garrincha (2) e Mazzola. 

Mas aí veio o drama: Pelé recebeu uma entrada violenta do lateral corintiano Ari Clemente e sofreu torção de tornozelo. Pelé corria o risco de ser cortado (Almir Pernambuquinho entraria em seu lugar). Só que a comissão técnica decidiu levar Pelé mesmo machucado, pois ele estaria apto a entrar na terceira partida.

Em se falando desta preparação não podemos deixar de registrar as fotos que o nosso conterrâneo e palmeirense Pedro da Silva Falcão ganhou de um amigo policial militar, que na época fez parte da equipe de segurança da seleção brasileira. A maioria estão autografadas (foto) pelos futuros craques campeões. Uma verdadeira relíquia. Antes de desembarcar na Suécia, o escrete nacional passou na Itália para dois amistosos: 4 a 0 contra a Inter de Milão e 4 a 0 na Fiorentina. Neste amistoso, o ponta direita Garrincha foi sacado do time por causa de uma molecagem nessa partida. Ele driblou os adversários, passou pelo goleiro e, em cima da linha de gol, ficou esperando a chegada de mais outro defensor antes de tocar de calcanhar.

A campanha vitoriosa em 6 jogos: Brasil 3 x 0 Áustria, Brasil 0 x 0 Inglaterra, Brasil 2 x 0 Rússia, Brasil 1 x 0 País de Gales, Brasil 5 x 2 França e Brasil 5 x 2 Suécia, final disputada no dia 29 de junho de 1.958.