sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Recordar é Viver: "México/70, uma Copa inesquecível"

 


Por Wanderley `Tico´ Cassolla

Depois do fiasco do seleção brasileira no Catar, só nos resta agora aguardar a próxima Copa em 2.026. O sonho do “hexa” continua. Até porque somos brasileiros, apaixonados pelo futebol, e jamais desistiremos. Se bem que cada vez está ficando mais difícil. O tempo passou, os adversários, principalmente do continente europeu, se organizaram tecnicamente e fisicamente, o Brasil ficou para trás. Hoje somos uma “série b” no cenário futebolístico mundial. O futebol brasileiro precisa de um “choque”, seja na parte diretiva e também na mentalidade dos jogadores.

Voltando aos tempos de glórias, quando o Brasil impunha respeito, uma Copa foi a que mais marcou este articulista. Pra falar a verdade, inesquecível. No México em 1.970, quando o Brasil conquistou o tri-campeonato mundial. Para mim é a melhor seleção de futebol de todos os tempos. Dificilmente surgirá uma outra igual. 

COPA NO MÉXICO/70: O técnico Zagalo levou uma verdadeira seleção de gênios da bola, que fizeram bonito nos gramados mexicanos. O time base: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino. O que falar de uma seleção, onde cinco jogadores eram os camisas 10 em seus clubes: Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino. Foram seis jogos e seis vitórias: Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia; Brasil 1 x 0 Inglaterra; Brasil 3 x 2 Romênia; Brasil 4 x 2 Peru; Brasil 3 x 1 Uruguai e Brasil 4 x 1 Itália. Veja o time do Brasil que enfrentou a Romênia, no dia 10 de junho de 1970. Em pé da esquerda para direita: Carlos Alberto, Brito, Fontana, Piazza, Félix e Everaldo; agachados: Jairzinho Clodoaldo, Tostão, Pelé e Paulo Cézar Caju (Foto: CBF). A seleção de 70 inspirou tanto este articulista, que disputei o Campeonato Municipal de Futebol de Mesa (ou botão) usando as vidrilhas com os jogadores tri-campeões mundiais (foto). E fazendo bonito: três anos seguidos, terminando como vice-campeão da temporada, superado apenas pelo corintiano Cassiano Pelegrini, o “Pelé, do botonismo garcense”.


“SEO” ALVARENGA GANHA O BOLÃO: A Copa de 70 foi a primeira transmitida pela televisão com jogos ao vivo para todo o mundo. Lembro que na época morávamos na colônia dos empregados da extinta Cia Paulista de Estradas de Ferro. Se fosse hoje seria praticamente ao lado da Incubadora de Empresas. Na colônia tinha umas 20 casas e uma garotada na faixa dos 10 aos 15 anos, começando a gostar do futebol. Eu, logicamente, estava no meio deles. Pois bem, na época nem todos podiam comprar uma televisão para casa. Antes da Copa começar, somente o chefe da estação, o “seo” Prado tinha um aparelho. Até que a dona Zenaide, que morava na casa nº 8, pediu e o marido Arnaldo Alvarenga (foto) comprou uma televisão novinha. A antena ficava por fora, tinha uns 15 metros de altura. Foi a alegria da garotada assistir os jogos na TV, uma novidade. Até então era só ouvir no rádio. Por falta de cadeiras, sentávamos no chão mesmo. Uma curiosidade: o casal batizou os filhos, todos começando com a letra “érre”: Rosangela, Roldney, Rosana, Reginaldo (Rejão) e Rosemeire.

Um a um, o Brasil foi atropelando os adversários. Chegou a grande final contra a temível Itália, até então invicta na Copa, depois de eliminar a Alemanha (4 a 3), num jogo dramático, decidido na prorrogação. Momentos antes de começar a decisão, o “seo” Arnaldo chega e fala pra todos ouvirem: “Cravei 4 a 1 para o Brasil contra a Itália no bolão da estação”. Foi uma surpresa entre todos. Uma goleada na Itália, difícil de acreditar neste placar. Aí a nossa torcida foi em dobro.

Waldir Peres, dna. Zenaide Alvarenga e Tico Cassolla

A dona Zenaide, grávida de um menino próximo de nascer, no comando e controlando a farra da garotada numa casa lotada. O jogo correndo, a cada gol do Brasil era uma festa só: Pelé, Gérson e Jairzinho, um gol para Itália, de Boninsegna, placar de 3 a 1. Até que, faltando 4 minutos, o Brasil depois de 22 toques na bola, fez o inacreditável quarto gol por intermédio de Carlos Alberto. Confesso que nem vi direito. Só escutamos o grito do “seo” Arnaldo: “É goooooooool, falei que ia ganhar o bolão”. Não teve quem não pulou, abraçando o feliz anfitrião. Depois, a espera pro apito final, foi um tanto quanto demorada e tensa. Até que o árbitro alemão, Rudi Glockner, ergueu os braços e encerrou o jogo. A festa foi geral. Ficamos até divididos na alegria, se foi pela vitória do Brasil ou pela alegria do “seo” Arnaldo, que faturou o bolão sozinho, num valor bem atraente. Ainda um tanto quanto emocionado, ele prometeu pagar um doce para cada nós. 

No dia seguinte (22) a Dona Zenaide ganharia o Roberto Carlos (Nani), nome sugerido pela vizinha Fátima de Souza. O “seo” Arnaldo comemorando em dose dupla, chamou toda a garotada e fomos para o Bar do “seo” Hélio. Mandou fazer uma fila e pagou uma maria mole, suspiro branco/vermelho ou pé de moleque. Foi uma alegria sem fim. Promessa feita, promessa cumprida. Depois a família Alvarenga foi aumentando, com a chegada do Ronald e Renata. O “seo” Arnaldo faleceu no dia 27 de maio de 1990. Ainda hoje quando vejo o gol do Carlos Alberto na net, volto no tempo, nos meus 12 anos, num dia que ficou marcado para sempre. Bons tempos, que não voltam jamais.