sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Recordar é Viver: "Ruy Pinheiro, eterna gratidão"

 


Por Wanderley `Marcos´ Cassolla

No último dia 22 de agosto a cidade foi abalada com a triste notícia do falecimento do professor Ruy Pinheiro Rodrigues. Garça perdeu um grande esportista, daqueles que jamais poderão ser esquecidos, pois ele contribuiu sobremaneira para o engrandecimento do nosso esporte. Além de atleta amador e profissional, foi professor de educação física, presidente da CCE/Comissão Central de Esportes (hoje SEJEL) e promoveu muitas competições dos anos 70 para cá.  

O Ruy Pinheiro foi sinônimo de esporte. Ele viveu 24 horas por dia fazendo aquilo que mais gostava. Quantas e quantas gerações passaram com ele, foram seus alunos, num aprendizado que jamais será esquecido. Muitos dos que estão lendo a coluna, tem uma bonita história para contar, da época de aprendizado com o mestre Ruy Pinheiro. Este colunista tem várias. Mas uma em especial, que foi recordada pelo corintiano José Aparecido Soares (abaixo), o conhecido Zé Branco. Confesso que já nem lembrava mais. Afinal de contas já se passaram exatos 53 anos, e nossa memória não é a mesma de antigamente. Porém, nós só podemos dizer uma coisa: ao professor Ruy Pinheiro, nossa eterna gratidão.  No flagrante, veja o professor Ruy Pinheiro, ao lado do palmeirense Edson Marques e do inseparável amigo, Ditinho “treinador de goleiros”.

DENTE DE LEITE: O ano é de 1970. O Brasil vivia uma efervescência com o futebol, graças a Seleção Brasileira, que conquistou o tri-campeonato mundial no México. Neste embalo, a Rádio Dirceu de Marilia promoveu um campeonato de futebol, em nível regional,. na categoria dente de leite. Rapidamente o professor Ruy Pinheiro, que na época era do Garça Tênis Clube, resolveu participar. Primeiramente organizou um torneio no campo de pelada do GTC. Para isto “convidou” alguns garotos não sócios para disputar. Daí fez uma seleção e inscreveu o time no regional de Marília. E que time o Ruy montou, uma garotada boa de bola, que fez bonito, faturando o título de campeão. No campeonato haviam times da cidade de Marilia, além do Maquinho, de Vera Cruz, de Ocauçu, dentre outros. A maioria dos jogos eram realizados em Marília, outros em Vera Cruz. Em Garça não sei por qual motivo, não aconteceram.  

Depois de várias disputas, entre turno e returno, a decisão ficou entre Marília, representado pelo Maquinho x Garça, através do Garça Tênis Clube.

TROFÉU x CALÇA: A final foi emocionante, disputada no Estádio “Abreuzão”, numa tarde de sábado, debaixo de muita chuva, gramado encharcado. Logicamente a torcida no campo era toda a favor do Maquinho. Nos vestiários o professor Ruy Pinheiro falou: “Primeiramente vocês chegaram aqui porque mereceram. No campeonato não tivemos nenhuma expulsão. Já ganhamos um troféu. Hoje vamos ganhar o outro. De novo sem expulsão, somente jogando bola”. Este era o lema dele “disciplina acima de tudo, não importa o resultado”. Assim como deu um recado especial para o nosso volante, Zé Branco: “A sua missão é marcar o Jorginho Putinatti, o craque do time deles”. Isto mesmo. No Marília, comandado pelo experiente técnico Pupo “Cocó” Gimenes, o principal destaque era Jorginho Putinatti, que apesar de ser mais jovem, já despontava como um jogador diferenciado no futebol. O tempo de jogo era menor, 30 por 30 minutos. E foi um jogão de bola. Nosso goleiro era o Dionísio Ribeiro, que felizmente estava numa jornada feliz. Pegou tudo “até pensamento”. Principalmente os escanteios cobrados pelo Jorginho Putinatti, verdadeiro perigo de gol, seja pelo lado esquerdo ou direito. O juiz foi o conhecido e bom “Negadinha”, irmão do Sr. Pupo Gimenes.

O jogo estava indo pra prorrogação, o placar apontava 0 a 0. Até que o Zé Branco desarmou uma jogada do Marilia, e recuou a bola para o goleiro Dionísio, num lance normal para a época. O Dionísio, que tinha um portentoso chute com a perna esquerda, avançou e chutou a bola no alto, “o balão subiu”.  Eu lá na frente, pressenti que se ela batesse no gramado espirraria, o beque não iria rebater. Não deu outra. A bola foi para a entrada da grande área. Eu na velocidade aproximei e com um leve toque encobri o goleiro. A bola, caprichosamente, bate no travessão, e estufa as redes. Comemoração geral. Lembro que olhei para a beira do gramado, o Rui Pinheiro pulava, jogando o seu tradicional chapéu para o alto. Na soltura, o juiz apita o fim de jogo. Garça campeão.

Na solenidade de premiação, o melhor jogador em campo ganhava um “corte de tecido, para fazer uma calça”, oferta da Dille Confecções, loja do Sr. Leandro Presumido, diretor do MAC.

De Garça os indicados foram este colunista e o Zé Branco. Não me recordo os dois melhores do Marilia. Com isto a equipe da Rádio Dirceu de Marilia, que transmitiu vários jogos do campeonato, apontaria o melhor em campo. Fomos o escolhido, pelo fato de ter marcado o gol do título. Assim que foi anunciado, o professor Ruy Pinheiro nos ergueu em seus braços, gritando todo feliz, pelo gramado do Abreuzão “Fomos campeões e tivemos o melhor jogador em campo”. Nos vestiários um abraço e um beijo em cada garoto. Na saída do estádio, o time montou numa perua Kombi, o Ruy na frente com seu possante, um Volkswagem SP-2, puxando a fila e buzinando nas ruas de Marilia.

Na chegada em Garça, mais comemoração e buzinaço até o Tênis Clube. Dali cada um seguiu a pé para sua casa. Sonhando em ser um jogador de futebol lá frente.



Uma passagem que jamais esqueceremos, assim como todos os jogadores campeões.  Creio, também, que foi um dos mais importantes na carreira do técnico Ruy Pinheiro. Veja as fichas de identidade dos “jovens jogadores”: Dionísio Ribeiro, Júlio Cavalari (já falecido), Adão, João Carlos, Valceque, Antonio Carlos “Navarro”, José Aparecido “Zé Branco” e Paulo Chieco.

Recordamos uma das formações do time dente de leite. Em pé da esquerda para direita: Marquito Bertone, Ridê (falecido), Mauro, Fabrão, Alcir, Niltinho e Rui Pinheiro (treinador); agachados: Leomar "Bolinha", João Carlos Gomes, Davi Cavalari (falecido), Lu Moisés e Ricardinho Camargo.

De outro lado chegamos em casa todo feliz, com o prêmio na mão. Na segunda feira meu saudoso pai Salvador, nos levou até o Sr. Guerino Alfaiate, para fazer uma calça. Chegando lá falou: “Meu filho ganhou este corte de tecido jogando bola em Marilia, porque marcou um gol. De pronto o Sr. Guerino respondeu: “Então vou fazer a calça e não cobrar nada”. Minha eterna gratidão ao Sr. Guerino Alfaiate e em especial ao mestre Ruy Pinheiro”.

Veja no flagrante, o encontro depois de 53 anos, dos campões em Marilia em 1970:  Tico Cassolla, Soares “Zé Branco” e Dionísio Ribeiro, estes dois estão na ficha de inscrições, onde recordaram momentos que jamais serão esquecidos.