sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Recordar é Viver: "Um encontro depois de 60 anos"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Procurando uma fotografia ainda em papel, de um time antigo no meu acervo ainda não digitalizado, encontrei uma meia que perdida. De pronto me reconheci, ainda garotinho com cerca de 7 anos, já os outros dois não. Atrás da foto escrito à lápis: “Ano de 1964 – Ouvindo um jogo de futebol no rádio”. Não sei quem escreveu, mas a letra até que é bonita. A meta foi identificar, depois de 60 anos, quem eram os demais. Em tempos de net/zapi, disparei para uma galera, e a resposta não demorou para chegar. Na foto estão o Antonio Carlos Rizzi, o “Dubá” (à esq), o Francisco “Nenê” Barreto (deitado) e este articulista. O Dubá está morando em Garça, enquanto o Nenê, filho do ferroviário Dimas Barreto, soubemos que está em Araraquara/SP. Porém, nunca mais o vimos.

Conversando com o Dubá, ele falou que o radinho a pilha, da marca Sharp, era do seu irmão mais velho o Alcides. Todos morávamos na antiga colônia dos ferroviários, empregados da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que tinha umas 16 casas de parede geminada, entre a colônia de cima e a de baixo.

Na época ninguém tinha televisão, ou o sinal ainda não chegava em Garça. Então a diversão era ouvir um rádio ou um disco na sonata. O radinho de pilha era a alegria da garotada nas transmissões dos jogos. Aos sábados e domingos todos se reuniam num gramado na frente da colônia, o radinho ligado na Rádio Bandeirantes, cada um torcendo para seu time, o Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e até a Portuguesa. Os jogos da seleção brasileira eram só festa. Lembro da Copa de 1966, disputada na Inglaterra, quando o Pelé foi “caçado” em campo. Na Copa de 1970, no México, já tinha a televisão. Entretanto, a emoção da transmissão no rádio, até que dividia o pessoal.

O narrador era Fiori Giglioti, o “Locutor da Torcida Brasileira”, para mim o melhor de todos no rádio. A cada gol, a galerinha pulava vibrando. Outros, sentados, tristes com o gol sofrido pelo seu time. Quando a pilha estava fraca, o som dava umas sumidas, as vezes chiava. Aí era só virar o rádio para um lado ou para outro, que o som retornava firme. Se um time estava vencendo, era esperar o apito final do juizão, seguido da célebre frase do Fiori Giglioti: “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”. Em seguida, cada um seguia para sua casa, não sem antes perguntar pro Dubá, quando seria o próximo jogo. Lembro ainda, que o Elbinho (faleceu em julho de 2017), filho do Sr. Manoel de Souza, ganhou de presente de natal, um rádio portátil da marca Philco, este bem maior e som potente. Foi alegria em dobro para todos. Bons tempos vivenciados numa infância que não voltam jamais, cada um torcendo para o time do coração, ouvindo um radinho de pilha.


COLÔNIA DA ESTAÇÃO:
Quem já morou numa colônia sabe o quanto os moradores eram unidos, alegres e festeiros. Na época a Companhia Paulista cedia a casa para os ferroviários morar, a preços módicos. Em Garça lembro que a casa de número 1 era do chefe da estação. Lá morou o Sr. João Medina Ortiz/família, depois Sr. Francisco Andrade Prado/família e ainda Oswaldo Lachica/família; casa 2, a nossa família Cassolla; casa 3, o Sr. Pedro Mendes, o “chefinho”, era solteiro e brabo, depois o Sr. Nelson Traballi/família; casa 4, Sr. Dimas Barreto/família; casa 5, Sr. Domingos Rizzi/família, depois Sr. Osvaldo Barros Aranha/família; casa 6, Sr. João Nascimento/família, depois o Sr. Hilário Antonini/família; casa 7, Sr. Antonio Foganholo/família e depois Sr. Rissato/família. Na colônia de baixo, casa 8, Sr. Arnaldo Alvarenga-Zenaide/família, casa 9, Sr. Manoel de Souza/família, casa 10, Sr. José Alves/família, casa 11, Sr. Durvalino Leite/família e casa 12, Sr. José Soares e família. Ao longo dos anos muitas outras famílias residiram lá, mas o nome não me recordo, pois mudamos de lá no ano de 1973. Uma turma de ferroviários que marcou época, num tempo que o trem era o principal meio de transporte. E que trouxe muito desenvolvimento para Garça, quando aqui chegou no ano de 1928.


DUBÁ, PONTA DIREITA:
Antonio Carlos Rizzi, o “Dubá”, foi um atacante de bons predicados técnicos. Era irmão mais novo do craque Alcides Rizzi, atacante, ponta direita ou esquerda dos bons tempos do Garça E.C, nos anos de 1950/60. Inicialmente o Dubá jogou no campinho de terra ao lado da estação do trem. Não demorou muito tempo foi defender o Botafoguinho, do Egídio, e depois na Ferroviária, disputando o Campeonato Juvenil. Gostava de atuar na frente, como ponta direita, seu futebol era mais técnico do que correria. Com isto tinha boa colocação em campo, aliada à sua visão de jogo.

Só que jogou por pouco tempo. A primeira dificuldade foi quando fez o Tiro de Guerra, com o tempo ficando “curto” nos finais de semana. Depois teve que trabalhar, não demorou muito se mudou para São Paulo. Aí não teve outra solução, senão “pendurar as chuteiras”. Hoje segue curtindo a vida, depois de se aposentar no ano de 1996, como funcionário do antigo Banco Banespa, atual Santander.


Recordamos o Dubá defendendo o bom time da Associação Ferroviária de Esportes, de meados de 1960, posando no extinto Campo do Municipal, ao lado do Fórum. Em pé da esquerda para direita: Silvio Portelinha, João Luiz “Zico”, Jair Cassola, Sergio Zancopé, Chicão e Henrique; agachados: Dubá, Rôla Cassolla, Serginho, Emílio e Toninho.