sexta-feira, 19 de julho de 2024

Recordar é Viver: "Róbson Pezão ganhou um jogo na `moeda´"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Nos meus mais de “vinte e poucos anos” correndo atrás da bola, vivenciei muitas coisas engraçadas durante os jogos, seja nos amistosos ou campeonatos. Cada lance bizarro, que daria para escrever muitas colunas, ou um bom livro de anedotas. Um deles vamos recordar hoje. Você já viu um jogo ser vencido na “moeda”? Isto aconteceu aqui em Garça, e o protagonista foi o ex-zagueiro Robson de Oliveira Gomes, o “Robson Pezão”, cujo apelido se deve à chuteira que ele calçava, número 44.

Corria o ano de 1975 e o Clube Atlético Ipiranga, onde nós dois jogávamos, buscava um título de expressão no Amador. O tradicional clube vermelho e branco, fundado em 21 de março de 1960, até então só ganhou troféus de menor expressão. Na época, o técnico Faruk Salmen, montou um bom time, mas nada de títulos. Entre os torcedores adversários, o Ipiranga foi apelidado de “Corinthians de Garça”, numa alusão ao alvinegro paulista, que também não ganhava nada há mais de vinte anos.

Ser campeão do amador era bem difícil. Um campeonato disputadíssimo, com grandes e fortes times, dentre eles o Frigus, Casa Ipiranga, Agro-Técnica (Escola Agrícola), SASP, Transribas, Nacional, Araceli, além dos times da Fazenda São Francisco e São João do Nouguês.

Pois bem, no dia do aniversário da cidade, o Lions Clube promoveu mais uma Copa Lions/Taça Cidade de Garça, que atingiria a sua 10ª edição. O Ipiranga, enfim, conquistou a tradicional taça, tudo graças ao Robson “Pezão” e uma moeda. O torneio praticamente durava um dia inteiro no “Platzeck”, em jogos de 15 x 15 minutos. No caso de empate, cobrança de cinco penalidades máximas, permanecendo a igualdade, o vencedor saía na “moeda”, o famoso cara ou coroa.

No jogo da semifinal, o Ipiranga empatou com o Nacional em 0 a 0. Na cobrança de penalidades máximas: 4 a 4. A decisão foi então na moeda. O árbitro Moisés Rodrigues Santana chamou um jogador de cada time no meio do campo para a escolha de um lado da moeda. O dia já estava anoitecendo, meio que escuro, o “Platzeck” ainda não tinha iluminação.

O Robson “Pezão” representou o Ipiranga, que optou o lado da “coroa”. O juizão Moisés falou que ia jogar a moeda para o alto e esperar cair no gramado. Dito e feito, lançou a moeda, assim que caiu no gramado, espertamente o Robson “Pezão”, pulou em cima dela, pegou, e gritou “deu coroa”. Saiu correndo, com todos os jogadores do Ipiranga vibrando atrás. Como o jogador adversário ficou estático, não restou alternativa ao juizão Moisés, senão confirmar a vitória do Ipiranga. Até hoje ninguém sabe dizer qual lado a moeda estava.

Em outra data, na decisão em jogo de tempo normal de 90 minutos, o Ipiranga ganhou da Casa Ipiranga, e finalmente, conquistou um grande título. Depois daí seria o recordista, repetindo o feito em mais nove edições da Copa Lions.

ZAGUEIRO VIGOROSO: Robson de Oliveira Gomes, o “Robson Pezão”, foi um grande zagueiro do futebol amador garcense, que marcou época nas décadas de 70/80. Se destacava como “xerife”, um vigoroso zagueiro de muita raça, tinha facilidade em “dar carrinhos”, para tirar a bola do adversário. Tinha boa impulsão para cabecear as bolas no alto. Sua carreira começou no Garcinha, do presidente Angelim Mantovanelli. Depois jogou no Barol, Frigus, Induscômio e se consolidou no Ipiranga. 

Ao lado do “beque central” Corinho, formou uma das melhores zagas. No ano de 1976, ajudaria o Ipiranga a conquistar o primeiro grande título de sua história de campeão amador, depois de 16 anos de muita luta. Na decisão contra o Frigus, vitória por 1 a 0, gol de cabeça de Mauro Val, numa dramática prorrogação.


Recordamos uma das formações do Ipiranga, posando no “Platzeck”: em pé, da esquerda para direita: Bertoza, Béia Galvão, Tim, Corinho, Robson Pezão e Berto Nico; agachados: Gilvan, Toninho Marques, Heitor Tiarim, Chico Ramalho e Sarará.

No outro flagrante (capa), Robson “Pezão”, posando ao lado do garotinho Juninho, hoje o conceituado Dr. Luiz Antonio de Freitas Jr., que na próxima segunda feira, completará 28 anos de idade.

CHORO x CARRINHOS: Não posso esquecer mais duas passagens com ele. Quando nosso time perdia o jogo, e tomava o gol próximo dos 90 minutos, o Robson Pezão, chorava copiosamente. Ia do gramado até o vestiário derramando lágrimas, tinha que ser consolado pelos colegas do time, às vezes pelo pai, sr. Joel.

Numa ocasião o Ipiranga participou do municipal de futebol de salão, com os jogos acontecendo no Garça Tênis Clube. O piso da quadra era de cimento áspero ou asfalto. Adepto as jogadas de carrinho, o Robson “Pezão”, no primeiro lance, voou e carrinhou na bola. Tomou um drible seco do Carlinhos Morozine e saiu raspando o “bumbum” na quadra. Esfolou tudo. Eis que rapidamente entra o massagista Lourenço e derruba um vidro de mertiolate no machucado. Ardeu uma barbaridade. De pronto ele levantou, saiu correndo em disparada na direção da piscina do clube, querendo pular na água para aliviar a dor. Com esta “contusão”, desfalcou o Ipiranga por quase um mês.  


Veja o time que jogou na quadra do GTC, em pé, da esquerda para direita: Tico Venuto, Cirilo, Helder “Alemão”, Robson “Pezão”, Zé Bituka e Roberto; agachados: Gerson Ramos, Betão, Nôzinho, Tico e Fabron.

O Róbson “Pezão” faleceu no dia 28 de setembro de 2011, com apenas 56 anos de idade, mas deixou seu nome marcado na história do futebol amador garcense.