Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Este final de semana será
atípico, principalmente para os amantes da bola. Tudo porque no cenário
nacional, a bola pouco vai rolar. Alguns jogos no sábado, mas no domingo nada
de futebol.
É dia sagrado do voto. Dia
de comparecer em massa à cabine indevassável, e escolher o melhor para o nosso
País, nosso Estado e nossa querida e adorada cidade de Garça. Portanto, título
de eleitor na mão e aquele voto consciente. “Jogando desta forma”, você estará
marcando um verdadeiro gol de placa.
Deixando a política de
lado, vamos falar do futebol. Tudo porque recebemos uma raríssima e
histórica foto de um grupo de jogadores posando na frente do Hospital São
Lucas, que estava no início da construção. Para a nossa surpresa, nela está o
ilustre Sr. Manoel Joaquim Fernandes, o “Manolo”, que eu jamais pensei que tivesse jogado bola um dia. O Manolo foi sim um grande dirigente do Garça FC nos anos
60/70. Vamos a foto, em pé da esquerda para direita: Manolo, José Caio de Góes
Artigas e Francisco Jorge Miralla, o “Chico Miralla, o outro não conseguimos
identificar. Voltando ao cenário da política, para mim o Sr. Manolo é o maior
político da história de Garça. Falo, escrevo e assino embaixo.
Segundo o nosso colaborador
e corintiano Antonio Augusto, o “Tonhô”, trata-se de um jogo festivo entre os
funcionários da Prefeitura, tão comum na época, na década de 50. Na ocasião o Manolo
jogou de volante, o jaqueta cinco, marcador, parando os adversários. De outro
lado o Sr. Manolo, ocupou todos os cargos, começando como vereador,
vice-prefeito, prefeito de 1956 à 1959 e deputado estadual de 1963 à 1967. A
façanha em conseguir uma vaga na Assembleia Legislativa em São Paulo foi algo
inédito na época, principalmente pelo fato de sua base eleitoral ser em Garça,
que tinha poucos eleitores. Mas o Sr. Manolo era um líder, respeitado e um
visionário por excelência. Sem falar que adorava futebol, era um apaixonado
torcedor do Corinthians. Vibrou muito quanto o time mosqueteiro, sob o comando
de Osvaldo Brandão, garantiu o título do “IV Centenário da Cidade de São
Paulo”, no ano de 1954, ao empatar com o rival Palmeiras (que jogou de camisas azuis)
por 1 a 1.
No âmbito familiar foi casado com Maria Justo
Fernandes (em primeira núpcias), depois com Ana Miralla Fernandes. Teve 4
filhos: Neuza, Irene, Rubens e Roberto.
Faleceu no dia 24 de dezembro de 1977, aos 72 anos. Seu irmão Pedro Valentim Fernandes, também
foi prefeito de Garça em duas ocasiões: de 1964 à 1969 e de 1973 à 1977
Em Garça o Sr. Manolo está perpetuado com seu nome na Escola Manoel Joaquim Fernandes, na antiga Vila Manolo, atual Vila José Ribeiro e à rua Dr. Manoel Joaquim Fernandes (antiga rua Paulista), no centro da cidade. E no Museu Municipal tem um sala em sua homenagem, com fotos e pertences pessoais. Nos flagrantes, ao lado do governador Lucas Nogueira Garcês, Dr. Rafael Paes de Barros e Manolo. No outro, na cidade do Rio de Janeiro, recebendo de Juscelino Kubitschek, então presidente do Brasil, o diploma de Menção Honrosa a Garça, “o município brasileiro de maior progresso”.
MANOLO
x GAROTADA: O Sr. Manolo tinha um coração gigante e
benevolente. Uma de suas diversões era assistir o jogo do Garça, onde era
mais torcedor do que dirigente. Sua maior alegria era ver o “Platzeck” lotado
de torcedores. Lembro que quando chegava com seu carro, acho que era um
“Galaxie” ou Simca Chambord, era ovacionado pela garotada, que ficava nas
proximidades da entrada do campo. Fazia questão de pagar o seu ingresso, apesar
de ser da diretoria. Adentrava e logo retornava para fora do campo. Pedia para
a garotada fazer uma fila, contava e pagava o ingresso de todos. Não sem antes
falar em alto e bom som: “Esta molecada serão os futuros torcedores do amanhã,
todos podem entrar”. No final dos anos 60, começo de 70, eu mesmo peguei várias
vezes a fila. Era uma alegria sem fim de todos ver o time de craques do
“Azulão” jogar. Era a principal diversão da época. Não tinha TV nem internet.
Quando chegava circo na cidade, também colocava as pessoas para dentro.
O tempo passou, e lembro que o Manolo, já com idade
mais avançada, talvez aposentado, morava numa casa, à Av. Dr. Rafael Paes de
Barros, nº 222, onde hoje é o Cartório de Registro de Imóveis, em frente ao
Grupo “João Crisóstomo”. Nas minhas idas e vindas para o centro da cidade,
sempre o via na janela da casa, ao lado de um pires e uma xícara de café.
Ficava vendo o vai e vem das pessoas e carros. Adorava cumprimentar com um
sonoro “bom dia ou boa tarde”.
Até que um dia eu estava de férias, parei e falei que gostaria de contar uma história. Gentilmente, mandou eu entrar, e sentamos num sofá. Então falei da época que era garoto e assistia jogos do Garça por causa dele, que mandava abrir os portões do campo. Que ele não imaginava como fazia a nossa alegria e de muitas pessoas. Assim também da tristeza quando ele não comparecia, por algum motivo, ver o jogo, e nós tristes voltávamos para casa, sem ter condições de entrar no campo. Poxa, ele ficou emocionado. Uma lágrima, desceu de seus olhos. Ele pegou o lenço de pano que trazia no bolso da calça e enxugou o rosto. Não me restou alternativa, senão lhe dar um abraço e agradecer por aqueles momentos inesquecíveis. O papo foi bem gostoso, falamos de futebol, nome dos jogadores, etc.
Hora de ir embora, gentilmente o Manolo nos acompanhou até o portão da casa. Neste momento, saíam os alunos do Grupão: Ele apontou e disse: “Antes eu falava dos futuros torcedores do time do Garça. Hoje esses jovens estudantes serão o futuro do Brasil. Uma nação só vai pra frente se tiver pessoas estudadas, inteligentes e dignas”. Absolutamente estava certo. Hoje o Sr. Manolo virou uma lenda. Mas com certeza ficará para todo o sempre, incrustado no carinho, no coração, na ternura e na sinceridade do nosso cantinho da saudade.