quarta-feira, 4 de maio de 2022

Recordar é Viver: "O craque Falcão, por toda a eternidade"

 






Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Confesso que já li este texto várias vezes. E quanto mais leio, admiro ainda mais o ex-jogador de futebol Paulo Roberto Falcão, o “Rei de Roma”, pela bela atitude, de ter ajudado o poeta Mario Quintana.  

Agora se é verdade ou não o que aconteceu, eu deixo por conta do amigo leitor. Seria um caso verídico? Ou mais um “conto” espalhado na net. O leitor que tire sua conclusão.

Mas partindo do abelardo-lusense Falcão, não duvido não. Um dos maiores volantes da história do futebol brasileiro, jaqueta 5, numa carreira de sucesso no Internacional (Porto Alegre), Roma, São Paulo e Seleção Brasileira. Dominava muito bem os três itens básico de um atleta: domínio da bola, controle e finalização. Um jogador diferenciado, muito a frente do seu tempo, dentro e fora dos gramados.  

Quem sempre me falava dele era o ex-goleiro Waldir Peres: “Tico, no futebol fiz muitos amigos. Mais o melhor de todos, o mais leal, foi o Falcão (ex-Internacional). Uma pessoa de uma sutileza, de um caráter fora do comum. Vivenciei uma época com grandes e consagrados jogadores, mas como o Falcão não tem. Jogamos juntos na Seleção Brasileira, na Copa de 1.982. Desde então, nos tratávamos como verdadeiros irmãos. Uma prova: Quando o Falcão lançou o seu livro: `Brasil, o time que perdeu a Copa e conquistou o mundo´ fui um dos convidados e prazerosamente estive presente." 

Mas vamos ao “conto” do médico e escritor pernambucano Roberto Vieira, onde relata que no ano de 1.983, o poeta Mário Quintana estaria “desempregado, sem dinheiro e que teria sido expulso do Hotel Majestic”, em Porto Alegre.

“O Hotel Majestic colocou Mário Quintana no olho da rua. A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta. Mário não se casou e não tinha filhos.

Estava só, falido, desesperançoso e sem ter para onde ir. O porteiro do hotel, jogou na calçada um agasalho de Mário, que tinha ficado no quarto, e disse com frieza: "- Toma, velho, derrotado", recitou o porteiro. A poesia não se entrega a quem a define. Mário estava só. Absolutamente só. Onde estavam os passarinhos?

A sarjeta aguardava o ancião. Alguém, como Mário Quintana, jogado à própria sorte. Paulo Roberto Falcão, que jogava na Roma, à época, estava de férias em sua cidade natal e soube do acontecido.

Imediatamente se dirigiu ao hotel e observou aquela cena absurda. Triste, Mário chorava. O craque estacionou seu carro, caminhou até o poeta e indagou: “Sr. Quintana, o que está acontecendo”?

Mário ergueu os olhos e enxugou as lágrimas - daquelas que insistem em povoar os olhos dos poetas - e, reconhecendo o craque, lhe disse: “Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia”.

Mário explicou a Falcão que todo seu dinheiro acabara, que tudo o que possuía não era suficiente para pagar sequer uma diária do hotel. Seus bens se resumiam apenas às malas depositadas na calçada.

De súbito, Falcão colocou a bagagem em seu carro, no mais completo silêncio. E, em silencio, abriu a porta para Mário e o convidou a sentar-se no banco do carona.

Manobrou e estacionou na garagem de um outro hotel, o pomposo Royal. Desceu as malas. Chamou o gerente e lhe disse: "O Sr. Mário Quintana agora é meu hóspede" "Por quanto tempo, Sr. Falcão?" indagou o funcionário. O jogador observou o olhar tímido e surpreso do poeta e, enquanto o abraçava, comovido, respondeu: “Por toda a eternidade”. O Hotel Royal pertencia ao jogador. O poeta Mário de Miranda Quintana nasceu em Alegrete/RS, no dia 30 de julho de 1.906 e faleceu no dia 5 de maio de 1.994.

Por isto serei sempre fã deste jogador, o lendário Paulo Roberto Falcão !!!