Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Confesso que conheço muitas
pessoas que gostam de futebol. Alguns fanáticos ao extremo, outros simplesmente
torcedores. Mas tem um, que além de apaixonado, entendia do assunto. Estamos
falando do João Cosme Folguieri, que além de torcedor, foi jogador e dirigente
no futebol garcense. Praticamente viveu um vida inteira dedicada ao futebol.
Infelizmente na manhã da última quarta-feira (10) recebemos a triste notícia,
através do santista João Ricieri, que seu pai havia falecido na cidade de
Salto, aos 90 anos de idade.
Quem conviveu com o Sr. João
Folguieri sabe o quanto ele lutou (e brigou) para o engrandecimento do futebol
menor garcense. Eu tive um contato bem mais próximo dele, quando joguei no time
dos Veteranos do Garça, nos anos 80/90, e o “seo” João Folguieri era dirigente
e técnico. Ao lado dele, no comando estavam dois outros grandes
esportistas: Dr. Romeu Antunes de Abreu e
Carlos Alberto Sabione Lemos Soares, o craque “Bô”. Para mim, e muitos outros,
foi um ótimo aprendizado. Um tempo muito bom, onde jogamos por toda a região e
aqui no “Platzeck”. Também estivemos em cidades mais distantes, sempre fazendo
bonito, levando o nome de Garça.
Para falar um pouco da vida
esportiva do “seo” João Folguieri, que carinhosamente tinha o apelido de
“Manolinho”, temos que voltar bastante no tempo, e recorrer ao nosso acerto de
fotos.
Muito embora ele foi
registrado na vizinha cidade de Pirajuí (uma prática comum para os nascidos
aqui nas décadas de 20/30), era garcense da “gema e do ovo”.
Morou a maior parte do tempo em Garça. Foi um exemplar funcionário da Mercantil e Industrial Fernandes S/A,
até quando se aposentou no ano de 1.997.
Durante a sua jornada aqui
se entregou de “corpo e alma” ao futebol. Um torcedor apaixonado pelo seu
querido Palmeiras, idolatrava os ídolos Dudu, Ademir da Guia, Djalma Santos,
Luiz Pereira, Leivinha e César, os craques da academia alviverde. Depois aos
sábados e domingos era a vez de ir para os campos da cidade, onde havia um jogo qualquer.
No seu currículo esportivo
só jogou nos grandes times do passado: Bangu, Bandeirante, Operário, Serenata.
Um atacante impetuoso, baixinho “marrudo e tinhoso”. Com ele não tinha bola
perdida, recebia a “redondinha” e partia pra cima dos zagueiros. Não tinha medo
de cara feia. Pelo que me falaram, fez muitos gols e foi campeão vários anos.
Quando encerrou a carreira ainda foi diretor dos Veteranos do Garça e do
Kosminho no futebol suíço. Respeitado nos meios esportivos, no dia 29/10/1.969
foi um convidado especial para participar do jogo inaugural dos refletores do
campo de futebol society do Garça Tênis Clube. Por pouco não marcou o primeiro gol
noturno, que foi de autoria do Dr. José Carlos.
Nos flagrantes veja o “seo”
João Folguieri como centroavante do Operário, anos 60. Está agachado, segurado
a bola do jogo. Depois posando com a faixa de campeão, tendo a seu lado
Argemiro Beguine e Toninho Marques. Veja também a ficha nº 8062 da Federação
Paulista de Futebol, jogando na A. A. Bandeirantes, do presidente João Bento,
nas temporadas de 1958,59 e 60. No time do Bangu, década de 60, é o quarto
agachado, da esquerda para direita. Na outra foto ao lado do filho João Ricieri
e do neto Bruno.
Por problemas de saúde,
atualmente estava morando em Salto, para ficar mais perto dos familiares. Mas
jamais esquecia sua querida e adorada cidade natal. Tanto é verdade, que todo
dia ao se levantar, falava que iria pegar o trem e voltar para a sua casa em
Garça. Na última quarta-feira fez a última viagem de retorno. Voltou para a sua
morada eterna, ao lado da amada esposa Terezinha Campos. Com o falecimento do
“Manolinho” a cidade perde um grande e fanático esportista. Um pedaço da várzea
romântica de Garça que foi embora.
UM GOL ANTOLÓGICO: O “seo” João Folguieri viveu grandes momentos em nosso futebol. Uma eu presenciei, e relato a seguir.
Nos anos 90, ele era o técnico dos Veteranos do Garça. Numa ocasião fomos jogar em Cafelândia, um tradicional adversário. Lá perdemos por 3 a 2 e fomos “garfados”. Tranquilamente vencíamos o jogo por 2 a 0. Tomamos a virada em 5 minutos, com 2 gols de pênaltis escandalosos arranjados pelo juizão.
Reclamação geral, mas não teve jeito. Até que o nosso técnico “seo” João chegou para o então goleiro e dirigente deles e falou: “Quando vocês forem em Garça, nós vamos ganhar fácil e jogando futebol”.
Pois bem, decorridos dois meses, a Cafelandense veio pagar o jogo aqui no “Platzeck’. Nos vestiários, o “Seo” João na preleção disse: “Lá perdemos para o juizão, aqui vamos ganhar jogando bola”. Dito e feito. Ganhávamos o jogo fácil, de 3 a 0. Até que por volta dos 25 minutos do segundo tempo, ele desce para os vestiários se troca como jogador, retorna e dá a ordem: “Substituição sai o Osmar Silvestre, que eu vou entrar”. Surpresa geral. Até porque já estava com idade bem mais avançada que todos os jogadores em campo. Aí eu passei a fazer dupla de ataque com ele. Até que num escanteio, o Túlio Calegaro cobra, levanta a bola na área, o Bô subiu e cabeceou na trave. No rebote, o “seo” João domina bola no peito e estufou as redes. Foi uma comemoração geral. Não sem antes ele falar para o goleiro/dirigente: “No futebol ganha quem sabe jogar bola, viu. Lá eu vou marcar 2”. Jamais vou esquecer este gol. No final, vitória dos Veteranos de Garça pelo placar de 4 a 0.
Depois do jogo teve a confraternização das duas equipes e o gol do “seo” João Folguieri foi o assunto mais comentado.