sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Recordar é Viver: `Mitsuo Sassaqui, um mestre no futebol´












Por Wanderley `Tico´ Cassolla


Conheci o Ebson Mitsuo Sassaqui, nos anos 70, quando estudamos juntos no então curso primário do Grupo Escolar Professor João Crisóstomo, o “Grupão” da Avenida Brasil, hoje Av. Dr. Rafael Paes de Barros.

O Mitsuo morava em Vila Salgueiro, eu na Colônia dos Ferroviários da Paulista, ao lado da Estação do Trem, onde fica a Incubadora de Indústria. Era comum ir e voltarmos juntos da escola. Eu já atrevia a jogar bola. O Mitsuo não, mas era um apaixonado por futebol, gostava de ouvir jogos no rádio e adorava ler jornais e revistas esportivas. E tinha uma memória invejável, guardava tudo. 

Aprovados seguimos rumos diferentes no curso secundário, mas a amizade continuou. Era comum nos encontrarmos para “discutir” futebol, jogos, resultados, escalações de times, da seleção brasileira, etc. Sobre a carreira do Pelé então, sabia tudo. Confesso que conheço do assunto, mas no bate-papo a palavra final era sempre do Mitsuo. Tinha tudo guardado na “memória”. Como diz o ditado, ele “matava a cobra e mostrava o pau”. No encontro seguinte, trazia a revista ou jornal para mostrar que estava certo. A nós só restava continuar aprendendo com o professor Mitsuo.

Hoje com a ajuda da net é fácil tirar uma dúvida. Bastar digitar no “Google”, que em segundos, tudo é esclarecido. Lembro que numa ocasião surgiu um impasse sobre a participação da Seleção Brasileira na Copa de 1.958 (Suécia). O que fizemos. Peguei a velha máquina de datilografia do meu pai Salvador e escrevi uma carta para o jornal “A Gazeta Esportiva” de São Paulo. Depois de quase um mês chegou a resposta. Nos reunimos e foi aquele alvoroço, colocamos a carta fechada na mesa. 

Coube ao Roquinho, o mais velho da turma e também entendedor do futebol, abrir e ler na íntegra. O resultado nem preciso falar, o Mitsuo estava certo.  O futebol sempre esteve no sangue do Mitsuo. Ele foi um dos primeiros garcense a assinar a revista Placar (lançada em 20/03/1.970), em homenagem a Copa do México. Aí ficou ainda mais difícil “discutir” com o mestre. A polemica surgia, no próximo encontro, vinha ele com a revista e a solução debaixo do braço. Esclarecia tudo e caía na risada.

O Mitsuo faleceu no dia 04 de novembro de 2.015 e nos deixou um exemplo de amizade, amor por Garça e sapiência no futebol. Recentemente recebi de brinde do palmeirense e concunhado Paulo de Luca, vários exemplares da revista Placar (foto), que eram da coleção dele e completei a minha. Veja a capa da número 123, de 21/07/1.972, nas mãos da filhona Giovana. Folheando algumas, raríssimas por sinal, nos deparamos com uma interessante matéria sobre a camisa dos goleiros. Antigamente era comum os “guapos” usar uniforme todo preto. O Raul (Cruzeiro) lançou moda na cor amarela. Leão (Palmeiras) inovou na cor azul. E o nosso Waldir Peres, do São Paulo, revolucionou na cor de rosa (foto), que para variar rendeu muitos comentários na época. A manchete: “Agora é que eu jogo mesmo de cor-de-rosa”.

CORAÇÃO GARCENSE: O santista Ebson Mitsuo Sassaqui nasceu em Marília, mas era garcense de coração e paixão. Ainda garoto começou a trabalhar no empório da Rodoviária, no box 8, de propriedade do Sr. Hiroshi Tsunashima. Depois virou o proprietário, trabalhando no mesmo local por quase 45 anos. Não faltava um dia sequer. Sofreu um duro golpe com a desapropriação da rodoviária, e foi um dos últimos a sair do local. As mercadorias que sobrou levou para casa e tentou dar continuidade no comércio. Não deu certo, faleceu pouco tempos depois. Amigos próximos me confidenciaram que a desapropriação por parte da Prefeitura, lhe causou aborrecimentos e revolta. 

Não aceitava jamais ter recebido o “cartão vermelho”. Segundo sua irmã Aparecida Kazue, “isto abalou sobremaneira o seu lado emocional. Foi como tivesse sido expulso de sua própria casa, onde nasceu, cresceu e viveu toda a sua vida profissional”.  Mitsuo era casado com a Marly e o casal teve a filha Maria Clara.