sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Recordar é Viver: "Jair Sebastião, o massagista dos craques da bola"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Ele foi um dos grandes massagistas do futebol amador. Recordamos um pouco da trajetória do palmeirense Jair Sebastião, que deu sua imprescindível colaboração ao esporte garcense entre as décadas de 70 até 90.  Jogar bola é fácil, ser dirigente, tomar conta de um time já é complicado. Agora ser massagista não é tarefa para qualquer um. Tem que gostar da profissão e entender do assunto. Esta foi a grande paixão do Jair no futebol. Estava no sangue da família “Sebastião”. O seu irmão mais velho, o corintiano Lourenço, também foi outro grande massagista. De outro lado, o saudoso tio Sebastião Soriano Ferreira, sempre esteve envolvido com o futebol, seja como jogador ou dirigente. Não só incentivava, como apoiava os sobrinhos como massagista.

Com isto o Jair fez história e foi o “massero” dos craques que desfilaram nos gramados garcenses. O seu currículo é invejável. Nos quase trinta anos “de profissão” foi massagista do Induscômio, Ipiranga, Guanabara, SASP, Guarani do Carlinhos Coruja e no futebol suíço na Eletrônica, dentre os principais. Também trabalhou no juvenil do amador do Garça, cuja formação das temporadas de 1972/73, recordamos: Em pé da esquerda para direita: Marinho (auxiliar técnico), Broginho, Mario, Picova, Washington, Tim, João Bosco, Tico Venuto e Ednalvo (treinador); agachados: Jair Sebastião (com a bolsa de água), Zequinha, Zé Luiz Português, Aurélio, Vado, Toninho Marques e Béia Galvão.

O Jair relata que não era fácil não ser massagista. “Eu era um dos primeiros a chegar aos vestiários. Já deixava o material pronto, faixas, mertiolate ou mercúrio, éter, as pomadas Iodex e Gelol nas caixas de madeira. O gelo e também a bolsa com água gelada. Assim que o treinador escalava o time, eu chamava jogador por jogador, para passar nas pernas o famoso “óleo elétrico”, que servia para aquecer a musculatura. Depois do jogo, ainda tinha a massagem com sabão de côco, como relaxante muscular”.

Com o jogo correndo, quando algum jogador machucava, me complicava. Tinha que buscá-lo nos ombros, para ser atendido fora dos gramados. Às vezes chegava em casa mais cansado dos que os jogadores que correram os noventa minutos. Mas para mim era gratificante, gostava daquilo que fazia. Sempre obedeci aos árbitros, por isto, nunca fui expulso por tentar alguma malandragem. Atualmente é fácil ser massagista, tem até carrinho para tirar os jogadores machucados”.

Na outra foto, época do Jair no futebol suíço. Da esquerda para direita: Nelsinho Carvalho, Sérgio de Stefani, presidente da CCE, Nardinho Moreti, Carlão da Eletrônica, Jair Sebastião e Orlandinho Bonfim (ao fundo).

No outro flagrante, veja como está o Jair e também o seu lado carnavalesco. Época que tocava reco-reco. O Jair foi um grande folião, desfilou na Escola de Samba do Salgueiro, da Dona Marieta Moisés, e na Escola de Samba do Garça, do mestre de bateria Zeti Buzega.

SARARÁ x FORMIGA: Durante a “carreira” o Jair passou por muitas situações hilárias e inéditas. Uma entretanto tem marcado na memória, jamais esquece. "Numa ocasião o Induscômio disputou um amistoso na Fazenda São Francisco, do Eudes Benites. Nosso ponta direita era o Sarará, que corria barbaridade, foi o maior velocista que vi. Pois bem, ao ser lançado em profundidade, bem na beira do campo, o Sarará disparou. Só que o lateral deu um tranco, ele desceu um barranco, que tinha uns cinco metros de altura. Eu estava próximo, e de pronto desci o morro. Cheguei perto, o Sarará estava se debatendo. Tinha caído em cima de um formigueiro, daquelas formigas pretas. De pronto o Sarará tirou o calção, e eu de imediato, abri o vidro de éter, e joguei no “bumbum” dele pra espantar as formigas. Aí o Sarará levantou e correu mais ainda. E eu atrás dele, com uma toalha tentando espantar as formigas. Depois de uns 200 metros, ele parou no meio de um carreador de café. Não sei se reclamava mais das picadas das formigas ou do ardor do éter", relembrou.

GOL SOLITÁRIO: O Jair não foi só massagista. Quando começou a se interessar pelo futebol era goleiro. Jogou no time da Congregação da Vila Cavalcante. Depois quando mudou para Campinas, jogou no bom time do Chapadão. Voltando para Garça optou definitivamente por ser massagista. Até que num belo domingo, o Induscômio jogou em Lupércio. Como estava vencendo fácil, faltando quinze minutos, o técnico Ednalvo colocou o Jair na ponta direita. E não é que num lance de rara felicidade, o Jair pelo lado direito, domina a bola na entrada da área, dribla um zagueiro, tromba com outro, e mesmo caindo, conseguiu chutar a bola, que vai no ângulo. A comemoração foi geral dos companheiros. Em especial de um pipoqueiro que estava na beira do campo, que aplaudia e gritava “Foi um gol no melhor estilo Garrincha”. E é justamente o Garrinha que o Jair tem como ídolo no futebol, a quem considera o melhor ponta direita da história do futebol mundial.

AMIGOS DO FUTEBOL: Durante a sua vivencia no futebol, o Jair fez muitos amigos no futebol. Até mesmo os adversários respeitavam o trabalho dele. Mas alguns jamais esquece, pois eram craques da bola: Cabrini goleiro, Corinho, Zé Luiz Português, Portelinha, Zequinha, Sarará, Vado, Tonhá, Helinho Tercioti, Chico Ramalho, Toninho Marques.

Perto de completar 69 anos de idade, o Jair continua morando em Vila Guanabara. As pernas já não são as mesmas de antigamente, tem dificuldades para se locomover. As mãos estão fracas, os dedos enrijecidos. Olha como é o destino. "Eu que sempre tratei das contusões dos jogadores, em especial das pernas, recuperava todos, hoje as minhas pernas e mãos, dificultam o meu dia a dia”.

Também fui um bom profissional na área de lustrador de móveis e tapeceiro, já estou aposentado. Por isto gosto de ficar quieto na minha casa, com o meu radinho, às vezes ouvindo um jogo ou músicas no pen-drive. Curto uma boa moda de viola, em especial do Teodoro e Sampaio, Trio Parada Dura, Gino e Geno, etc”.

Durante o nosso bate-papo na casa do Jair, eis que aparece a Dona Maria Nelci F. Mottes (foto). Entra abraça carinhosamente o Jair e lhe entrega uma marmita. O Jair me fala: “Tico, a Dona Maria é minha vizinha camisa 10, é proprietária da Churrascaria Chimarrão Grill, uma pessoa especial e pra lá de benevolente. Todos os dias me traz um prato de comida, isto já faz quase 15 anos. Só tenho que agradecer, do fundo do meu coração. A Dona Maria é a segunda mãe que Deus me deu."