Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Estivemos acompanhando a última rodada do campeonato suíço supermaster, no sábado à tarde, no Conjunto Poliesportivo “Manoel Gouvea Chagas” e vimos uma rapaziada ainda “tentando correr atrás da bola”. As pernas e o fôlego já não são os mesmos de antigamente. Porém, a maioria procura superar este obstáculo, fazendo a bola correr redondinha no gramado.
Também notei alguns times bem estruturados com uniformes bonitos. Muitos atletas com os quais joguei lá atrás, ainda se aventurando no futebol. Confesso que deu até vontade de retornar aos gramados, tentar marcar uns gols como antigamente. Anotamos em nossa agenda para posterior análise.
Quando me aproximei do campo “Marcos Antonio da Silva”, jogavam Lanchonete x Corinthians de Garça. O jogo estava na metade do primeiro tempo, o placar estava “oxo”, ou seja, 0 a 0, como diria Walter Abrão, narrador de esportes da extinta TV Tupi Canal 4.
Pois bem. Era bola pra lá, bola pra cá. Até que observei um atleta do Corinthians de Garça comandando as ações no meio campo. Estava leve e solto, correndo muito, isto é, correndo certo, sempre bem posicionado no lance. Perguntei pro Adãozinho ao meu lado quem era, e ele de pronto respondeu: “é o Julião Cardoso, tá próximo de completar 69 anos de idade, continua voando até hoje”. Putz! Joguei contra o Julião há muito tempo, uns 40 anos. Foi um marcador implacável, saúde de ferro. Eu já parei com o futebol faz tempo, o Julião ainda está na ativa. No intervalo, não só o procurei, como fiz questão de cumprimentá-lo pela sua atual performance. O placar final apontou empate em 1 a 1.
O Julião é o tipo do jogador que “põe a bola debaixo do braço”, chama a responsabilidade e faz o seu time deslanchar.
Como bem disse o Eduardo Davi, presidente do Corinthians de Garça: “o Julião é um grande jogador, atua no meio de campo, com seriedade e disciplina. Mesmo com idade avançada, tem um excelente preparo físico, no Corinthians é titular absoluto. Está no time há cerca de 4 anos, e ficará até quando desejar”.
E não é de hoje que o Julião vem se destacando no futebol garcense. Tudo começou quando tinha seus de 15 anos, participou do futebol amador e futebol rural. Mas se consolidou mesmo no futebol suíço, desde a época do terrão, nos campos atrás do Hospital São Lucas. No certame rural jogou por muito tempo na Fazenda Santo André, Fazenda Palmares e Fazenda Corredeira.
No futebol suíço defendeu o Kussumoto “B”, Atlético Morada do Sol, Casa Carlos e Eletrônica, CAF/Clube Amigos do Futebol (foto) e atualmente enverga a gloriosa camisa do Corinthians de Garça, na categoria do supermaster. Uma carreira invejável, não é para qualquer um, 50 anos correndo atrás da bola.
No ano de 2006 o Julião quase para de jogar. Foi quando sofreu um duro golpe, com o falecimento repentino da esposa Nadir. O casal tinha 7 filhos, 3 casados: Luciana, Ana Lúcia e Angélica, 4 solteiros: Angela, Gilson, Josimar e Leticia, que ficaram com ele. Um tanto quanto desiludido pensou em desistir. Mas com o apoio da família e também graças ao futebol, seu lazer preferido, foi se reestruturando “virou o jogo” e foi criando todos os filhos. Com orgulho no peito, afirma que hoje todos estão formados. A família foi crescendo, os filhos lhe deram 11 lindos netos. Alguns levam jeito para o futebol, puxaram o “vovô”.
Quanto a “pendurar as chuteiras”, o Júlio é categórico: “enquanto Deus me iluminar, as pernas aguentar, não penso em parar de jogar futebol tão cedo. Corro atrás da bola há mais de 50 anos, o futebol está no meu sangue. Torço para o Santos, me inspirei no Pelé, o meu ídolo no futebol. Sempre joguei com muita garra e disciplina, respeitando o time adversário e os árbitros. Por isto nunca fui advertido, nem expulso de campo”. Só desejamos vida longa ao Julião, e muito futebol pela frente. Com certeza, o Julião é uma verdadeira bandeira do futebol garcense.
HOMENAGEM e GOL NO PARANÁ: O Julião tem muitas histórias para contar e recordar nestes mais de 50 anos de carreira. Muitos jogos, várias decisões ao longo dos anos. Lembra com enorme gratidão, mostrando as medalhas, de quando foi homenageado pela SEJEL, como “esportista do ano de 2012”. Dos títulos de vice-campeão da Taça Cidade de Garça, em 1997, e vice-Campeão do Supermaster em 2023.
Mas tem um jogo em especial que jamais esquece. Foi no ano de 1982, quando defendia a Fazenda Santo André, do cafeicultor Arthur Hoffig e foram jogar em Cornélio Procópio/PR, contra o time da outra fazenda do Sr. Hoffig. Um amistoso festivo, aguardado com muita expectativa por todos. O jogo corria solto, estava empatado em 2 a 2. Até que no apagar das luzes, o Julião em sua intermediária, desarma um adversário e avança com a bola. Passa por 1, por 2, entra na grande área, dribla mais um, e na saída do goleiro, toca no canto. A bola balançou a rede de mansinho. Até a torcida paranaense comemorou o gol, entrou em campo, para festejar a vitória dos garcenses pelo placar de 3 a 2. Segundo o Julião foi um poucos gols que marcou na carreira, mas inesquecível.