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O garcense Silvio está há anos no futsal russo |
O conhecido profissional garcense da área da preparação física, Sílvio Cavalheiro de Oliveira, há anos está atuando no futsal da Rússia. O portal da Globo fez uma extensa matéria com ele, relatando toda a situação vivida naquele país após o início da guerra com a Ucrânia. Reproduzimos abaixo, na íntegra, a ampla reportagem do G1, da TV Tem, assinada pelo jornalista Leonardo Moreno. Confira;
"Desde 2013, a vida de Silvio
Cavalheiro, de 44 anos, se divide entre Garça, no interior do estado de São Paulo, e a Rússia,
país onde trabalha atualmente como preparador físico do time de futsal Gazprom
Ugrat. Desde o início da guerra com a Ucrânia, no entanto, a vida tranquila e
promissora que ele levava no leste europeu mudou.
O profissional de educação física, que mora em Lyubertsy, na região de Moscou, foi convencido a ficar até o término de seu contrato, em junho deste ano, assim como a maioria dos colegas da mesma nacionalidade.
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Esposa e filho de Silvio em viagem a Moscou |
A decisão de continuar na Rússia, porém, não foi fácil, e a própria família de Silvio segue pedindo todos os dias para que ele volte imediatamente ao Brasil. A esposa e o filho estavam com ele no país europeu até o fim do ano passado.
Com a desvalorização do rublo diante do dólar, foram concedidos reajustes salariais aos brasileiros para compensar o câmbio. Mas, assim como os demais conterrâneos com quem ele convive, Silvio está impossibilitado de enviar dinheiro aos familiares fora da Rússia.
"De início, o dólar deu uma disparada absurda, quase 50% ou mais, e começaram a bloquear cartões para transações internacionais. Aqui tem muitas casas de câmbio, então os russos começaram a trocar rublos por dólares por medo de desvalorização da moeda. E, aí, o governo proibiu a venda de dólar até setembro", contou o preparador físico, que é formado em Marília (SP).
Além do veto às transferências para contas em outros países, Silvio conta que o saque de dólares foi limitado, assim como a retirada da moeda americana em espécie do país.
Segundo Silvio, eletrônicos, carros e imóveis cotados em dólar na Rússia "dobraram de preço desde o começo da guerra". Já os produtos do dia a dia, vendidos nos mercados, não sofreram grande impacto para a população russa até o momento, mesmo com as sanções internacionais na área econômica.
"No Brasil, todo mundo está reclamando que o preço da gasolina subiu muito, mas aqui a gente não vê isso, o preço da gasolina está do mesmo jeito, não mexeu nada até o momento", relatou.
"Por enquanto, os russos não sentem esse impacto, não deu tempo de as sanções fazerem efeito ainda. Para os russos, até o momento, é uma vida normal em muitos aspectos", continuou o garcense, que fez a ressalva sobre o fechamento de redes de marcas estrangeiras.
"Nos shoppings, metade das lojas estão fechadas. Mc Donald's, Zara, Nike, Puma, Adidas, Apple estão indo embora", relatou o brasileiro. Para ele, esse é um dos fatores mais impactantes até agora. "Muitos empregos serão perdidos."
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Sílvio com colegas de trabalho |
'Lavagem cerebral'
Outro ponto que tem chamado muito a atenção de Silvio é a adesão da maioria dos russos, de acordo com sua impressão pessoal, ao discurso oficial do governo. "Acontece uma espécie de 'lavagem cerebral'. E quem é contra o presidente Putin normalmente não se manifesta, pois as sanções são muito severas".
Censura na imprensa, proibição do Facebook e do Instagram, repressão contra ativistas e controle da opinião pública são outras questões que têm chocado Silvio. Para usar as redes sociais vetadas, ele precisa burlar o sistema de controle, com outros aplicativos e alterações no GPS.
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Preparador-físico garcense em ação na Rússia |
"Aqui não pode falar que a guerra é uma guerra, esse é o primeiro princípio. Oficialmente, é uma operação militar. Logo que começou o conflito, já soltaram algumas leis novas. Publicar alguma coisa nas redes sociais contra a guerra ou sobre a guerra, que não for a favor, primeiro você toma uma multa e, depois, se for reincidente, pode pegar prisão de cinco a 15 anos", detalhou o profissional de educação física.
Na última semana, Silvio esteve na Praça Vermelha, no coração de Moscou, e o intenso policiamento chamou a atenção dele. É no local que costumam ocorrer protestos contra o conflito bélico.
"Algumas pessoas gritam 'não à guerra', mas a abordagem da polícia é imediata. Quando eu estava lá, havia muitas, muitas viaturas prontas para levar manifestantes detidos. Os policiais ficam circulando no meio da multidão."
O preparador físico contou que não conhece ninguém que tenha participado de protestos contra a guerra, pois "são poucos aqueles que têm coragem de fazer isso".
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Silvio posa com os troféus conquistado por sua equipe |
Por outro lado, Silvio também não conhece ninguém que tenha ido para a guerra no país vizinho. "No clube em que trabalho, sempre pergunto para o pessoal se tem algum parente que foi lutar, mas eles dizem que o exército é muito grande mesmo, então é quase impossível que civis sejam convocados."
Segundo o brasileiro de Garça, os russos são muito seguros em relação ao poderio de suas forças armadas. "Eles não acreditam que o país possa ser atacado em seu território ou que o exército seja insuficiente. Os russos pensam muito em guerra. Mesmo quando cheguei aqui, em 2013, até me assustei. Tudo para eles é guerra."
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