Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Conheci o Ebson Mitsuo
Sassaqui, nos anos 70, quando estudamos juntos no então curso primário do Grupo
Escolar Professor João Crisóstomo, o “Grupão” da Avenida Brasil, hoje Av. Dr.
Rafael Paes de Barros.
O Mitsuo morava em Vila
Salgueiro, eu na Colônia dos Ferroviários da Paulista, ao lado da Estação do
Trem, onde fica a Incubadora de Indústria. Era comum ir e voltarmos juntos da
escola. Eu já atrevia a jogar bola. O Mitsuo não, mas era um apaixonado por
futebol, gostava de ouvir jogos no rádio e adorava ler jornais e revistas
esportivas. E tinha uma memória invejável, guardava tudo.
Aprovados seguimos
rumos diferentes no curso secundário, mas a amizade continuou. Era comum nos
encontrarmos para “discutir” futebol, jogos, resultados, escalações de times,
da seleção brasileira, etc. Sobre a carreira do Pelé então, sabia tudo. Confesso
que conheço do assunto, mas no bate-papo a palavra final era sempre do Mitsuo.
Tinha tudo guardado na “memória”. Como diz o ditado, ele “matava a cobra e
mostrava o pau”. No encontro seguinte, trazia a revista ou jornal para mostrar
que estava certo. A nós só restava continuar aprendendo com o professor Mitsuo.
Hoje com a ajuda da net é
fácil tirar uma dúvida. Bastar digitar no “Google”, que em segundos, tudo é esclarecido.
Lembro que numa ocasião surgiu um impasse sobre a participação da Seleção
Brasileira na Copa de 1.958 (Suécia). O que fizemos. Peguei a velha máquina de
datilografia do meu pai Salvador e escrevi uma carta para o jornal “A Gazeta
Esportiva” de São Paulo. Depois de quase um mês chegou a resposta. Nos reunimos
e foi aquele alvoroço, colocamos a carta fechada na mesa.
Coube ao Roquinho, o
mais velho da turma e também entendedor do futebol, abrir e ler na íntegra. O
resultado nem preciso falar, o Mitsuo estava certo. O futebol sempre esteve no sangue do Mitsuo. Ele
foi um dos primeiros garcense a assinar a revista Placar (lançada em 20/03/1.970),
em homenagem a Copa do México. Aí ficou ainda mais difícil “discutir” com o
mestre. A polemica surgia, no próximo encontro, vinha ele com a revista e a solução
debaixo do braço. Esclarecia tudo e caía na risada.
O Mitsuo faleceu no dia 04
de novembro de 2.015 e nos deixou um exemplo de amizade, amor por Garça e
sapiência no futebol. Recentemente recebi de brinde do palmeirense e concunhado
Paulo de Luca, vários exemplares da revista Placar (foto), que eram da coleção
dele e completei a minha. Veja a capa da número 123, de 21/07/1.972, nas mãos
da filhona Giovana. Folheando algumas, raríssimas por sinal, nos deparamos com
uma interessante matéria sobre a camisa dos goleiros. Antigamente era comum os
“guapos” usar uniforme todo preto. O Raul (Cruzeiro) lançou moda na cor
amarela. Leão (Palmeiras) inovou na cor azul. E o nosso Waldir Peres, do São
Paulo, revolucionou na cor de rosa (foto), que para variar rendeu muitos
comentários na época. A manchete: “Agora é que eu jogo mesmo de cor-de-rosa”.
Não aceitava jamais ter recebido o “cartão vermelho”. Segundo sua irmã Aparecida
Kazue, “isto abalou sobremaneira o seu lado emocional. Foi como tivesse sido expulso
de sua própria casa, onde nasceu, cresceu e viveu toda a sua vida profissional”.
Mitsuo era casado com a Marly e o casal teve
a filha Maria Clara.