sexta-feira, 9 de junho de 2023

Recordar é Viver: "Tião Silva, o mascote mais carismático do GFC"



Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Ele foi um dos mascotes mais carismáticos do Garça nos anos 80. Estamos falando de Sebastião Bento da Silva, ou simplesmente, Tião “Mascote” para alguns, ou Tião “Cartão” para outros. Uma figura bastante popular em nossa cidade, amante do futebol e corintiano de coração.

Na semana passada encontramos o Tião, próximo da Igreja Matriz, logo me parou e perguntou: “O Tico, e o Garça vai voltar?  Estou querendo ser mascote de novo”. De imediato respondi: “Tião, melhor você ser mascote de outra equipe, porque o Garça dificilmente retornará. Havia até uma esperança, mas que não deu certo. A Câmara Municipal aprovou um projeto de lei, regulamentando a concessão do “Platzeck” e do alojamento na Rua Maria Izabel, nº 398, através de um chamamento público, onde saiu vencedor o Garça Atlético Clube. Só que a bola não rolou redondinha, e o contrato foi rescindido no último dia 31 de março. Tudo voltou na estaca zero”. 

Como eu sempre comento. Somente um golpe de sorte (investidor) para a cidade ter novamente futebol profissional. Ou como sempre me fala o palmeirense Paulinho Santana, lá de São Paulo: “É mais fácil reabrir o Frigus do que liberar o campo e o “Azulão” voltar”. De outro lado, numa resenha no começo da semana, recebi a informação de uma fonte forte, de que o “Platzeck” deverá ser desinterditado pela Prefeitura até a metade do próximo ano. Neste pacote entra também o Ginásio Wilson Martini. Vamos aguardar e torcer.


Então falei pro Tião: "É melhor você arrumar um time do futebol suíço para ser mascote”. Ele respondeu: “Meu negócio é ser mascote do Garça. Vou tratar de me aposentar. Deu um sorriso, se despediu”. Seguiu seu caminho perambulando pelas ruas da cidade.


Este é o Tião, nascido em Pirajuí, próximo de completar 60 anos no final do ano, filho do Sr. Oscar Bento da Silva e Dona Odete da Silva, juntamente com mais seis irmãos. Segundo sua irmã Rozeli, o Tião nasceu com uma deficiência mental, leva sua vida dentro de uma normalidade, sempre com cuidados médicos. É um irmão todo especial. Na infância falava que queria ser um policial militar, para botar ordem na cidade. Tanto é verdade que um dos seus grandes amigos foi o saudoso Dr. Waldir Tramontini (foto), que ele tanto admirava e considerava o melhor delegado de polícia de Garça. Era comum na beira dos campos, o Tião tirar o cartão vermelho e dar para uma pessoa qualquer, e já falava “Eu te expulso aqui, e o meu amigo o Dr. Tramontini vai te prender lá na delegacia, num vem não”.

O Tião, em seu mundo, segue uma rotina bem pontual. Levanta cedo, toma café, e sai para o cidade, entre 7 e 8 horas. A sua primeira parada é próxima ao Fórum, e ao lado da escola “Monsenhor Antonio Magliano/CEI”.

Lá fica por várias horas. Com o tempo, passou a ter livre acesso na casa de lei, fez amizade com os empregados e frequentadores do Fórum, em especial com os juízes de direito, Dr. Paini e Gilberto e também com o promotor Dr. André.

Depois dali segue em direção à Praça Presidente Tancredo Neves. Chega agitando o pessoal que está jogando baralho. Um tempinho ali, e vai para o ponto de taxi, em frente ao Supermercado Toyota. Outra parada obrigatória, para ver o movimento no centro da cidade, e rever o taxista e amigo Cidinho. O relógio da torre, já marca perto do meio dia. Hora de retornar para casa na Rua São Carlos, almoçar e descansar.



No dia seguinte, a rotina recomeça, sempre com o mesmo itinerário. A memória não é a mesma de antigamente, o Tião está virando um “sessentão”. Mesmo assim, me falou que tem muitos amigos na cidade. Alguns são especiais, marcaram sua vida, e faz questão de falar do ex-prefeito Julinho, o Biga Marangão (foto) e o Garrincha (foto), que foi diretor da SEJEL. Todos já falecidos, mas que continuam ainda vivos em sua memória.

Recordamos uma da formações do Garça, da temporada de 1986, com o Tião posando de mascote. Em pé, da esquerda para direita: Wellington Moreira (dirigente), Dimas, Mamela, Pedro Paulo, Pilão, Dinho Parreira, Washington Cateto (dirigente), Cornélio de Moura (presidente) e Luiz Lopes (dirigente); agachados: Reginaldo “Linguiça”, Taruguinho, Gil, Vidoti, Magu, Carlos Hansem e Tião Mascote.

HISTÓRIAS DO TIÃO: Nada melhor do que os próprios ex-jogadores do Garça, falarem um pouco do mascote Tião. Segundo o zagueirão e xerifão Pilão, hoje morando em Paraguaçu Paulista, o Tião fazia parte do time. Estava todos os dias no campo, de manhã e a tarde. Ele não via a hora de ir almoçar e jantar com a gente no hotel do Sr. Jorge Bez. E era bom de garfo, sempre repetia o prato.

O ex-centroavante Geraldo Manteiga, atualmente, residindo em São Paulo, numa ocasião, trouxe uma camisa oficial de árbitro de futebol de São Paulo e deu de presente para o Tião. Ele vestiu e ficou todo feliz. Dificilmente tirava a camisa. Aí arrumaram um cartão amarelo e vermelho para ele. Era só chegar perto, que já tirava do bolso, mostrava o cartão vermelho, e falava “Vai embora, tá expulso”.

O ex-meia João Luiz, morando lá em Taquaritinga, fala do Tião com bastante saudades. "Joguei em muitos times no interior paulista, mas o Tião foi o mascote que mais marcou minha carreira. Ele não gostava de tomar banho não. A gente arrumava sabonete e falava. “Ei Tião! Tem que tomar banho, senão tá expulso daqui e não vai “papar” com nós. Rapidinho entrava debaixo do chuveiro."

E o ex-zagueiro Dinho Parreira, comentou: “O Tião era muito querido por todos os jogadores. A sua missão, graças às ordens do Canhoto, era dar cartão vermelho para quem chegasse atrasado nos treinamentos da semana. Ele não titubeava e mostrava assim que o “atrasaldino” pisava no gramado.

Como bem escreveu a Ana Maria Prande, a Dona Geo, em artigo publicado anteriormente: “Tião, eu sei que sua vida neste mundo não é senão uma parcela ínfima observável, mas ao mesmo tempo, eu sei que ela esconde uma significação profunda. O meu olhar nunca será bastante largo para compreender o profundo do seu ser. Obrigada Tião, por me permitir fugir dos preconceitos e julgamentos morais. Você convive com o pessoal da escola (ETE MAM), os alunos, professores e funcionários, ora com muito sofrimento, ora com muita alegria, uma história permitindo que nós fossemos lhe descobrindo e aprendendo a lidar com suas fantasias e ao mesmo tempo nos ensinando a viver com sua diferença”.