sábado, 19 de março de 2022

No futsal russo, garcense é destaque em matéria do G1

 

O garcense Silvio está há anos no futsal russo

O conhecido profissional garcense da área da preparação física, Sílvio Cavalheiro de Oliveira, há anos está atuando no futsal da Rússia. O portal da Globo fez uma extensa matéria com ele, relatando toda a situação vivida naquele país após o início da guerra com a Ucrânia. Reproduzimos abaixo, na íntegra, a ampla reportagem do G1, da TV Tem, assinada pelo jornalista Leonardo Moreno. Confira;

"Desde 2013, a vida de Silvio Cavalheiro, de 44 anos, se divide entre Garça, no interior do estado de São Paulo, e a Rússia, país onde trabalha atualmente como preparador físico do time de futsal Gazprom Ugrat. Desde o início da guerra com a Ucrânia, no entanto, a vida tranquila e promissora que ele levava no leste europeu mudou.

O profissional de educação física, que mora em Lyubertsy, na região de Moscou, foi convencido a ficar até o término de seu contrato, em junho deste ano, assim como a maioria dos colegas da mesma nacionalidade.


Esposa e filho de Silvio em viagem a Moscou

A decisão de continuar na 
Rússia, porém, não foi fácil, e a própria família de Silvio segue pedindo todos os dias para que ele volte imediatamente ao Brasil. A esposa e o filho estavam com ele no país europeu até o fim do ano passado.

Com a desvalorização do rublo diante do dólar, foram concedidos reajustes salariais aos brasileiros para compensar o câmbio. Mas, assim como os demais conterrâneos com quem ele convive, Silvio está impossibilitado de enviar dinheiro aos familiares fora da Rússia.

"De início, o dólar deu uma disparada absurda, quase 50% ou mais, e começaram a bloquear cartões para transações internacionais. Aqui tem muitas casas de câmbio, então os russos começaram a trocar rublos por dólares por medo de desvalorização da moeda. E, aí, o governo proibiu a venda de dólar até setembro", contou o preparador físico, que é formado em Marília (SP).

Além do veto às transferências para contas em outros países, Silvio conta que o saque de dólares foi limitado, assim como a retirada da moeda americana em espécie do país.

Segundo Silvio, eletrônicos, carros e imóveis cotados em dólar na Rússia "dobraram de preço desde o começo da guerra". Já os produtos do dia a dia, vendidos nos mercados, não sofreram grande impacto para a população russa até o momento, mesmo com as sanções internacionais na área econômica.

"No Brasil, todo mundo está reclamando que o preço da gasolina subiu muito, mas aqui a gente não vê isso, o preço da gasolina está do mesmo jeito, não mexeu nada até o momento", relatou.

"Por enquanto, os russos não sentem esse impacto, não deu tempo de as sanções fazerem efeito ainda. Para os russos, até o momento, é uma vida normal em muitos aspectos", continuou o garcense, que fez a ressalva sobre o fechamento de redes de marcas estrangeiras.

"Nos shoppings, metade das lojas estão fechadas. Mc Donald's, Zara, Nike, Puma, Adidas, Apple estão indo embora", relatou o brasileiro. Para ele, esse é um dos fatores mais impactantes até agora. "Muitos empregos serão perdidos."


Sílvio com colegas de trabalho

'Lavagem cerebral'

Outro ponto que tem chamado muito a atenção de Silvio é a adesão da maioria dos russos, de acordo com sua impressão pessoal, ao discurso oficial do governo. "Acontece uma espécie de 'lavagem cerebral'. E quem é contra o presidente Putin normalmente não se manifesta, pois as sanções são muito severas".

Censura na imprensa, proibição do Facebook e do Instagram, repressão contra ativistas e controle da opinião pública são outras questões que têm chocado Silvio. Para usar as redes sociais vetadas, ele precisa burlar o sistema de controle, com outros aplicativos e alterações no GPS.


Preparador-físico garcense em ação na Rússia

"Aqui não pode falar que a guerra é uma guerra, esse é o primeiro princípio. Oficialmente, é uma operação militar. Logo que começou o conflito, já soltaram algumas leis novas. Publicar alguma coisa nas redes sociais contra a guerra ou sobre a guerra, que não for a favor, primeiro você toma uma multa e, depois, se for reincidente, pode pegar prisão de cinco a 15 anos", detalhou o profissional de educação física.

Na última semana, Silvio esteve na Praça Vermelha, no coração de Moscou, e o intenso policiamento chamou a atenção dele. É no local que costumam ocorrer protestos contra o conflito bélico.

"Algumas pessoas gritam 'não à guerra', mas a abordagem da polícia é imediata. Quando eu estava lá, havia muitas, muitas viaturas prontas para levar manifestantes detidos. Os policiais ficam circulando no meio da multidão."

O preparador físico contou que não conhece ninguém que tenha participado de protestos contra a guerra, pois "são poucos aqueles que têm coragem de fazer isso".


Silvio posa com os troféus conquistado por sua equipe

Por outro lado, Silvio também não conhece ninguém que tenha ido para a guerra no país vizinho. "No clube em que trabalho, sempre pergunto para o pessoal se tem algum parente que foi lutar, mas eles dizem que o exército é muito grande mesmo, então é quase impossível que civis sejam convocados."

Segundo o brasileiro de Garça, os russos são muito seguros em relação ao poderio de suas forças armadas. "Eles não acreditam que o país possa ser atacado em seu território ou que o exército seja insuficiente. Os russos pensam muito em guerra. Mesmo quando cheguei aqui, em 2013, até me assustei. Tudo para eles é guerra."

Andamento normal

 Se a intervenção na Ucrânia tem deixado um rastro de destruição por lá, com milhões de cidadãos fugindo para outros países, em comparação, a rotina russa pouco tem sido afetada. Mais um exemplo simbólico é a continuidade, sem alterações, dos torneios esportivos.

 "Campeonato está tendo um andamento normal. Treino continua o mesmo. Final de semana disputaremos as semifinais da nossa copa", disse Silvio.