sexta-feira, 3 de março de 2023

Recordar é Viver: "Ditinho Marcola, um volante clássico"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Ele pode ser considerado um dos melhores meio-campistas da várzea garcense nas décadas de 70/80. Estamos falando do Benedito dos Santos, mais conhecido por “Ditinho Marcola”. Um apelido que ele tem orgulho de falar. Sabe porque? Tudo por causa do pai, o Sr. Marcolino dos Santos, mais conhecido por “Marcola”, que o filho acabou herdando. Aliás, o Sr. Marcola era o mais fiel torcedor do filho. Não perdia um jogo sequer. Era presença constante em todos os jogos, sempre bem vestido, na maioria das vezes, trajando calça de linho e camisa de manga comprida.

Garcense de nascimento, da zona rural, com raízes na Fazenda Santana do Pereira Leite, foi lá que o Ditinho Marcola começou a jogar bola. O trabalho duro na roça não o impedia de, nos finais de semana, fazer aquilo que mais gostava: estar em um campo de futebol. Quando não defendia o time da fazenda, era “chamado” para jogar na Fazenda São Francisco, que ficava próxima. Depois chegou a vestir a camisa da Vera Café, de Vera Cruz. Em Garça o primeiro time foi o tradicional Rebelo, que montou um bom esquadrão.

O futebol do Ditinho foi crescendo, se destacando como meia esquerda, apesar de ser destro. Mas por obra do destino, passou a jogar como volante, também conhecido como “cabeça de área”, jaqueta 5, no melhor estilo marcador. E se deu bem, graças ao preparo físico e fôlego para correr no meio de campo os 90 minutos. Tinha um futebol clássico, diferentemente dos demais jogadores da época, que só sabiam defender. Jogava de cabeça erguida, como se fosse “de terno”, com ótima visão de campo. Guardadas as devidas proporções, seu futebol era parecido com o do Paulo Roberto Falcão, craque do Internacional de Porto Alegre, do São Paulo FC, da Seleção Brasileira (Copa de 1982), e também considerado o “Rei de Roma”.

Sem falar que o Ditinho era uma liderança em campo, procurando orientar os colegas na movimentação em campo. Disciplina era o seu lema. Nunca recebeu um cartão amarelo ou vermelho.

No ano de 1974 recebeu o convite do Edgar Alves de Souza, para jogar na Casa Ipiranga, equipe comandada por Pedro Alves Netto e Gerson Pereira Ramos. Com isto conseguiu emprego no Café São João. Naquele mesmo ano, a Casa Ipiranga conquistava o primeiro título no Campeonato Amador, ao bater na final, o SASP. Veja umas formações da Casa Ipiranga daquela temporada. Em pé da esquerda para direita: Gérson Ramos (dirigente), Osvaldinho, Tico Venuto, Dionísio, Ditinho Marcola, Geraldo, Amadeu, Mário Campos Novos, Fontes e Toninho (dirigente); agachados: Casinha, Tiãozinho, Noriva, Zé Carlos, Chiró Konda, Codonho e Edílio.

No ano seguinte foi para o Frigus, convidado pelo dirigente Mazinho, para jogar e trabalhar no frigorífico. De quebra, foi bicampeão amador, numa difícil final contra o Ipiranga, definida na cobrança de penalidades máximas.

Veja o Frigus, posando com a faixa de campeão. Em pé da esquerda para direita: Zezão Marchello, Ditinho Marcola, Duzão Pessoa, Nenê, Rogério Guanaes, Betão, Polaco e Juvenal “Barbeiro” (treinador); agachados: Natal, Spigolon, Tonho Nêgo, Natalino e Vardinho.

Nesta mesma época, como tinha um horário de trabalho diferenciado, sempre que estava de folga, treinava com o Garça. Foi onde aprendeu jogar como um verdadeiro volante. Tudo graças aos ensinamentos do técnico Valeriano, e dos jogadores do “cascudo” nos treinamentos coletivos, em especial da dupla de zaga formada por Goiano e Coquinho. Era páreo duro marcar os atacantes do Garça, onde tinha o Osmar Silvestre, Toninho Bodini, Rogerinho, Cláudio Belon, Grilo, Itamar Belasalma e Davi. Encarava esta feras sem problemas, com isto recebeu convite para jogar no Garça, mas optou pelo emprego no FRIGUS.

Com o fechamento do Frigus, e por falta de trabalho em Garça, nos idos de 1983, arrumou emprego no Frigorífico Mondelli, em Bauru. Viajou de trem por cerca de sete anos, saindo de Garça às 6 horas e chegando às 21 horas. Com isto ficou difícil continuar jogando bola. No ano de 1990 mudou definitivamente para Bauru, de onde não saiu mais.

Dos tempos de Garça, o Ditinho Marcola lembra com saudades dos grandes times da época: Serenata, que também teve o privilégio de jogar, do Ipiranga, Casa Ipiranga, SASP, Araceli, Transribas, e, logicamente, do Frigus.

Também recorda dos bons jogadores que enfrentou na várzea, que hoje jogariam em qualquer time grande: Dominguinhos, Inocêncio “Rabudinho”, Chiró Konda, Túlio Calegaro, Polaco, Dionísio, Zirtinho, Sarará, Clecinho, Tico goleiro, Tonho Nêgo, Chico Ramalho e Toninho Marques e vários outros.  

Como um bom amante do futebol, seu ídolo do futebol é o Pelé, dos áureos tempos do Santos FC.

Próximo de completar 73 anos, o Ditinho Marcola continua acompanhando o futebol. Mas não com aquele mesmo entusiasmo de antigamente, até porque o futebol de hoje, segundo ele, mudou muito. Sobra muita força física e pouca técnica, falta até mesmo aquele jogador líder, como eram os capitães de antigamente.

Atualmente o Ditinho Marcola, está curtindo a aposentadoria, ao lado da esposa Geni (foto) e do filho Leandro. Sem falar dos amados e “peraltas” netos, a Maria Fernanda e o Theodoro.  Até mesmo o seu casamento teve uma ligação com o futebol. Um dos padrinhos foi o sr. Juvenal Hilário do Nascimento, o melhor técnico que conheceu. Ele sabia como ninguém armar o time para ganhar, e também fechar do meio de campo para trás para não tomar gol. O Juvenal “Barbeiro” era um verdadeiro estrategista do futebol.