sexta-feira, 16 de junho de 2023

Recordar é Viver: "Kussumoto `A´, campeão com gol polêmico"

 


Wanderley `Tico´ Cassolla

No ano de 1983 aconteceu mais uma competição do futebol suíço na cidade. Para mim foi um torneio que serviu para inaugurar os novos campos de terra do Jardim Centenário. O grande campeão foi o timaço do Kussumoto “A”, que na final, ganhou do Salão Carter, por 1 a 0, com gol polêmico, anotado pelo irmão Rôla Cassola. O campeão do municipal foi o Independente, aliás, bicampeão, repetindo o feito de 1982.

Na época, o futebol suíço estava em ascensão, muitos times surgindo, e só existia os campos atrás do Hospital São Lucas. Então foram construídos mais quatros:  um campo na saída de Garça para Marilia, onde hoje está instalado a Fábrica de Macarrão Paulista - campo da Padaria Estrela -; o outro na Vila Manolo, do Independente, em frente do Destacamento da Policia Militar; e mais dois no Jardim Centenário para o Salão Carter e o Bradesco.

Quem organizava os campeonatos era o esportista Galdino de Almeida Barros, o popular Duca, sempre contando com a nossa colaboração e do Túlio Calegaro. Uma coisa é certa, aos domingos de manhã, a poeira levantava nos quatro cantos da cidade. Grandes jogos, com grandes times: Liderfarma, Alfa, Eletrônica, Padaria Estrela, Kussumoto “A” e Kussumoto “B”, Salão Líder, Salão Carter, Independente, Auto Mecânica Garça, Fitotécnica, dentre outros.

Depois dos jogos da fase de classificação e `mata-mata´, ficaram para a final o Kussumoto “A” e Salão Carter, dois gigantes da modalidade.

Durante a semana, o Galdino reuniu no Expresso Alta Zona da Mata, seu local de trabalho, os representantes das equipes, para traçar os planos para a final. Ficou definido que a decisão seria realizada no Campo do Salão Carter. Como novidade haveria dois bandeirinhas. Em comum acordo decidiram que o juizão seria este articulista, auxiliado pelo Sr. Ranulfo e o Sorocaba. Vixe, eu estava presente na reunião, e deu até aquele frio na barriga! Comandar a decisão e com meu irmão jogando. Mas durante o campeonato, quando faltava juiz, por algum motivo, o Galdino sempre me escalava e eu apitava sem problemas. Hora de encarar o desafio. Até porque eu estava por dentro das regras e também em grande forma física. Até com mais tranquilidade, pois contaria com a ajuda de dois auxiliares, que só marcariam saídas de bola de campo ou dúvidas que porventura viessem acontecer em lance de gol.

Afinal estava marcada para às 9 horas, e de fato, começou no horário, digamos, dentro dum padrão FIFA. O Galdino sempre acompanhava de perto os jogos, e era rigoroso com horário, disciplina dos jogadores e dos times.

Frente a frente, Kussomoto “A” x Salão Carter. Quem vencesse seria o campeão. No caso de empate, prorrogação e pênaltis. Olha que foi um jogão, bem disputado, com duas equipes boas tecnicamente e disciplinadas. Foram só três cartões amarelos, por lances de anti-jogo, nenhuma pancada.  

Primeiro tempo empate em 0 a 0, poucas chances de gols criados. No segundo tempo, os times aprontaram uma correia danada, na busca da vitória. Por volta dos trinta e cinco minutos, o Salão Carter era só ataque, estava melhor no jogo e pressionando o adversário. Num lance de escanteio favorável ao Salão Carter, a bola sobra para o central Goiano, do Kussumoto “A”, que dá um chutão para frente. A bola sobe e cai um pouco da frente da linha do meio do campo. Na disputa vem o zagueirão Miltinho Palmeirense (Salão Carter) e o Rôla. O choque entre os dois acontece. A bola espirra e sobra para atacante do Kussumoto “A” na frente, que parte para o gol. Na saída do goleiro Tonho, toca com tranquilidade para a rede: 1 a 0. O time do Salão Carter parte para cima de nós alegando mão do Rôla, na disputa da bola. Como foi um lance rápido, que aconteceu próximo ao auxiliar Ranulfo, de imediato fui consultá-lo. De forma resoluta, afirmou que a jogada foi normal, a bola não bateu na mão. Não restou alternativa, senão validar o gol. Um lance difícil e polêmico, que confesso não vi mão na bola, pois não estava próximo do lance. Se fosse hoje, teríamos o VAR para definir. Depois, com mais cinco minutos de jogo e mais três de acréscimos, o Kussumoto “A” fechou tudo na defesa, suportou a pressão, garantindo a vitória e o título, de forma merecida.



Recordamos uma das formações do Kussumoto “A”. Em pé, da esquerda para direita: Goiano, Ronier, Laércio, Zé Bituca, Zequinha, Tim e Faneco; agachados: Ridê, Valdir, Rôla, Zé Bicha e Manflin “Pratinha”. E também o aguerrido time do Salão Carter. Em pé, da esquerda para direita: Camacho (treinador), Gervásio, Cidão, Miltinho Palmeirense, Tonho Goleiro, Valter, Hélio e Bertinho; agachados: Pedroso, Túlio Calegaro, Decika, Tonho, Chumbrega e Ari Lima, que terminou como artilheiro da competição.

Passados quarenta anos, conversei esta semana com o Miltinho Palmeirense sobre o jogo e o polêmico gol. Segundo Miltinho, a bola bateu mesmo na mão do Rôla. Disse que ele era um jogador difícil de marcar, experiente e sabia proteger bem a bola. Só eu mesmo que estava perto, na disputa da jogada, vi que ele malandramente, deu um leve toque com a mão na bola. Senão eu travaria a bola, ele passaria reto. Hoje fico com a palavra do Miltinho, que na foto está ao lado do atacante Rôla.

Para confirmar ou não a mão na bola, eu teria que ouvir o outro lado, que participou do lance. Mas infelizmente não será possível. O meu irmão Luiz Antonio Cassola, o Rôla, faleceu no dia 30 de abril de 2018, aos 70 anos, vitimado por um infarto fulminante, enquanto fazia a sua caminhada diária. Com certeza falaria a verdade, pois sempre foi correto e honesto em suas decisões.

Para mim ele foi o “craque de bola” da família dos Cassola. Um meio campista habilidoso, exímio cobrador de faltas, e ótimo jogando futebol de salão. Lembro que no ano de 1972, me presenteou com o primeiro par de chuteiras, da marca “Gaeta”, a melhor da época. Até então não tinha um par, e jogava com a chuteira “Drible estrela”, emprestada pelos saudosos Claudião Parisiani ou Ademir Martinelli, os craques do Ipiranga. Ele também ensinou a seguir um melhor caminho, sempre com retidão, fora dos gramados. Foi meu verdadeiro ídolo no futebol. Que Deus o tenha, Toninho !!!