Por Wanderley `Tico´ Cassolla
Nos anos 70 o transporte do time
do Garça era por conta da Prefeitura, que cedia o ônibus para levar a
“boleirada” nos jogos em outra cidades. Outrora o poder público ajudava (e
muito) na manutenção do futebol profissional. Os tempos mudaram e hoje isto é
praticamente impossível.
As viagens eram longas,
estradas ruins, algumas vezes até de terra. Jogar em Guaíra, Presidente
Epitácio, Riolândia era uma aventura. Em algumas oportunidades, quando o ônibus
quebrava, a delegação ia de peruas Kombis. Imagina encarar uns 350 Kms sentados
numa “kombosa”? A saída era de manhã e chegava praticamente na hora do jogo. Em
algumas oportunidades, os jogadores se trocavam dentro do ônibus, desciam e já entravam
em campo.
O ônibus era meio antigo, e
foi carinhosamente apelidado de “rasga roupa”, pois quando passava dos 80,
entrava um vento danado. Quando chovia, entrava água para tudo quanto é lado.
Lembro de dois motoristas
que transportavam o Garça: O Laurindo e o Benedito Martins, ou “Dito Ford”, que
cansaram de levar o “time nas costas”, quer dizer no ônibus. O Laurindão, com seu cigarrão de
palha, sempre sério, ganhou o apelido de
“Laurindão linha reta”. Tudo porque gostava
de usar uma “banguela”, era “pé pesado”, e mandava ver, corria muito.
Já o Dito Martins era mais
querido pela “boleirada”. Um papo agradável e também um torcedor fervoroso. Para
provocar os jogadores fazia apostas com eles. Com os atacantes, se fizer um gol, pago uma cerveja. Para os zagueiros e
goleiros, nada de deixar a bola passar, que ganha um refrigerante. Como o time
do Garça não era lá grande coisa, dificilmente o Dito Martins pagava suas
apostas.
Mas não perdia o bom humor,
na vitória ou na derrota, estava sempre firme no volante. E aguentando a
gozação dos jogadores mais velhos. As
melhores tiradas eram do Ari Lima, que queria voltar rápido pra Garça: “Vamos
Dito, pisa fundo no acelerador, que tem uma tartaruga apodando o ônibus”. O
Pedroso era outro”: “ Pô Dito, na próxima semana vamos trazer a lanterna do Garça do campeonato para ajudar
os faróis do ônibus que não clareiam nada”. Já o Osmar Silvestre disparava: “O
motoca, o volante do ônibus é 10 vezes melhor que o volante do Garça”. E quando
o ônibus chegava numa subida, o Davi chegava e falava: “Dito abre a porta, que
eu vou a pé, espero vocês lá em cima”.
Agora quando o Dito ultrapassava
outro veículo, recebia uma salva de palmas, e dava sonoras gargalhadas. Não perdia
o bom humor, na vitória ou na derrota, sempre firme no volante. Aceitava tudo numa
boa, e as viagens transcorriam tranquilas e num clima agradável. Tão tranqüila,
que numa ocasião, o ônibus parou para lanchar, e o Cláudio Belon, ficou esquecido
no restaurante. Pegou carona e veio de carro.
Hoje a coluna faz uma
homenagem mais que merecida ao Benedito Martins, excelente profissional do
volante, que nesta semana completou 80 anos de vida, com muita saúde e alegria.
Nos flagrantes comemorando o aniversário junto de seus familiares. Na outra
foto o “busão” do Garça, saindo para mais um jogo no ano de 1978, com os
jogadores elegantemente vestidos: na janela, está o Bertoza, depois Tico e
Bião. Em pé da esquerda para direita: Du, Túlio Calegaro, Mário Lúcio, Tonho
Nego, Serginho Cabeça, Carlão e Ditinho (agachado). Fonte: Jornal Comarca de Garça