Moisés, concedendo entrevista a Paulo Pereira, da RCO |
Por longos 46 anos ele esteve arbitrando
jogos na várzea garcense, um fato único, que o transformou, sem sombra de
dúvidas, no mais conhecido `homem de preto´ da história do amadorismo. Hoje,
prestes a completar 84 anos, e demonstrando uma memória privilegiada, ele
recorda com muito saudosismo de sua trajetória, encerrada há 18 anos. Por tudo
o que representou e ainda representa para o futebol amador garcense, o
ex-árbitro, Moisés Rodrigues de Santana, é o `Destaque Esportivo´ da semana.
Nascido em 1929, na baiana Jacaraci, Moisés
conta com muito orgulho de sua longeva vida. Ainda pequeno, com apenas cinco
anos, veio com a família para Santa Cruz do Rio Pardo. Não demorou muito e
sempre ajudando a família, ele começou a trabalhar num bar. Depois de algum
tempo, o clã Santana veio morar na antiga Companhia Ingleza. Ganhando o `pão de
cada dia´ como ajudante de mecânico, ele começa a demonstrar o seu apreço para
o futebol, integrando o time daquele local. “Eu também jogava no time da
Companhia, que ainda contava com o Goiano e o Agamenon, que depois vieram a
jogar pelo Garça”, recorda.
Em 1947, vindos de Gália, os Santana
chegaram a Garça, de onde não saíram mais. Dois anos mais tarde, Moisés já
estava empunhando um apito e começando a sua promissora atuação, participando
de jogos no antigo campo de vila Willians, ao lado do Bosque Municipal. “Não
existia gramado não, era no chão mesmo e eu apitava sem bandeira naquela
época”, relembrou, porém, com a memória não lhe ajudando a se recordar de qual
foi o primeiro jogo que arbitrou.
À moda antiga: Moisés é o terceiro da esquerda para direita, junto com os demais árbitros garcense, no campo que existia defronte ao hospital São Lucas |
No Platzeck, ano de 1982: Geraldinho Alves dos Santos (representante), Moisés, Francisco Ferreira e o grande amigo, Walter `Palmital´ Garcia |
Uma foto histórica: Ranulfo José da Silva, Walter `Palmital´ Garcia, Fiori Gigliotti, Moisés R. de Santana e João Alexandre Colombani |
Um
orgulho: os jogos válidos pelos campeonatos da FPB
Num momento nas décadas de 50 e início dos
anos 60, Moisés integrou o quadro da FPF. “Nunca vou me esquecer do Arthur
Chekerdemian. Ele estava se formando advogado naquela época e me ajudou muito,
inclusive me enviando para Piracicaba, onde fiz o curso da Federação. Devo
muito a ele e ao Wálter Bosquê Garcia, o Palmital”, confidenciou, num momento
de puro sentimentalismo, onde a emoção lhe tomou conta.
Viúvo há cerca de dois anos, Moisés reside
há tempos no Jardim Paineiras, após se aposentar do serviço público municipal,
onde foi um exemplar zelador, morando por muito tempo no Toyotão, em vila
Rebelo. Dois de seus filhos ainda atuam normalmente nos campeonatos municipais:
o mais velho, Álvaro, que joga pelo Rebelo, no máster, e o caçula, Deidei,
defensor do Dinossauros, no futebol suíço.
O orgulhoso Moisés, com uniforme da FPF, em partida do futebol amador na década de 80, no Toyotão |
No ínício do futebol suíço, no extinto campo do Bosque Municipal, lá estava Moisés (o último em pé, da esq. p/ dir.), com o time da Prefeitura |
Último
jogo onde atuou aconteceu em 1995
Moisés Rodrigues de Santana atravessou
décadas e décadas apitando jogos em Garça, na região e até no Estado de São
Paulo, demonstrando um apego inexplicável com a difícil missão que escolheu.
Uma paixão muito complicada de ser compreendida.
Esteve presente em grandes momentos de
nossa várzea, até se aposentar da função em 1995, num jogo que aconteceu no
Toyotão, onde o Guanabara bateu o Cavalcante, 4 x 1. É difícil imaginar o
cidadão alegre, brincalhão, bem humorado, sempre visto nos campos do futebol
suíço aos domingos pela manhã, sem antes, mesmo que silenciosamente, aplaudi-lo
por tudo o que fez pelo futebol de nossa cidade e ainda na pior e mais
criticada função. Um legado que nunca será esquecido. Moisés Rodrigues de Santana merece, sem
qualquer sombra de dúvida ser o nosso `Destaque Esportivo´ não apenas da
semana, como também, da própria modalidade em Garça.
Moisés ainda frequenta o futebol suíço; na foto ele aparece ao lado do árbitro Adriano Trevisan |